Home | Novidades Revistas Nossos Livros  Links Amigos

 Educação e Inovação

(notas de conferência que o autor – conhecido escritor de livros didáticos
– tem proferido para professores de todo o Brasil)

 

Elian Alabi Lucci

 

As circunstâncias da vida no mundo de hoje sugerem – ou mesmo impõem – a atenção àquela conhecida advertência de Vigotsky: o aprendizado deve estar dirigido para o futuro e não para o passado. Nesse mesmo sentido aponta uma das mais importantes conclusões pedagógicas das pesquisas de Domenico de Masi: é preciso educar para um mundo futuro, no qual o trabalho será cada vez mais escasso. Queiramos ou não é já quase um lugar comum a constatação de que já quase não temos mais empregos, mas sim oportunidades. Jocosamente o caricaturista dispõe o chefe entrando na sala de seu funcionário: “Parabéns, Almeida, como sobrou só você é seu o prêmio ‘Empregado do ano’”.

Essas afirmações, que expressam aspectos importantes da atual conjuntura sócio-econômica remetem ao inexorável processo da famigerada globalização. A dialética globalização/pós-modernidade é marcada por três características: a velocidade, a exclusão e a inovação. Naturalmente, essas características não podem deixar de influir profundamente no processo educativo. Não há muito tempo, em minhas andanças pelo interior, pude flagrar em um pacato vilarejo o apelo do outdoor

Nele se encontram, em fórmula maximamente enxuta, aqueles três fatores: velocidade, inovação e exclusão. De fato, se atentarmos para o contexto social em que foi exposto o cartaz, verificaremos imediatamente que a imensa maioria daqueles matutos (numa região de bóias-frias...) dificilmente podem se tornar “express”...

O mais problemático, porém, é que a educação – as instâncias e as agências da educação formal –, por sua própria natureza, não pode acompanhar a vertiginosa velocidade da mídia, dos negócios etc. Boa parte da desmotivação de nossos alunos se deve a esse hiato entre a escola (sempre, em alguma medida, conservadora) e os calei-doscópicos estímulos a que estão continuamente expostos fora da sala de aula. Nesse sentido, um outro sugestivo cartaz, este extraído de Revolucionando o aprendizado:

Naturalmente, não se trata de que a escola tente competir com a mídia em tecnologia da sensação: esta seria uma batalha perdida e, além do mais, atentaria contra a própria vocação da instituição escolar, como agência de transmissão da herança cultural. Todo o problema da escola está em harmonizar, com a máxima agilidade, tradição e modernidade, saber e alegria, valores e motivação... Trata-se de - sem renunciar à sua missão, muito pelo contrário – procurar acompanhar a dinâmica do mundo atual ao mesmo tempo que oferece recursos de pensamento para uma análise crítica desse mesmo mundo. Sempre de novo, recaímos no problema de sempre: as exigências praticamente sobre-humanas que incidem sobre o professor (que, não recebe em contrapartida o menor apoio nem as mínimas condições de trabalhar com dignidade...).

                              Minha lição de casa de hoje eu fiz neste CD...

 

 

       

Se precisar de ajuda para minha lição de casa é só falar...

Se, como temos lembrado em outras conferências, “escola” deriva do grego skholé (originariamente a atitude de lazer e paz interior que propicia a reflexão), não é de estranhar que, precisamente a escola, seja o “estranho no ninho”, num mundo no qual a globalização pretende impor a velocidade alucinante como valor antropológico. E que o “distanciamento” da skholé acabe por ser uma das únicas instâncias em que esse processo vertiginoso possa ser questionado.

 

“Calma, gente” é o título do sugestivo artigo de Ivan Angelo na revista Veja-SP (10-09-03), no qual o jornalista questiona, o imperativo da pressa que nos é imposto de diversos modos,  : “O que é que se faz com o tempo ganho com a pressa?”. Somente a educação, o cultivo do saber, é que pode dar resposta adequada a essa indagação...

Um dos mais inquietantes e sugestivos questionamentos do pensador alemão Josef Pieper é o de que a escola (paradoxalmente) cumpre melhor sua função de preparo para a vida profissional quando essa missão deixa de ser um objetivo imediato e a escola privilegia o cultivo desinteressado do saber. Precisamente por ser a nossa uma sociedade de contínuas mudanças, somente a sólida formação cultural é que dá ao aluno as condições de, por ele mesmo, adaptar-se a novas realidades e situações...

Quanto à exclusão, é importante ter em conta que ela se dá também em relação a nossa própria pessoa: quando vemos que a globalização nos considera apenas como mero agente de compra, quando ela rouba postos de trabalho etc. Especialmente para este tema, vige a sentença de Ortega: “Yo soy yo y mi circunstancia y si no la salvo a ella no me salvo yo”...

Seja como for, é preciso orientar nossos jovens sobre como poderiam eles se incluir em um mercado de trabalho cada vez mais escasso e diferente em suas exigências, uma vez que estando vivendo numa sociedade Pós-Industrial o esforço mais exigido não é o físico mas o intelectual ou criativo. E, como indicávamos, esse esforço exigido passa pela educação que precisa ser, portanto, mais voltada para o informal, para a criatividade que vai permitir a busca de novas idéias para a solução de problemas tanto de ordem individual, como das organizações, como também os que afligem as nações. É graças a esta maior criatividade que se chega a inovação, qualidade hoje de suma importância para um país ser mais competitivo e desenvolvido. Veja-se o quadro abaixo fruto de uma pesquisa feita com jovens. Mas para que se possa chegar a inovação o que é preciso? Muitas qualidades, como por exemplo, o inconformismo, a tolerância, a persistência, o bom humor.

 

(Revista Veja, 05-04-2000, p. 151)

Hoje dada a alta competitividade que marca a nossa sociedade globalizada é preciso muito mais a criatividade do que uma inteligência convencional. Daí que se espere do professor - para voltarmos às exigências heróicas... - além da competente erudição, um agudo senso de criatividade e inovação: a flexibilidade atenta a tudo o que gira a volta de seus alunos e de como se pode imunizá-los para não caírem nas armadilhas de um mundo onde eles são vistos sobretudo como consumidores em potencial (de mercadorias, de serviços, de ideologias etc.).