Home | Novidades | Revistas | Nossos Livros | Links Amigos Entrevista: María Ángeles Almacellas Bernadó
(Doutora em Educação, Professora da Escuela de Pensamiento y Creatividad)
(Madrid, 02-04-03. Realização, tradução e edição: Cecília Canalle y Sílvia Brandão)
P: Um dos problemas com o qual os educadores se deparam no Brasil é o de um posicionamento negativo dos alunos. Diante de qualquer afirmação, se opõem. Em suas conferências e textos, observa-se que este é um problema também enfrentado na Espanha.
R: De fato, não se pode afirmar nada para os alunos hoje, particularmente aos adolescentes. Aqui na Espanha costuma-se dizer: “De qué se trata, que me opongo” (risos). Então é conveniente facilitar para eles a descoberta daquilo que ensinamos, porque, quando eles fazem a descoberta, assumem como suas as afirmações. E então as defendem. Nunca se deve cair na armadilha de o professor antecipar uma afirmação, uma conclusão.
Se eu lhes dissesse, por exemplo, que não é conveniente ter relações sexuais, eles vão se colocar na defensiva. Agora, se eu faço com que vejam o que é o amor, como se cria o amor, como são os processos humanos, como um homem se constrói como pessoa, como se destrói, como podem destruir sua própria capacidade de amar etc. Quando eles descobrem isso, tiram suas próprias conclusões. O professor tem que ser guia. Para que eles descubram, eu não tenho que desaparecer, eu sou guia. A função de líder do educador é para que não se desviem, porém age de modo muito discreto.
Os garotos descobrem que - para se criar o amor, é necessário se educar. Que para obter um valor superior como é o amor há que negar um valor inferior como a relação sexual prematura. Quando eles descobrem que os dois níveis não se opõem, mas se integram a partir do primeiro e não dá para ficar só no segundo; quando eles descobrem isso, defendem essa posição com unhas e dentes.
Bem, como fazemos isso? Em princípio, a primeira descoberta que eles têm que realizar é o da diferença entre os diferentes modos da realidade. Isto eles entendem bem. Ou seja, que as pessoas têm uma dimensão objetiva e uma dimensão ambital. As pessoas ocupam um lugar no espaço, podem ser empurradas... Etc. Porém onde termina a dimensão social de uma pessoa, a dimensão afetiva? Isto é um âmbito de vida. Isto eles entendem bem. De acordo com a idade dos alunos este trabalho pode ser feito mais intelectualmente, ou mais “teatralmente”. Dependendo da turma, pode-se com um gesto medir a envergadura do aluno (de ombro a ombro) e depois perguntar: é aqui que termina o amor que você tem pela sua mãe? Claro que não, pois essa é uma dimensão ambital. Eles entendem bem que existem objetos e âmbitos, então entendem o que é nível 1 e o nível 2. Entendem também que para cada realidade existe um trato adequado: não posso tratar do mesmo modo uma pessoa e um embrulho. A pessoa merece um respeito próprio: se eu a empurro, ela vai reagir, ela não é um embrulho. Então compreendem o que são as relações que posso ter com um objeto e as reações reversíveis, interpessoais, interambitais; e o âmbito mais rico é a pessoa. Veja, muitos garotos, aqui, tocam violão. Se eu não sei tocar, para mim, é apenas uma caixa de madeira. Porém se eu a sei tocar e a trato com respeito que é o que corresponde a um instrumento, ela me brinda com suas possibilidades de sonoridade. Se eu sei música, brindo a “caixa” com meu conhecimento e o resultado é a melodia. Então se eu acolho as possibilidades que o violão me oferece, eu ofereço a ele minhas possibilidades de saber tocar. Quando há uma relação reversível, sempre há fecundidade; neste caso: surge a melodia. Entre duas pessoas, surge a amizade, amor de qualquer tipo. Quando uma das pessoas trata a outra como um objeto, isto é, estabelece uma relação linear, coloca a outra a seu serviço; ela se ofende e com razão: é uma pessoa e merece um bom tratamento.
Quando eles descobrem isso, normalmente eu ensino como se desenvolve a pessoa. E a pessoa se desenvolve criando encontro e orientada ao ideal da unidade. Então entramos nos processos humanos básicos. Eles entendem a partir de sua própria experiência e eu ainda não entro em temas cruciais porque se entro, eles vão se fechar. Não entro no tema das relações com o amor, com o fumo, com o álcool... Eles chegam a isso por si mesmos.
Nesta fase, abordamos somente da teoria, da fundamentação. Estamos vendo quem é o homem e qual é o seu sentido de vida. Já sabem em que nível de realidade estamos situados. Só trabalhamos com o nível 1 e 2 com os jovens. Há mais níveis e eles entendem bem. Quando o amor é totalmente oblativo e não espera nada em troca, você terá subido de nível. E quando é a relação com o Poder que o criou, terá subido de nível novamente. Pode também rebaixar-se para o nível 1, se trata mal a uma pessoa, se a mata, a viola.... Eles logo percebem que há mais níveis acima e abaixo, mas eu – normalmente – não os abordo porque trabalho com garotos até 16, 17 anos e se trabalham bem os níveis 1 e 2, já me basta.
Então lhe explico como o homem se constrói como pessoa e como se destrói, porque o ser humano tem que crescer é a lei da vida. Então conto o caso das japonesas cujos pés, quando pequenas, são enfaixados para que não cresçam... elas sofrem e ainda por cima os pés se deformam. No nível espiritual, acontece o mesmo. Quer dizer, na vida há dois caminhos e não escolher, já é escolher...
Veja, estamos em uma base. É uma base muito pequena, porém, eles entendem que se é assim, para que uma pessoa se desenvolva de verdade é necessário criar relações reversíveis., quer dizer encontros interpessoais, mais ricos. Isso leva a pessoa ao seu máximo desenvolvimento.
Nesta fase, contudo, eles, no fundo, confundem a relação de coleguismo com a relação de amizade. Não temos que nos preocupar, há todo o ano e depois ainda o ano seguinte. Não precisamos correr, temos tempo. Então eles entendem que o homem se desenvolve com a experiência do encontro. E entendem também o inverso: que você pode ser usada como um meio para meus fins, eu exploro, aproveito, espremo a pessoa como um limão e depois a jogo no lixo. Isso destrói a própria pessoa que age assim. Quando eles entendem isso - e são as primeiras descobertas; básicas, fundamentais -, então introduzo o tema que quero trabalhar com eles. Por exemplo, o alcoolismo. Não sei se no Brasil há o mesmo problema, mas os garotos aqui começam a beber muito cedo. E nos fins de semana, fazem o que aqui se chama “el botellón”, vão a um parque para beber. E isso se converteu em um fenômeno social. Porém em um fenômeno do qual não estão conscientes do estrago que estão causando em si mesmos. Estão se destruindo fisicamente. Eles dizem: não, eu controlo. Esta é a palavra mágica: eu controlo. O álcool, obviamente, leva ao tabaco e imediatamente se chega à maconha. Então as crianças se iniciam na maconha, aos 12, 13 anos. O problema é muito sério e em todos os lugares trabalha-se esse tema sem nenhum resultado. Existe, na Espanha, a fundação contra a dependência de drogas, que tem até um programa de filmes, porém não há fundamentação. Se não há uma fundamentação prévia, os garotos vêem os filmes, as campanhas e assistem a palestras sobre alcoolismo etc. e os garotos dizem: “Puxa, que coisa! Mas eu... eu controlo isso”.
P: E a senhora trabalha muito com cinema e literatura.
R: Sim, primeiro dou a fundamentação e depois digo: agora, vamos ver um filme sobre alcoolismo e quero que reparem no processo de destruição humana. Quais são as causas?, que pontos tem esse processo?, que conseqüências?, por que acontece isso?, é possível evitar?, em que ponto se pode evitar? etc. Eu lhes dou vários pontos para que analisem o processo de destruição humana e nada mais. Depois apresento um filme que conta a história de um alcoólatra. Eu não lhes falo de alcoolismo, mas sobre os processos humanos de destruição.
Eles assistem ao filme, tomam nota, eu lhes dou um questionário. E há um momento no filme (“28 dias”, com o qual estou trabalhando neste ano) em que a alcoólatra fala precisamente: “eu controlo”. Há um momento em que o diretor do Centro onde ela está internada atina profundamente com nosso tema: “O problema é que sempre você procurou gratificações imediatas”. Depois de umas duas horas em pequenos grupos, fazemos um grande grupo e ali, eu preparo as perguntas; mas fico calada. Quando me perguntam, eu não respondo. Só acuso ambigüidades porque é claro, quando eles se vêem encurralados pedem que eu resolva algo para poderem ir em frente. Mas não se pode cair nesse erro. Se eu respondesse: sim, o alcoolismo é uma vertigem destrutiva... eles diriam: Não! Por isso, não respondo, mas retomo, vocês estão aqui para discutir, vamos ver o que os colegas opinam. E eles dizem: é, o álcool é uma vertigem destrutiva.
Em seguida, peço um trabalho escrito, em que haja, digamos, uma conclusão pessoal. Além disso é impressionante o resultado. Muitos desses garotos já tinham experimentado, não estamos tratando de puras teorias, mas de experiência. E não somente eles deixam de beber como se interessam para que ocorra o mesmo com seus amigos!
Outro dia me disseram em uma classe de 30 alunos, de 16, 17 anos, uns alunos: Fulano deixou de fumar maconha e cigarro... Era o último!! Eles ficam encantados com a fundamentação. Quando começamos o curso, dos 30, uns 14, 15 fumavam e bebiam.
Em este mesmo grupo, trabalhamos a formação para o amor. Estamos trabalhando neste momento com isso. Mas é mais fácil porque já sabem os processos. A sexualidade no nível 2 tem sentido. No nível 1, só tem significado, não sentido.
Um garoto me procurou outro dia: “Quero falar com você, professora. Eu já tive relações com minha namorada. Ainda é possível criar o amor?” Eu respondi: “Veja, nos carros há uma alavanca que diz marcha a ré”. Ele continuou: “É o que eu quero!”
Chamamos de Pedagogia da Experiência e em minha última conferência na Argentina, chamei de Pedagogia da Descoberta. Creio que assim se inclui a experiência, porque é a experiência pessoal, a própria vida, que os ensina a pensar.
Com crianças pequenas, isto se faz com contos. O quanto antes se começa a educar, melhor. Tenho feito um trabalho de pesquisa sobre o caráter formativo dos contos de Perrault:: Chapeuzinho Vermelho, Cinderela, Gato de Botas...
No início não via caráter formativo algum, mas depois, lendo toda a obra, vi claramente seu valor. Não na “moral da história” que não vale nada. Porém nas adaptações dos contos, Perrault põe uma mensagem muito séria: o mal é muito poderoso, esmaga o bem; porém – ao final – o mal se autodestrói e o bem triunfa. Essa é a grande mensagem, quer dizer que o nível 1 parece que vence, mas o nível 2 é discreto, tranqüilo, acolhedor e acaba triunfando. Só há um caso em que não triunfa: no original de Chapeuzinho Vermelho. Eu não sabia que o lobo a comia e desaparece Chapeuzinho Vermelho. Por quê? Porque Chapeuzinho Vermelho não sabe pensar! Claro! Ela vai pelo bosque, encontra o lobo que é o mal, o lobo e depois os lenhadores. O lobo é astuto e não a come aí. Chapeuzinho Vermelho não distingue o bem do mal, não pensa. É o mesmo para ela as pessoas que a estão ajudando e as que a levam para a perdição. O bem não pode triunfar porque não há bem, há tolice. Isto é: devemos ser bons, mas não tontos.
Temos que começar com as crianças a partir de contos, de filmes infantis. A boa literatura é sempre uma lição de vida. As crianças assistindo ao filme, que são experiências humanas, aprender a ler o filme e aprender a ler a vida. Se souber ler a vida, torna-se capaz de prever as conseqüências de seus atos.
Assim, à medida em que vão se aprofundando nesses temas, vão realizando descobertas. Eu lhes dou a primeira base e me baseio neste livro de Alfonso López Quintás: Descobrir a grandeza da vida vida (lançado recentemente na Espanha):
1a. descoberta: os objetos e os âmbitos
2a. descoberta: as experiências reversíveis
3a. descoberta: os valores e as virtudes
4a. descoberta: o ideal da vida
P: Nem sempre conseguimos perceber o que estão aprendendo (sobretudo em termos de valores), mas o interessante é que estão aprendendo e isso se revela de modo inesperado e, às vezes, também, demorado.
R: Os alunos estão pesquisando sobre o homem, é o objetivo: o que é o homem? E como cristãos não temos que manipular nada. Eu penso que a nós cristãos nos falta fé. Queremos ir mais longe do que o próprio Deus e isso não é necessário (risos). Ele é Deus e nós cremos ou não cremos. Se acreditamos que a criação é obra de Deus, plano de Deus basta ajudar o garoto a pensar e ele se encontrará com Deus. Não quer dizer que não tenha que falar de Deus, mas não tenho que manipular. Se algo é bom, é de Deus e se não é bom, é errado, está equivocado. O que penso é que é impossível que Deus tenha criado o mundo de uma maneira e que depois tivesse vindo o Filho de Deus para mudar tudo. Ele não veio para mudar, mas para explicar com clareza. O plano de Deus é o mesmo do Gênesis ao Apocalipse. Além disso Jesus Cristo disse: “Eu não vim abolir a lei, mas cumpri-la”. Cumpri-la, não mudá-la!
Então ajudamos a criança a descobrir quem é o homem e que o homem é um ser transcendente.
É o que faço quando dou cursos sobre a formação para o amor a grupos não cristãos. Dei um curso de formação profissional para moças, atéias mas que faziam um curso de informática num centro do Opus Dei. O centro era do Opus Dei, mas elas não. As professoras estavam horrorizadas e me chamaram, horrorizadas: “elas têm relações amorosas com seus namorados e uma até mora com o namorado”. E com isso as professoras do Opus Dei estavam ficando loucas. E eu fui para falar a essas moças sobre o amor. Esqueçam tudo que vocês escutaram no colégio. Esqueçam tudo que diz a moral cristã e se ao final vocês chegarem à mesma conclusão: sinto muito! Pode ser que ao final vocês cheguem à mesma opinião do magistério da Igreja: que o homem é homem. Por ora, esqueçam: eu vou falar do homem e de como o homem ama a mulher e vice-versa. Vou falar do Gênesis, do Cântico dos Cânticos Veja, mudaram totalmente! Como uma luva virada no avesso. As professoras do Opus me chamaram: “É um milagre!”. Eu respondi: não é milagre, basta colocaram os óculos para ver o homem. Eu não lhes falei de Deus. Uma garota de 27 anos, no final, me perguntou: você é católica? Sou, mas além de cristã, sou pessoa, gosto de pensar e estudo filosofia: busco a verdade. Isto é importante, por um lado, ser guia, orientar; mas por outro lado propiciar que as pessoas descubram. Porque as coisas mudaram muito: hoje ninguém - nem os jovens, nem os mais velhos - admite conselhos, ninguém admite que lhes digamos o que têm que fazer. O problema não é se existe Deus ou não, nem o que vem a ser a liberdade, nem o que podem fazer ou não, o problema é que alguém venha afirmar.
Eu penso que, nós, os católicos estamos surdos ao que o Papa nos fala sobre a nova evangelização. O que fazemos? Circos! As catequeses são circos. Não, a evangelização é nova porque deve dirigir-se ao homem de hoje com a linguagem de hoje. Ou seja, temos que descobrir a linguagem porque o homem mudou e só entende a linguagem do personalismo que descobre. Esta é que é a nova Evangelização. Claro, isso é muito exigente porque nós, que já temos idade, sabemos muito, tudo na nossa vida foi dando certo... E, de repente, temos que mudar. E eu, como vou mudar? Acabo passando à margem do que o Papa pede e continuo fazendo o que sempre fiz e queixando-me de que o mundo está muito mal. E eu não faço nada!! Meu velho método já não funciona. Funcionava há 20 anos, há dez...; mas, agora, não. Agora, o homem necessidade saber, fundamentar, necessita experimentar. E se não se fundamenta, não lhe serve para nada. Porque temos umas facilidades que há 40 anos, não havia. Porque há televisão etc., e tudo é sexo, consumismo, hedonismo. Isto é assim, não conseguimos mudar; mas podemos mudar a pessoa. Demo-lhes olhos.
P: Então para resumir: fundamentação, método...
R: Veja, quando escolho um filme eu tenho um objetivo: o relacionamento entre namorados, sexo, o sentido da vida, o álcool, a droga. Fundamentação e filme. E continuamos fundamentando: eu diria que são as necessidades básicas de um educando. Não só as descobrem como as processam e as defendem. Então a batalha está ganha. Eles têm que não apenas intelectualizá-las, mas transformá-las em vida. Do geral que é, digamos, a teoria; vamos ao particular que é o exemplo, filmes ou obra literária: conto, romance, teatro ou o que for. Então eles analisam isto, fundamentados. Ao mesmo tempo que analisam isto, ampliam a fundamentação que vai ficando cada vez mais sólida. Deste particular, voltam ao geral: isto é, o homem: que acontece com o homem quando... Aqui, analisam, por exemplo, os processos humanos e vêem o filme sobre a alcoólatra. E dizem: o homem que se entrega a um processo humano acontece isso, se se entrega a tal outra coisa, acontece aquilo. E do geral, voltam a passar ao particular que é a sua própria vida.
P: Há algum momento em que você tem um plantão, por exemplo?
R: Temos, aqui, 1 hora por semana, que chamamos tutoria. Cada grupo de alunos tem um tutor, um professor responsável. Eu, por exemplo, dou para a minha turma: Língua Espanhola; mas como tutora tenho, também, com eles uma hora por semana. Esse hora era tradicionalmente usada para repreender os alunos ou para dar-lhes avisos etc. Eu aplico todo esse programa de formação na minha tutoria. Com as minhas outras turmas, das quais não sou tutora coloco isso no meio da Literatura. Porque se não entendem isso não podem entender os romances. Então, se não posso fazer de um jeito faço de outro...
P: Para encerrar, conte-nos um experiência que a tenha marcado nesses anos de magistério.
R: Bem, há dois anos, aconteceu um fato que veio a confirmar que estamos no bom caminho. Um aluno que não concordava com nada. Nada, nada. Era um pilantra: fumante, beberrão... Estava no 2o. ano do secundário e, no final, nós professores dissemos: reprová-lo, não! Que termine o curso logo e tchau! Porém era muito jovem e ainda não poderia ir embora. Ele tinha 15 anos e é necessário ter 16. Era necessário agüentá-lo um pouco mais. E eu era sua tutora. Eu o conhecia porque lhe dera aulas antes. Na tutoria, o fiz trabalhar o método e começou a mudar. E me disse um dia:
- Professora, posso falar com você?
- Claro.
- Veja, eu sou um “sacana” (cabrón).
- Até aqui, estou de acordo. O que mais?
- É isso.
- É isso que você queria me dizer?
- Sim
- Bem, está dito.
Na classe, ele era o líder. Ele sozinho podia com toda a turma. Era o líder. No fim do curso, veio conversar.
- Eu estou pensando na vida...
Era setembro. No mês de abril, o professor Alfonso López Quintás proferiria uma conferência. Ele foi. Sentei ao lado de D. Alfonso e lhe disse: “Veja, aquele é o garoto de que lhe falei”. Ele continuava sendo o líder, porém do contrário. Havia deixado ser o líder que levava os colegas a fazer mil barbaridades e passado a ser líder num outro sentido: aqui não se bebe, aqui não se fuma, aqui se estuda.
Penso que esta tenha sido a experiência mais forte que tive.
Porque as teorias que temos de educação não se baseiam na experiência real. Há muitos livros de pedagogia que não servem para nada. Porque são feitos pensando em uma pessoa feita em um gabinete.
P: Percebo que você aposta, profundamente, na liberdade de seus alunos. Não terá a pretensão de que todos façam o mesmo caminho?
R: Claro que não..., Temos que ter paciência com os garotos e com os professores até que comecemos a ver os resultados. Cecília, a educação... dá certo!