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O Liber Scintillarum,
de Defensor de Ligugé

Nota Introdutória e Tradução: Jean Lauand

 

Nota Introdutória

Jean Lauand
Prof. Titular FEUSP
jeanlaua@usp.br

 

1. As antologias e o projeto pedagógico da Primeira Idade Média

A Idade Média define-se - como escreveu Hegel - como uma dualidade (bárbaros/romanos) de povos, de línguas e de culturas.

A partir do século IV, os bárbaros, triunfantes povos jovens e analfabetos, instalaram-se no espaço (geográfico e cultural) que fora ocupado pelo Império Romano no Ocidente, deparando com a cultura romana, certamente muito mais refinada, diante da qual podiam adotar diferentes atitudes, desde o desprezo e o esquecimento até a imitação e assimilação da língua, da tradição e da religião dos romanos.

Pedagogicamente, aquilo que se chamou Escolástica foi, em boa medida, o projeto bárbaro de aprendizagem do saber antigo. Dado o gap cultural, esse projeto pedagógico não teve, no início, a menor pretensão de originalidade. Tratava-se, antes (nos dois sentidos da palavra), de aprender, acriticamente, os rudimentos de uma língua nova, de um novo modo de ser e pensar.

Se essa experiência de "aprender de aprendiz" não trouxe nenhuma contribuição significativa para as ciências e disciplinas estudadas na época, pelo menos (e não é pouco!) possibilitou que elas se conservassem num estado mais ou menos precário até o surgimento, no século XII, de melhores circunstâncias para o desenvolvimento cultural e artístico, e para a criação de um pensamento original.

Assim, numa situação sócio-cultural não muito animadora, o pensamento teológico e filosófico da Primeira Idade Média conseguiu produzir os livros de Sentenças, simples compilações de frases dos Padres e escritores antigos que, no entanto, salvavam o substancial da herança da civilização greco-latina. Somente a partir do Renascimento do século XII, essas compilações foram dando lugar a interpretações globais em sínteses pessoais: as Sumas.

Curiosamente, vemos hoje reaparecer nas nossas livrarias esse antiqüíssimo Liber Sententiarum, o livro de sentenças, na forma de livros-folhinha, livros-agenda, "pílulas de otimismo", "reflexões em gotas" etc. Tal como os bárbaros de ontem, os de hoje intuem que é preciso retornar às fontes, "resgatar" o que no passado tem valor em si mesmo.

Nosso barbarismo, porém, tem suas características próprias. O mundo pós-moderno está ávido de sabedorias, mas que sejam descartáveis, adequadas a um pensamento circunstancialista e assumidamente claudicante. Muitas vezes presos à nossa mentalidade minimalista e consumista, preferimos o interessante ao invés da verdade das coisas; queremos o produto cultural da moda ao invés de reencontrar a perspectiva religiosa de quinze, de vinte séculos atrás, cuja preocupação fundamental era saber relacionar-se com Deus, com o próximo... e consigo mesmo.

É extremamente interessante voltar a ler as antologias de sentenças daquele início de Idade Média, nas quais se retratam ideais, vivências e, até mesmo, preconceitos e "cacoetes" da época, mas, sobretudo, uma contrastante lição de vida e de sabedoria que, talvez, também poderá ser útil para nós.

2. O Liber Scintillarum e seu autor nos quadros da Pedagogia medieval

Uma das primeiras e mais marcantes dessas antologias é o Liber Scintillarum, Livro das Cintilações ou, mais literalmente, Livro das Fagulhas, escrito em torno do ano 700( [1] ) por Defensor de Ligugé, monge do mosteiro de São Martinho de Ligugé( [2] ).

O Livro das Cintilações foi muito apreciado ao longo de toda a Idade Média e praticamente todas as bibliotecas da época possuíam seu exemplar (chegaram até nós mais de 350 manuscritos!).

A palavra scintilla - fagulha, chispa, cintilação, faísca - aparece na Bíblia ( [3] ), empregada literal e figurativamente, sete vezes:

- no Eclesiástico (11,34 e 42,23), significando um pequeno princípio que dá origem a algo muito maior: "De uma simples fagulha, acende-se um fogo grande..." (e assim também a língua do homem insidioso...), ou simples amostra de algo imenso: "Quão desejáveis são as Suas obras! O que delas se vê é como uma centelha!";

- em Isaías (1,31): "O homem forte virá a ser como a estopa, e a sua obra como uma centelha; ambos arderão juntos e não haverá ninguém que os possa apagar";

- em II Sam 14,7 como metáfora de descendência, o filho que passa adiante o nome do pai;

- no livro da Sabedoria (2,2 ; 3,7 e 11,19), aparece no sentido literal e, figurativamente, como algo insignificante, mas também como o resplendor da ressurreição dos justos: "No tempo em que Deus os visitar, resplandecerão e correrão como fagulhas no meio da palha" (3,7).

É natural, portanto, que scintilla, evocando o fogo vivo da vida do espírito, seja a metáfora usada por Defensor para as breves sentenças de sabedoria que recolhe da Sagrada Escritura e dos Padres da Igreja. Diz Defensor em seu Prólogo:

"Assim como do fogo procedem centelhas, assim também fulgem, extraídas das Escrituras, estas breves sentenças neste livro de cintilações".

Defensor sabe que seus contemporâneos não têm condições (acesso psicológico e mesmo físico) de estudar em profundidade as obras dos antigos; todo seu esforço pedagógico se concentra, pois, em apresentar, resumida e fragmentariamente, uma seleção desses autores. E este é o ponto em que a problemática pedagógica medieval revela-se atualíssima, no mundo e no Brasil. Quem lê e compreende hoje Platão, Virgílio, Dante, Agostinho, Jerônimo?

Se o problema pedagógico de hoje aproxima-se do da Idade Média, a solução daquela época também não é descabida para nosso tempo: já que é impossível propor para grande número de alunos o estudo aprofundado dos clássicos, demos-lhes - tal como na Primeira Idade Média - traduções de trechos selecionados, demos-lhes fagulhas (e sempre há a possibilidade de uma humilde fagulha provocar um grande incêndio...).

Defensor, realista, assume completamente essa Pedagogia e diz no Prólogo do Liber Scintillarum:

"Quem quiser ler este livro, poupar-se-á trabalho; que não se canse pelo caminho das outras páginas: aqui encontrará o que deseja."

Defensor não nos diz explicitamente o objetivo de seu livro (para quê o leitor "deseja encontrar" essas cintilações?), mas podemos supor que seria utilizado por pregadores, em busca de argumentos para seus sermões; por mestres espirituais, em busca de inspiração para a direção de almas, e por pessoas desejosas de encontrar orientação para o crescimento no cultivo da ascética cristã.

3. Estrutura e conteúdo do Liber Scintillarum

O livro compõe-se de 2.494 cintilações, breves sentenças, divididas em 81 capítulos. Há, em média, portanto, 30 sentenças para cada tema da vida espiritual (há alguns capítulos, como "A ligação com Deus", com apenas 5 sentenças e outros, como "A sabedoria", com 111). O tom de cada capítulo é já anunciado pela primeira sentença selecionada, sempre com a forma: "Disse o Senhor no Evangelho..."

Dessas sentenças, em geral, cerca da metade procede da Sagrada Escritura, sobretudo do Antigo Testamento, e particularmente do Eclesiástico ( [4] ) e dos Provérbios ( [5] ). A outra metade é escolhida das obras de (ou, na época, atribuídas a) S. Isidoro de Sevilha ( [6] ), S. Gregório Magno ( [7] ), S. Jerônimo ( [8] ) e de S. Agostinho ( [9] ). Menos freqüentes são as citações de: Ambrósio, Anastásio, Basílio, Cassiano, Cesário de Arles, Clemente, Cipriano, Efrém o Sírio, Eusébio, Hilário, Josefo, Orígenes e da Vidas dos Padres.

Os 81 temas selecionados por Defensor para capítulos de seu livro são, por exemplo: o amor, a paciência, o amor a Deus e ao próximo, a humildade, o perdão, a avareza, as virtudes, os vícios, as palavras ociosas, a brevidade da vida presente etc.

Muitos destes temas são cumulativos e se interpenetram, como, por exemplo, os capítulos I e III ("O amor" e "O amor a Deus e ao próximo", respectivamente). E, algumas vezes, Defensor chega a repetir a mesma sentença em capítulos distintos, como é o caso, por exemplo, da seguinte cintilação: "Disse Jerônimo: <<Não há distância que separe aqueles que estão unidos pelo amor>>", que integra o capítulo I ("O amor") e reaparece no capítulo LXIV ("A amizade e a inimizade").

Se a composição de um livro de sentenças não tem (nem pretende ter) originalidade, Defensor, no entanto, não deixa de imprimir sua marca pessoal ao selecionar e distribuir por capítulos as cintilações. Assim, por vezes, o leitor surpreende-se com inesperadas colocações, algumas extremamente sugestivas.

Tomemos, por exemplo, a sentença: "Disse o Senhor no Evangelho: <<A quem muito foi dado, muito ser-lhe-á pedido>> (Lc 12,48)". Defensor a situa não em temas como "O exemplo", "Os que governam", ou "Os ricos", mas, sim, como abertura do último capítulo: "As leituras"! E a exortação a não temermos ameaças e a não nos alterarmos por elogios vem no capítulo sobre os juízes e os governantes (capítulo LXXII)...

Do mesmo modo, a fala do Senhor "O homem bom, do bom tesouro de seu coração, tira o que é bom; o homem mau, o que é mau" (Mt 12,35) é, genialmente, posta como abertura do capítulo "O silêncio"!

4. Algumas dificuldades para o leitor de hoje

Destaco três dificuldades especiais que o leitor poderá enfrentar ante uma obra como o Livro das Cintilações:

1. A pouca familiaridade (intelectual e vivencial) que o homem de hoje tem com a temática ascética e espiritual cristã, faz com que se tornem simplesmente incompreensíveis certos pressupostos e afirmações que, para os antigos, eram evidentes. Como quando, por exemplo, no capítulo X ("O jejum") Defensor recolhe a sentença: "Disse Isidoro: <<Este é o jejum perfeito: quando jejua nosso homem exterior e o homem interior faz oração>>".

A compreensão (e não me refiro só à compreensão intelectual) dessa advertência pressupõe um saber (também ele não apenas racional) sobre o que é jejuar e as relações do jejum com as disposições do coração. Pressupõe, inicialmente, experiências ascéticas - a anos-luz de distância da consciência pós-moderna - como a descrita pelo salmo: "Eu me humilhava com jejum e minha oração voltava a meu peito" (Sl 35,13). E a revelação de Deus: "Não continueis a jejuar deste modo (jejum com injustiça), se quereis que vossa voz seja ouvida nas alturas" (Is 58,4). Além do mais, pressupõe a oposição homo exterior/homo interior, familiar aos leitores do século VII mas que atualmente poderá soar incompreensível. Trata-se da distinção feita pelo Apóstolo: "Por isto não nos deixamos abater. Pelo contrário, embora em nós, o homem exterior vá caminhando para a sua ruína, o homem interior se renova dia a dia" (II Cor 4,16).

2. Os 1.300 anos que nos separam da obra impuseram dificuldades semânticas, sobretudo no que se refere ao léxico da ascética e da espiritualidade. Muitas palavras originais desse vocabulário - na época cheias de vida, vigor e sentido - hoje nada significam ou tiveram seu sentido restringido, distorcido, ou confinado à linguagem erudita. É o caso, por exemplo, de caritas, caridade: o amor (em todas as suas dimensões) a Deus e ao próximo por Deus. A "caridade" está hoje reduzida ao âmbito da compaixão assistencialista. Por esta razão, traduzimos já o título do capítulo I, De Caritate, por "O amor".

3. Como se sabe, uma constante da época medieval é a especial atenção ao caráter alegórico. Não só a Escritura, mas também as realidades do mundo encerram, muito freqüentemente, um sentido espiritual, para quem souber lê-las. Assim, por exemplo, quando se recolhe no capítulo "Os médicos" a sentença de Cipriano sobre o tratamento de feridas, na verdade é à cura da alma que ele se refere: "Disse Cipriano: <<É necessário abrir a ferida, cortá-la, expelir o pus e aplicar-lhe remédio forte. O doente, que mal suporta a dor, grita e vocifera; mas, depois, ao recobrar a saúde, agradecerá>> (De lapsis, 14; PL 4, 447-448)". Do mesmo modo, não é a práticas medicinais que Jerônimo se refere, quando diz: "Podridão da carne se trata a ferro e fogo", cintilação que pertence ao capítulo "A penitência".

5. Algumas características da presente antologia

A apresentação ao leitor brasileiro desta seleção de 265 sentenças do Livro das Cintilações traz uma pequena amostra dos ideais propostos na época.

Os critérios que guiaram a seleção dessas sentenças foram diversos. Em alguns casos, prevaleceu a agudeza da formulação. É o caso desta inquietante intuição, incluída em "O perdão": "Disse Anastásio: <<Se não perdoas a injúria que te foi feita, é antes uma maldição sobre ti mesmo - e não uma oração - o que fazes ao rezar: Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido>>". O mesmo ocorre com a aguda advertência psicológica de que tendemos a projetar nos outros os nossos próprios defeitos: "Disse Jerônimo: <<Guarda-te de cometer o mesmo erro que te propões corrigir>>" ("A vida alheia"). Nesta mesma linha, situa-se a seca ironia ante quem professa estar desprendido de qualquer busca de glória mas, na verdade, reclama elogios: "Disse Jerônimo: <<Quem não procura a glória não deve se ressentir da falta de glória>>" ("A vanglória").

Em outros casos, o critério guiou-se pela busca da caracterização da visão-de-mundo da época; em outros ainda, pela tentativa de apresentar um resumo do espectro semântico abrangido por determinado conceito. No início de diversos capítulos, sobretudo nos que contêm maior quantidade de sentenças, mantive a cintilação inicial, procedente do Evangelho ( [10] ). De resto, salvo ocasionais amostras exemplificatórias, preferi selecionar maior proporção de sentenças dos Padres da Igreja, por ser a Bíblia muito menos ignorada pelo leitor contemporâneo do que os escritos patrísticos.

O capítulo XV, "A inveja", é intencionalmente mais completo, aproximando-se da versão integral. No capítulo XXIV, "A tolice", recolhem-se 7 sentenças do livro dos Provérbios, reproduzindo o extraordinário destaque que, por vezes, o autor dá aos livros sapienciais vetero-testamentários: deles procedem, por exemplo, 33 das 48 sentenças do capítulo XVI.

O texto latino utilizado para a presente tradução é o estabelecido por H-M. Rochais, O.S.B. ( [11] ) (ele próprio um monge do mesmo mosteiro de Ligugé!), sem dúvida o maior conhecedor contemporâneo do Liber Scintillarum. Após cada sentença patrística selecionada, vem a indicação do original ( [12] ), que o leitor familiarizado com as fontes medievais reconhecerá facilmente ( [13] ).

As 265 sentenças aqui selecionadas distribuem-se do seguinte modo: Evangelhos (36), Epístolas de Paulo (14), outros livros neo-testamentários (7), Eclesiático (15), Provérbios (13), outros livros vetero-testamentários (2), Agostinho (28), Gregório (39), Isidoro (51), Jerônimo (46), Orígenes (1), Anástasio (1), Cipriano (6), Ambrósio (3), Basílio (3).

O Livro das Cintilações de Defensor de Ligugé

(Trad.: Jean Lauand)

Prólogo

Leitor, quem quer que tu sejas, que lês este pequeno livro, eu, que o escrevi, rogo-te que o leias com alma e acolhas com gratidão estas saborosas sentenças. Com exceção do trabalho e da boa vontade, nada há aqui de meu. Das palavras do Senhor e de seus santos, destacaram-se estas cintilações que, também elas, não se devem a meu engenho, mas unicamente à graça de Deus e a meu mestre Ursino, que me encarregou deste trabalho e ensinou-me a fazê-lo. Desejoso de obedecer, perscrutei páginas e páginas e, ao deparar uma sentença fulgurante, colhia-a com a diligência de quem encontra uma pérola ou gema. Tal como uma fonte, que se faz de muitas gotas, assim reuni testemunhos de diversos volumes para tentar compor este opúsculo. Assim como do fogo procedem centelhas, assim também fulgem, extraídas das Escrituras, estas breves sentenças neste livro de cintilações. Quem quiser lê-lo, poupar-se-á trabalho; que não se canse pelo caminho das outras páginas: aqui encontrará o que deseja. Mas, para que esta obra não seja considerada sem autor ou tida por apócrifa, a cada sentença, por meio de siglas, ajunto o nome do autor.

Ao mosteiro de S. Martinho de Ligugé, no qual recebi a tonsura, ofereço este livro. Que este oferecimento me ligue a ele pela perpetuidade, pois desde minha juventude é nele que habitam os mestres que tanto me enriqueceram com seus dons. Escrevi-o com a ajuda de Jesus, eu mesmo, e ofereci a eles para crescer em Cristo, para obedecer suas ordens e em tudo prestar-lhes serviço, o que faço com muito gosto.

Se ocorreu algum descuido, rogo-te, leitor, que não me censures com ira, mas corrige-me com benevolência. Escrevo meu nome - Defensor - não por glória vã, mas para que todo leitor se lembre de mim. Tal como o porto para o navegador, assim também para mim foi com regozijo que cheguei à última linha. Conjuro a meus leitores e imploro a meus ouvintes que rezem por mim, último de todos, para que, enquanto esteja vivo, seja cumulado da sabedoria de Deus; e, ao sair desta carne, mereça eu gozar da bem-aventurança da vida eterna.

I - O amor

1. Disse o Senhor no Evangelho: Ninguém tem maior amor do que aquele que dá sua vida por seus amigos (Jo 15, 13).

2. Disse Agostinho: Onde não há amor a Deus, aí reina a cobiça carnal (Ench. 117).

3. Disse Agostinho: Quão grande é a caridade: sem ela, tudo é em vão; com ela tudo ganha sentido (In Ioh. Ev., IX, 8; PL 35, 1462).

4. Disse Agostinho: Estende ao longo do mundo inteiro o teu amor, se queres amar a Cristo, pois, por todo o mundo, espalham-se os membros de Cristo ( [14] ) (In Ioh. Ep., X, 8; PL 35, 2060).

5. Disse Agostinho: Do mesmo modo que teu corpo sem espírito, isto é, sem alma, estaria morto, assim também tua alma sem o Espírito Santo, isto é, sem amor, seria tida por morta (In Ioh. Ev., IX, 8; PL 35, 1462).

6. Disse Gregório: O amor dá as forças de que carecemos pela falta de experiência (Hom. Ev., 21, 1; PL 76, 1169).

7. Disse Gregório: A caridade tem grandeza: seu amor alcança até mesmo os inimigos (Hom. Ez. 1, 6, 19; PL 76, 840).

8. Disse Jerônimo: Não há distância que separe aqueles que estão unidos pelo amor( [15] ) (Epist. 71, 7, 2; PL 22, 672).

II - A paciência

9. Disse o Senhor no Evangelho: Pela vossa paciência, possuireis as vossas almas (Mt 5,9).

10. Disse Jerônimo: Entre os cristãos, infeliz é quem lança a ofensa e não quem a sofre ( [16] ) (Ep. 17,1; PL 22, 359).

11. Disse Jerônimo: Sofre-se mais suportando o importuno do que pela ausência de quem se ama (Ibid. 118, 2, 3; PL 22, 961).

12. Disse Gregório: A paciência verdadeira está em suportar sem alteração de ânimo os defeitos dos outros e não em guardar ressentimentos contra os que nos fazem o mal (Hom. Ev., 35).

13. Disse Gregório: A paciência verdadeira é aquela que sabe amar o sofrimento; pois, suportar odiando não é a virtude da mansidão, mas ira disfarçada (Hom. Ez., 2, 5, 14).

14. Disse Isidoro: Não pode ter paz aquele que põe sua esperança num homem.

III - O amor a Deus e ao próximo

15. Disse o Senhor no Evangelho: Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: em que vos ameis uns aos outros (Jo 13,35).

16. Disse Paulo Apóstolo: Para os que amam a Deus, tudo contribui para o bem (Rm 13,10).

17. Disse Paulo Apóstolo: Nem olho viu, nem ouvido ouviu, nem jamais ascendeu ao coração humano, o que Deus tem preparado para os que o amam (I Cor 2,9).

18. Disse João Apóstolo: Este é o mandamento que temos de Deus: que quem ama a Deus ame também a seu próximo. Pois aquele que não ama a seu irmão a quem vê, como vai amar a Deus a quem não vê? (I Jo 4,20 e 21).

19. Disse Agostinho: Nossa vida é o amor. E se o viver é amar, o ódio é a morte (En. Ps. 54, 7).

20. Disse Agostinho: Fomenta o amor em ti: só ele te conduzirá à Vida.

21. Disse Gregório: A prova de que se ama está nas obras (Hom. Ev., 30, 1).

22. Disse Gregório: Todo projeto se mede exclusivamente pelo amor (Hom. Ev., 27, 1).

23. Disse Gregório: Não se ama a Deus de verdade, se não se ama o próximo; não se ama o próximo de verdade, se não se ama a Deus (Hom. Ev., 30, 10; PL 76, 1227).

24. Disse Isidoro: Não ama a Cristo de todo o coração quem odeia um homem (Sent., II, 3).

IV - A humildade

25. Disse o Senhor no Evangelho: Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração e encontrareis repouso para vossas almas (Mt 11,29).

26. Disse Tiago Apóstolo: Humilhai-vos diante de Deus e Ele vos exaltará (Tg 4,10).

27. Disse Orígenes: Se não fores humilde e recolhido, não poderá habitar em ti a graça do Espírito Santo (In Lev., 6, 2; PG 12, 468).

28. Disse Agostinho: Deus se fez humilde; que se envergonhe o homem de ser soberbo (En. in Ps. 18, 15; PL 36, 163).

V - O perdão

29. Disse o Senhor no Evangelho: Se fores fazer tua oferenda no altar e te lembrares de que teu irmão tem algo contra ti, deixa tua oferenda diante do altar, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão e, depois, vai fazer tua oferta (Mt 5, 23-24).

30. Disse Gregório: Nosso antigo inimigo não está preocupado em tirar nossos bens terrenos, mas em ferir nossa caridade (Hom. Ev., 27, 2; PL 76, 1205).

31. Disse Isidoro: Quanto mais se adia a reconciliação com o irmão, mais se adia o serenar de Deus. Em vão buscará Deus propício quem não se aplicar a rapidamente reconciliar-se com o próximo (Sent., III, 27, 7; PL 83, 702).

32. Disse Anastásio: Se não perdoas a injúria que te foi feita, é antes uma maldição sobre ti mesmo - e não uma oração - o que fazes ao rezar: Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.

VI - A compunção

33. Disse o Senhor no Evangelho: Em verdade, em verdade vos digo: vós chorareis e vos lamentareis e o mundo alegrar-se-á; sereis afligidos, mas vossa tristeza transformar-se-á em alegria (Jo 16,20).

34. Disse Gregório: Quando retornamos ao Senhor, Ele nos abraça bondosamente, pois já não pode ser indigna a vida de quem lavou seus pecados com lágrimas (Hom. Ev., 33, 8).

35. Disse Gregório: Tendo-nos manchado depois das águas do Batismo, renasçamos com a água das lágrimas (Hom. Ev., 25, 10; PL 76, 1196).

36. Disse Isidoro: Para Deus, as lágrimas de penitência equivalem às águas do Batismo (De Eccl. off. II, 17, 6; PL 83, 803).

VII - A oração

37. Disse o Senhor no Evangelho: Tudo o que pedirdes na oração com fé, recebereis (Mt 21, 22).

38. Disse Jesus, filho de Sirach: A oração humilde trespassa as nuvens (Eclo 35,21).

39. Disse Jerônimo: Se é absurdo que um soldado parta sem armas para a guerra, assim também o cristão não deve fazer nada sem oração.

40. Disse Isidoro: A oração vem do coração e não dos lábios; pois Deus não leva em conta as palavras, mas o coração de quem ora. É melhor orar no silêncio do coração do que por palavras sem atenção do espírito. Se alguém ora sem falar e em silêncio, sua oração passa despercebida aos homens, mas não a Deus, que está presente em sua consciência (Sent., III, 7, 4).

41. Disse Isidoro: Nosso espírito é celeste; e contempla verdadeiramente a Deus, quando não é distraído por nenhuma preocupação terrena (Sent., III, 7, 7).

42. Disse Cipriano: Boa é a oração que vai acompanhada de jejum e de esmola (In De Dom. Orat., 32; PL 4, 540).

VIII - A confissão

43. Disse João Apóstolo: Se dissemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós. Mas, se confessamos nossos pecados, fiel e justo é Deus para perdoar e limpar-nos de todo pecado (I Jo 1,8-9).

44. Disse Agostinho: A confissão de todos as más ações é o início das boas obras (In Ioh. Ev. XII, 13; PL 35, 1491).

45. Disse Agostinho: Quem confessa seus pecados e se acusa de ter pecado faz um pacto com Deus (In Ioh. Ev. XII, 13; PL 35, 1491).

46. Disse Agostinho: O tempo (oportuno) para confessar é agora; confessa o que fizeste por palavras, por ações, de noite, de dia.

47. Disse Gregório: Quanto mais nos fechamos no silêncio, mais se alimenta o peso da dor interior (Pastor., 3, 14; PL 77, 72).

IX - A penitência

48. Disse o Senhor no Evangelho: Fazei penitência, pois aproxima-se o reino dos céus (Mt 3, 2).

49. Disse Jerônimo: Podridão da carne se trata a ferro e fogo (Ep. 117, 2; PL 22, 954).

50. Disse Jerônimo: Deus, por natureza, é misericordioso e disposto a salvar por clemência aqueles que Ele não pode salvar por justiça (In Ionam 2, 9).

51. Disse Isidoro: Penitência é questão de obras e não de meras palavras (Sent., II, 23).

52. Disse Isidoro: Há mais alegria em Deus e nos anjos por aquele que se livrou do perigo, do que por aquele que nunca conheceu o perigo do pecado; pois, quanto mais entristece a perda de algo, mais alegra reencontrá-lo (Sent., II, 14, 4).

X - O jejum

53. Disse Paulo Apóstolo: Todas as criaturas de Deus são boas e não é de rejeitar nenhum alimento, que deve ser tomado com ação de graças: ele é santificado pela Palavra (Verbum) de Deus e pela oração (I Tim 4,4-5).

54. Disse Jesus, filho de Sirach: O abstinente prolonga sua vida (Eclo 37,34).

55. Disse Jerônimo: O ventre cheio fala do jejum com facilidade (Ep. 52, 7, 2; PL 22, 533).

56. Disse Isidoro: Pelo comer, cresce a sensualidade; o jejum vence a luxúria (Syn., II, 14; PL 83, 848).

57. Disse Isidoro: Este é o jejum perfeito: quando jejua nosso homem exterior e o homem interior faz oraão (Sent., II, 44, 1; PL 83, 651).

58. Disse Isidoro: Pelo jejum, até as profundezas dos mistérios são reveladas e se manifestam os segredos dos divinos arcanos (Sent., II, 44, 2; PL 83, 651).

59. Disse Gregório: Os que praticam o jejum com arrogância, sim afligem seus corpos pela abstinência, mas são escravos do mundo por seu espírito de gula (Hom. Ev., 32, 3; PL 76, 1235).

XI - O afastamento do mundo

60. Disse o Senhor no Evangelho: Quem quer que, por amor a Meu nome, deixe casas, irmãos ou irmãs, ou pai, ou mulher, ou filhos, ou campos, receberá o cêntuplo e possuirá a vida eterna (Mt 19,29).

61. Disse Gregório: Difícil não é entregar seus bens; difícil é entregar-se a si mesmo. É mais fácil renunciar ao que se tem do que ao que se é (Hom. Ev., 5, 2; PL 76, 1233).

XII - O temor

62. Disse o Senhor no Evangelho: Não temais aqueles que matam o corpo mas não podem matar a alma; temei, antes, Aquele que pode lançar alma e corpo na gehena (Mt 10,28).

63. Disse Gregório: Temer a Deus é não omitir nada do que devemos fazer (Mor. I, 3, 3).

XIII - A virgindade

64. Disse Jerônimo: O número cem, o primeiro mencionado, corresponde à coroa das virgens, pela virgindade. O número sessenta é o das viúvas, pelo peso da continência. O número trinta, em terceiro lugar, atesta os laços do casamento por consentimento verbal e recíproco ( [17] ) (Ep. 123,8).

XIV - A justiça

65. Disse o Senhor no Evangelho: Buscai primeiro o reino de Deus e todo o resto vos será dado por acréscimo (Mt 6,33).

66. Disse o Senhor no Evangelho: Não os sãos, mas os doentes é que têm necessidade de médico. Eu não vim chamar os justos mas os pecadores (Lc 5,31-32).

67. Disse Gregório: A justiça, se não tem flexibilidade, perverte-se em crueldade ( [18] ) (Hom. Ez., I, 3, 8; PL 76, 809).

XV - A inveja

68. Disse o Senhor no Evangelho: Não julgueis uns aos outros (Mt 7,1).

69. Disse o Senhor no Evangelho: Guardai-vos do fermento dos fariseus (Mt 16,6).

70. Disse Pedro Apóstolo: Deixai toda a maldade, todo o dolo e fingimento, as maledicências e as invejas (I Pe 2,1).

71. Disse Paulo Apóstolo: A caridade não é invejosa (I Cor 13,4).

72. Disse Paulo Apóstolo: Há os que pregam a Cristo por inveja e há os que O pregam de boa vontade (Fil 1,15).

73. Disse Salomão: A vida do corpo é um coração sadio; a podridão dos ossos é a inveja (Prov 14,30).

74. Disse Salomão: Não comas com o invejoso, não desejes seus manjares, pois, tal como o adivinho, ele julga sobre o que ignora. "Come e bebe", ele te diz, mas seu coração não está contigo (Prov 23,6-7).

75. Disse Agostinho: A inveja consome toda a virtude (Serm. ad fratres in eremo 18; PL 40, 1264).

76. Disse Agostinho: Mais do que qualquer outra coisa, são a inveja e o ciúme que deixam a alma bêbada.

77. Disse Agostinho: Onde há inveja não pode haver amor fraterno (In Ep. Ioh. V, 8; PL 35, 2016).

78. Disse Agostinho: Quem inveja, não ama; o pecado do diabo está nele, pois o diabo caiu por inveja (In Ep. Ioh. V, 8; PL 35, 2016-2017).

79. Disse Agostinho: Foi por inveja que crucificaram a Cristo. E assim, quem inveja seu irmão, crucifica a Cristo.

80. Disse Jerônimo: A inveja sempre persegue as virtudes (Ep. 108, 18, 1).

81. Disse Jerônimo: Grande é a virtude daquele que, pela humildade, supera a inveja (Ep. 60, 10, 5; PL 22, 595).

82. Disse Ambrósio: O invejoso faz do bem alheio seu próprio suplício.

83. Disse Isidoro: O que para o homem bom é de proveito, é precisamente o mesmo que faz o invejoso definhar (Sent., III, 25, 1; PL 83, 700).

84. Disse Isidoro: O invejoso é um membro do diabo: pela inveja dele, entrou a morte no mundo (Sent., III, 25, 3; PL 83, 700).

85. Disse Isidoro: A inveja morde a inteligência, queima o peito, ataca o espírito. A inveja, como uma peste, devasta o coração do homem. O amor impede que nasça a inveja. (Syn., II, 37; PL 83, 854).

XVI - O silêncio

86. Disse o Senhor no Evangelho: O homem bom, do bom tesouro de seu coração, tira o que é bom; o homem mau, o que é mau (Mt 12, 35).

XVII - A soberba

87. Disse o Senhor no Evangelho: Todo aquele que se exalta será humilhado; quem se humilha será exaltado (Lc 14,11).

88. Disse Agostinho: Devemos evitar a soberba. Se ela soube enganar até os anjos, tanto mais pode ela destruir os homens.

89. Disse Jerônimo: A culpa é grave quando à inexperiência e à negligência ajunta-se a soberba (In Mt. 25, 24; PL 26, 187).

90. Disse Jerônimo: Não há nada que o cristão deva mais evitar do que o aspecto arrogante, que atrai contra si o ódio de Deus (Ep. 76, 1, 1).

91. Disse Ambrósio: A soberba fez dos anjos, demônios; a humildade torna os homens semelhantes aos santos. A vontade soberba leva a desprezar os preceitos de Deus; a humilde, a guardá-los. Os soberbos procuram que se proclame o que nem sequer fizeram; os humildes procuram não dar a conhecer o bem que realmente praticaram (Iulian. Pomer. De vita contemplativa III, 3, 1; PL 59, 478).

92. Disse Isidoro: A rainha e mãe dos vícios capitais é a soberba; sempre que se peca, há soberba (Sent., III, 37, 8; PL 83, 639).

XVIII - A sabedoria

93. Disse o Senhor no Evangelho: Sede prudentes como serpentes e simples como pombas (Mt 10,16).

94. Disse Paulo Apóstolo: A sabedoria deste mundo é tolice perante Deus (I Cor 3,19).

95. Disse Jerônimo: É muito melhor o falar não erudito do que a mentira em eloqüente discurso (Ep. 18 A, 4, 2; PL 22, 363).

96. Disse Isidoro: Conhecemos retamente a Deus quando renunciamos a conhecê-lO perfeitamente (Sent., I, 5; PL 83, 599).

97. Disse Isidoro: Ninguém é mais culpável do que aquele que ignora Deus (Sent., I, 6; PL 83, 600).

98. Disse Isidoro: Simplicidade com ignorância chama-se tolice; simplicidade com prudência, sabedoria (Sent., I, 10; PL 83, 600).

99. Disse Isidoro: Há muitos que conhecem a Deus pelos estudos, mas não O veneram pelas ações (Syn., 2, 65; PL 83, 860).

XIX - A ira

100. Disse Salomão: A resposta doce quebra a ira; uma palavra dura excita o furor (Prov 15,1).

101. Disse Jesus, filho de Sirach: Evita rixas com o iracundo (Eclo 8,19).

102. Disse Jesus, filho de Sirach: Não há cabeça pior do que a cabeça de uma cobra; não há ira pior do que a ira do inimigo (Eclo 25,22-23).

103. Disse Jesus, filho de Sirach: Lembra-te de temer a Deus e não te enfurecerás contra teu próximo (Eclo 28, 8).

XX - A vanglória

104. Disse o Senhor no Evangelho: Não busqueis fazer vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles; senão, não recebereis a recompensa de vosso Pai (Mt 6,1).

105. Disse Jerônimo: Quem não procura a glória não deve se ressentir da falta de glória (In Mt. 5, 12; PL 26, 35).

106. Disse Gregório: Os santos não só não desejam uma glória que não lhes compete, mas recusam até mesmo a que sabem possuir (Moral. 18, 8, 13; PL 76, 44).

XXI - A fornicação

107. Disse Jesus, filho de Sirach: Quem se junta aos fornicadores tornar-se-á iníquo (Eclo 19,2).

108. Disse Jesus, filho de Sirach: Ter uma mulher infiel é como apanhar um escorpião (Eclo 26,10).

109. Disse Isidoro: O adultério é a fornicação da carne; a idolatria, a do espírito (Sent., II, 39, 18; PL 83, 642).

110. Disse Isidoro: A luxúria da carne por todos é visível: por si, imediatamente, ela provoca vergonha (Sent., II, 38, 1; PL 83, 639).

111. Disse Isidoro: A luxúria prontamente toma conta dos ociosos; e se apodera dos desocupados (Syn., 2, 18; PL 83, 849).

XXII - A perseverança

112. Disse o Senhor no Evangelho: Quem perseverar até o fim será salvo (Mt 24,13).

113. Disse Jerônimo: Não se olha nos cristãos os inícios, mas o fim: Paulo começou mal e acabou bem; pelos começos, Judas foi louvável, mas sua perdição final o condena (Ep. 54, 6, 4; PL 22, 552).

XXIII - A segurança

114. Disse o Senhor no Evangelho: Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora (Mt 24,42).

115. Disse Jerônimo: Toda a vida do sábio é meditação sobre a morte (Ep.60,14).

XXIV - A tolice

116. Disse o Senhor no Evangelho: Todo aquele que ouve minhas palavras e não as põe em prática é semelhante a um tolo (Mt 7,26).

117. Disse Salomão: O tolo é ferido por seus lábios (Prov 10,8).

118. Disse Salomão: O tolo é castigado por seus lábios (Prov 10,10).

119. Disse Salomão: A boca do tolo é a perturbação do próximo (Prov 10,14).

120. Disse Salomão: O sábio cala sua sabedoria; o coração dos insensatos proclama sua tolice (Prov 12,23).

121. Disse Salomão: Tolice, alegria do tolo (Prov 15,21).

122. Disse Salomão: Melhor topar com uma ursa procurando seus filhotes do que com o fátuo apregoando sua tolice (Prov 17,12).

123. Disse Salomão: De que adianta ao tolo ter riquezas, se a sabedoria não se pode comprar? (Prov 17, 16)

124. Disse Jesus, filho de Sirach: Agüentar a conversa do tolo é como carregar um fardo pelo caminho (Eclo 21,19).

XXV - A avareza

125. Disse Agostinho: Assim como a avareza costuma levar ao inferno, o jugo de Cristo eleva ao Céu.

126. Disse Jerônimo: A avareza desconhece medida: devorando tudo, nunca se sacia.

XXVI - As virtudes

127. Disse Agostinho: A maldade se combate com a virtude; a cizânia luta com o trigo.

128. Disse Gregório: Sim, o saber é uma virtude, mas a humildade é a guardiã da virtude (Hom. Ev., 7, 4; PL 76, 1102).

129. Disse Gregório: Desejai companheiros no caminho que leva a Deus (Hom. Ev., 6, 6; PL 76, 1098).

130. Disse Isidoro: À virtude, elevamo-nos com esforço; no vício, caímos sem dificuldade (Sent., II, 36; PL 83, 637).

131. Disse Isidoro: Primeiro devem se extirpar os vícios, e só depois florescem as virtudes. Isto porque não há contato nem união da verdade com a mentira (Sent., II, 36, 6; PL 83, 637).

132. Disse Gregório: Quando é ainda por temor que praticamos o bem, não nos desvencilhamos totalmente do mal. Se o temor reprime o vício, do amor é que surgem as virtudes: fé, esperança e caridade (Moral. I, 26, 37; PL 75, 544).

XXVII - Os vícios

133. Disse Jerônimo: Não há purificação dos vícios senão pela aquisição das virtudes (In Mt. 9, 20).

134. Disse Jerônimo: Imersos em vícios, são incapazes de ver as virtudes (Cod. Lyon 600, f. 9).

135. Disse Isidoro: Renuncia de verdade ao vício quem evita a ocasião de pecar (Sent., II, 32, 4).

XXVIII - A embriaguez

136. Disse Basílio: O Senhor deu-nos o vinho para alegria do coração e não para a embriaguez.

XXIX - O dízimo

137. Disse Agostinho: O dízimo é oferenda para os pobres.

XXX - A cobiça

138. Disse o Senhor no Evangelho: Quão difícil é para os que põem sua confiança no dinheiro entrarem no reino de Deus! (Mc 10,24).

139. Disse Ambrósio: Cobiça e soberba são a tal ponto um só mal, que não se pode encontrar um soberbo que não seja cobiçoso, nem cobiça sem soberba.

140. Disse Isidoro: Os bafejados pela glória humana podem ter, por fora, o brilho do poder; mas, por dentro, são vazios, tudo não passa de inchaço de soberba (Sent., III, 59,2).

141. Disse Isidoro: Não podem ter o espírito livre para contemplar a Deus, enquanto ardem em desejos e cobiças deste mundo. Pois o olho que se encerra no pó não pode contemplar o céu (Sent., III, 41, 2; PL 83, 645).

XXXI - A correção

142. Disse Isidoro: Os justos aceitam de modo salutar a repreensão pelos seus desvios (Sent., III, 32; PL 83, 704).

143. Disse Isidoro: Aquele que não se emenda com palavras brandas deve ser repreendido com severidade. Deve-se amputar com dor os membros que não se curam com tratamento suave (Sent., III, 46, 11; PL 83, 716).

XXXII - Os que governam e ensinam

144. Disse Agostinho: Quem manda não se julgue investido do poder para dominar, mas, do amor, para servir (Regula ad servos Dei 7; PL 32, 1381).

145. Disse Jerônimo: Ao falar de Deus, deves adequar o discurso de modo a nutrir ouvintes diversos: que cada um receba o alimento de modo proporcionado a seu estômago (In Mt. 13,31).

146. Disse Jerônimo: O dever dos doutores é estender a mão a quem caiu e mostrar o caminho a quem se desviou (In Io. 4, 10; PL 25, 1151).

147. Disse Jerônimo: O orador sábio procura, em seus discursos, atingir a muitos com poucas palavras (Cod. Paris, B. N., Nouv. acq. lat. 446, f. 16).

148. Disse Jerônimo: O discurso do sacerdote deve estar temperado com o sal das Sagradas Escrituras (Ep. 52, 8, 1; PL 22, 534).

149. Disse Jerônimo: Quando se prega na igreja, deve-se despertar não o clamor, mas a contrição: que as lágrimas dos ouvintes sejam seu louvor (Hilberg I, 428, 16).

150. Disse Jerônimo: A alma da arte de ensinar é o exemplo (Ep. 69, 8, 7; PL 22, 662).

151. Disse Gregório: Quem não tem amor pelos outros não deve, de modo algum, dedicar-se ao ensino (Hom. Ev., 17, 1; PL 76, 1139).

152. Disse Gregório: Maior o cargo, maior o perigo.

153. Disse Isidoro: Não deve ser promovido a cargos de governo na Igreja quem ainda está sujeito aos vícios (Sent., III, 34; PL 83, 706).

XXXIII - A fé

154. Disse Agostinho: Para aqueles que crêem, a noite torna-se dia; para os que não têm fé, a própria luz torna-se treva. A fé tem tal poder que faz os homens andarem a pé sobre as águas.

155. Disse Agostinho: Grande é a fé, mas de nada serve se não tiver amor (In Ioh. Ev. Vi, 21).

156. Disse Gregório: De que vale estarmos unidos a nosso Redentor pela fé, se nossa conduta nos afasta dele? (Hom. Ev. 26, 9; PL 76, 1202)

XXXIV - A esperança

157. Disse Tiago Apóstolo: Aquele que duvida é semelhante à onda do mar que o vento agita e leva para lá e para cá (Tg 1,6).

XXXV - Os dons

158. Disse Gregório: O bem que recebemos na tranqüilidade manifesta-se na tribulação (Moral. Praefatio; PL 75, 519).

159. Disse Gregório: Há alguns que receberam o dom da inteligência, mas têm sensibilidade somente para as coisas da carne (Hom. Ev., 9, 1; PL 76, 1107).

160. Disse Isidoro: Embora pequemos, Deus não nos retira seus dons, a fim de que o espírito humano se alce à esperança do perdão divino (Sent., II, 5, 1; PL 83, 604).

161. Disse Isidoro: DEle procedem, junto com a graça, todos os bens (Sent., II, 5, 2).

XXXVI - A discórdia

162. Disse Gregório: Deus é na unidade e merecem Sua graça os que não se separam uns dos outros por seitas escandalosas (Hom. Ev., 22, 4; PL 76, 1176).

163. Disse Gregório: Que sacrifício de misericórdia pode oferecer quem está em discórdia com seu próximo?

XXXVII - O juramento

164. Disse o Senhor no Evangelho: Ouvistes o que foi dito aos antigos: "Não perjurarás, mas cumprirás teus juramentos ao Senhor"; eu, porém, vos digo: Não jureis em absoluto, nem pelo céu, nem pela terra (Mt 5,33-34).

165. Disse Isidoro: Jurar não é contrário à ordem de Deus, mas, jurando, corremos o risco do perjúrio. E assim, não jure nunca aquele que teme o perjúrio (Sent., II, 31, 2; PL 83, 633).

166. Disse Isidoro: Na maior parte das vezes, dispomo-nos a falar sem recorrer a juramento, mas a incredulidade dos que não crêem no que dizemos leva-nos a jurar (Sent., II, 31, 6).

XXXVIII - O pensamento

167. Disse Gregório: A vontade não disciplinada nos pensamentos passa a imperar, também, na ação.

168. Disse Gregório: Tudo o que um tanto inadvertidamente cogitamos está, por assim dizer, sendo cozinhado no espírito (Hom. Ev., 22, 8; PL 76, 1179).

169. Disse Isidoro: Dupla é a causa do pecado: de ação e de pensamento; a que se chama iniqüidade realiza-se pela ação; a outra, a injustiça, pelo pensamento (Sent., II, 25, 1).

XXXIX - A mentira

170. Disse Isidoro: O mentiroso começa sempre por dizer a verdade para, uma vez adquirida a confiança, tornar seus ouvintes propensos a acreditar em suas mentiras (Sent., II, 30, 2).

171. Disse Isidoro: Para muitos, o que é falso parece verdade porque falam, não a partir de Deus, mas de seu falso ponto de vista (Sent., II, 30, 3; PL 83, 632).

XL - Os monges

172. Disse Paulo Apóstolo: Todos aqueles que se dedicam à luta, de tudo se abstém: eles, para alcançar uma coroa perecível; nós, imperecível (I Cor 9,25).

173. Disse Jerônimo: O monge deve desejar especialmente a solidão e fugir das cidades (Ep. 46, 12, 2).

174. Disse Gregório: Monge que busca haveres não é monge (Dialog., 3, 14).

XLI - A detração

175. Disse Agostinho: Não fales mal e não ouças falar mal de ninguém.

XLII - As vontades

176. Disse Agostinho: Tudo o que Deus quer de nós é uma vontade boa.

177. Disse Gregório: Aos olhos do Senhor, uma mão nunca está vazia de oferendas, se a arca do coração está repleta de boa vontade (Hom. Ev., 5, 3; PL 76, 1094).

XLIII - As vestes

178. Disse Gregório: Ninguém procura vestes caras senão por vanglória, isto é, para ostentar maior posição que os outros: ninguém se ocupa de vestir-se bem onde ninguém o possa ver (Hom. Ev., 40, 3; PL 76, 1305).

XLIV - A misericórdia

179. Disse Cipriano: Não pode merecer a misericórdia de Deus quem não for misericordioso. Nada obterá da divina bondade com suas súplicas quem não agir com humanidade ante as súplicas do pobre (De op. et eleem.; PL 4, 606).

XLV - A compaixão para com o próximo

180. Disse Gregório: Quem acolhe a dor do sofrimento de outro carrega a cruz em espírito (Hom. Ev., 37, 5; PL 76, 1277).

181. Disse Gregório: Não há outro meio de nos tornarmos membros de nosso Redentor senão unindo-nos a Deus e compartilhando a dor do próximo (Hom. Ev., 39, 9; PL 76, 1300).

XLVI - O orgulho

182. Disse o Senhor no Evangelho: Quem se eleva será humilhado (Lc 18,14).

XLVII - A vida do homem

183. Disse o Senhor no Evangelho: Não vos preocupeis sobre o que vestireis; vossa alma é mais do que o alimento (Mt 6,25).

XLVIII - Os presentes

184. Disse o Senhor: Os presentes cegam os olhos dos sábios e alteram as palavras dos justos (Dt 16, 19).

XLIX - As esmolas

185. Disse Gregório: Quando damos aos indigentes o que lhes é necessário estamos dando o que lhes é devido e não fazendo um ato de generosidade (Pastor. 3, 21; PL 77, 87).

L - A tribulação

186. Disse o Senhor: Eu, aos que amo, repreendo e corrijo (Apoc 3,19).

187. Disse Paulo Apóstolo: É por meio de muitas tribulações que devemos entrar no reino de Deus (At 14,22).

188. Disse Agostinho: Quem não merecer ser atribulado neste mundo será torturado no inferno.

189. Disse Jerônimo: A cólera terrível de Deus é a que não se encoleriza contra os pecadores. Médico, quando deixa de aplicar tratamento, é porque desesperou (Ep. 68, 1, 5; PL 22, 652).

LI - As primícias ou oferendas

190. Disse Salomão: Os sacrifícios dos ímpios são abomináveis para o Senhor; os dos justos, aplacam-no (Prov 15,8).

LII - A tristeza

191. Disse Isidoro : Queres estar sempre longe da triste? Vive bem. Para quem guarda a consciência, a tristeza não pesa. O bem viver traz sempre consigo a alegria; já a consciência culpada sempre sofre: a alma culpada sempre está insegura (Syn., 2, 61; PL 83, 859).

LIII - A beleza

192. Disse Basílio: Cristo se compraz com a beleza da alma, não com a do corpo. Ama tu também o que agrada a Deus.

LIV - As refeições

193. Disse Jerônimo: Se fores convidado a comer com um pecador, vai, para que possas dar a quem te convidou teus alimentos espirituais (In Mt. 9, 13; PL 26, 56).

194. Disse Gregório: Enquanto o corpo se distende no prazer das refeições, o coração se abandona a uma vã alegria: sempre a loquacidade se segue aos banquetes; com o estômago cheio, a língua fica sem freio (Moral. I, 8, 10; PL 75, 532).

LV - O riso e o pranto

195. Disse Agostinho: Mais vale a tristeza de quem sofre uma injustiça do que a alegria de quem a comete (En. in Ps. 56, 14; PL 36, 671).

196. Disse Jerônimo: Se a sorte te sorri, não te tornes arrogante; se te sobrevém a desgraça, não te deprimas.

LVI - O honrar os pais

197. Disse Jerônimo: Honra teu pai, desde que ele não te separe do verdadeiro Pai; reconhece o vínculo do sangue, na medida em que ele reconheça seu Criador (Ep. 54, 3; PL 22, 551).

LVII - Os filhos

198. Disse Paulo Apóstolo: Isto é justo: obedecei a vossos pais no Senhor (Ef 6,1).

199. Disse Salomão: Quem poupa seu filho à vara, odeia-o; quem o ama, aplica-se a corrigi-lo (Prov 13,24).

LVIII - Os ricos e os pobres

200. Disse o Senhor no Evangelho: Ai de vós, ó ricos, porque já tivestes vosso consolo (Lc 6,24).

201. Disse Isidoro: A posse de bens terrenos, se não é para refazer a vida dos miseráveis, é uma tentação. Os ganhos deste mundo causam tanto mais suplícios quanto maiores eles são (Sent., III, 60; PL 83, 733).

202. Disse Isidoro: Não por muito tempo podemos estar com nossas riquezas: ou nós as abandonamos, morrendo; ou, vivendo, elas nos abandonam (Sent., III, 60, 3; PL 83, 733).

LIX - A acepção de pessoas

203. Disse Jerônimo: Justo é o julgamento em que se consideram não as pessoas, mas os atos (In Mt. 16, 27; PL 26, 121).

204. Disse Isidoro: Ao julgar, não consideres a pessoa, mas a causa (Sent., III, 53, 1).

LX - O caminho

205. Disse o Senhor no Evangelho: Entrai pela porta estreita, porque largo e espaçoso é o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ele. Quão estreita é a porta que conduz à vida e quão poucos os que a encontram! (Mt 7,13-14)

206. Disse Paulo Apóstolo: Vede, irmãos, o modo como caminhais: não como tolos, mas como sábios (Ef 5,15).

207. Disse Gregório: Tolo é o viajante que, vendo no caminho uma pradaria agradável, esquece o caminho que empreendia (Hom. Ev., 14, 6; PL 76, 1130).

LXI - O senso

208. Disse Jesus, filho de Sirach: Honra e glória no falar do homem sensato; a língua do insensato é sua ruína (Eclo 5,15).

LXII - Os servos e os senhores

209. Disse Paulo Apóstolo: Senhores, dai a vossos servos o que é justo e eqüitativo, sabendo que também vós tendes um Senhor no Céu (Col 4,1).

210. Disse Cipriano: Sê para teu servo tal como desejas que o Senhor em relação a ti o Senhor (Adm. ad fil. 49, 17-18; PL 103, 693).

LXIII - Os bons e os maus

211. Disse Paulo Apóstolo: Nós vos rogamos, irmãos, que vos afasteis de todo irmão que não anda pelo bom caminho (II Tess 3, 6).

212. Disse Isidoro: Assim como é de desejar que os bons tenham paz entre si assim, também, que os maus se digladiem (Sent., III, 31, 2; PL 83, 703).

LXIV - A amizade e a inimizade

213. Disse Jesus, filho de Sirach: Volta-te para teus amigos e afasta-te de teus inimigos. Um amigo fiel é uma poderosa proteção; quem o encontra, encontra um tesouro. Nada se pode comparar a um amigo fiel (Eclo 6,13-15).

214. Disse Jesus, filho de Sirach: Quando tudo corre bem, não se conhece quem é amigo de verdade; em tempos de desgraça, manifesta-se quem é inimigo (Eclo 12,8).

215. Disse Jerônimo: Nos amigos não se buscam os bens, mas o querer (Ep. 68, 1; PL 22, 651).

216. Disse Jerônimo: Não há distância que separe aqueles que estão unidos pelo amor (Epist. 71, 7, 2; PL 22, 672).

217. Disse Isidoro: O amigo é verdadeiramente amado somente se é amado, não por ele mesmo, mas por Deus. Quem não sabe amar verdadeiramente ama para seu próprio proveito e não por Deus (Sent., III, 28, 53; PL 83, 702).

218. Disse Isidoro: Há alguns que quando atingem altas posições, desdenham ter por amigos aqueles que, antes, tinham por íntimos (Sent., III, 29, 6; PL 83, 703).

LXV - Os conselhos

219. Disse Jesus, filho de Sirach: Que sejam muitas as pessoas com quem tenhas boas relações; conselho, porém, toma de um em mil (Eclo 6,6).

220. Disse Jesus, filho de Sirach: Não faças nada sem conselho e não te arrependerás (Eclo 32,24).

221. Disse Jesus, filho de Sirach: Não dês conselho aos que te invejam (Eclo 37,7).

222. Disse Basílio: Em toda ação que pretendes realizar, antes considera atentamente diante de Deus se ela está de acordo com Deus. Se estiver, realiza-a; se não, arranca-a de teu espírito (Adm. ad fil. 12; PL 103, 694)

LXVI - Os mortos

223. Disse João Apóstolo: Bem-aventurados os mortos que morrem no Senhor (Apoc 14,13).

224. Disse Isidoro: O amor leva-nos a chorar pelos fiéis defuntos; a fé, porém, leva a não nos afligirmos por eles (Sent., III, 62, 12; PL 83, 738)

LXVII - O auxílio de Deus

225. Disse Paulo Apóstolo: Se Deus é por nós, quem será contra nós? (Rom 8,31).

226. Disse Paulo Apóstolo: Não pelo homem que quer ou que corre, mas pela misericórdia de Deus (Rom 9,16).

227. Disse Jerônimo: Feliz aquele para quem a esperança é Deus e toda ação, oração.

LXVIII - Os velhos e os jovens

228. Disse o Senhor no Evangelho: Deixai vir a mim os pequeninos, pois deles é o reino dos céus (Mt 19,14).

229. Disse Salomão: A alegria dos jovens, sua força; a dignidade dos velhos, suas cãs (Prov 16,31).

LXIX - As desavenças

230. Disse Gregório: Todos os hereges, querendo agradar a Deus, ofendem-nO (Moral., 11, 1, 1; PL 75, 953).

231. Disse Isidoro: Por nenhuma razão entres em discussão, pois as discussões conduzem ao litígio. As discussões geram as rixas. A discussão deflagra o ódio e dissolve a concórdia (Syn., II, 39; PL 83, 854).

LXX - A vida alheia

232. Disse Agostinho: Ah, quão irrepreensíveis seríamos se cuidássemos de evitar nossos próprios vícios com o mesmo empenho com que bisbilhotamos os dos outros! Mas porque esquecemos dos nossos é que nos ocupamos dos defeitos alheios.

233. Disse Jerônimo: Guarda-te de cometer o mesmo erro que te propões corrigir.

234. Disse Jerônimo: Ao investirem contra os erros alheios, manifestam os seus próprios...

235. Disse Gregório: Menos devemos nos atrever a censurar o que os outros têm no coração quanto mais conscientes estamos de que nosso olhar é incapaz de penetrar na intimidade dos pensamentos alheios (Moral. I, 9,; PL 75, 533).

LXXI - A mansidão e a temeridade

236. Disse o Senhor no Evangelho: Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração (Mt 11,29).

237. Disse Agostinho: Há alguns que, sendo inferiores por sua iniqüidade, ainda se julgam superiores a todos os homens (En. in Ps. 124, 1; PL 37, 1648).

LXXII - Os juízes e os governantes

238. Disse o Senhor no Evangelho: Não julgueis e não sereis julgados. Pois, segundo o julgamento que julgardes, sereis julgados; e com a medida com que medirdes, sereis medidos (Mt 7,1-2).

239. Disse Jerônimo: Não nos alegremos com os elogios dos homens; não temamos as críticas dos homens.

240. Disse Jerônimo: Se queremos agradar a Deus, não temamos as ameaças dos homens.

LXXIII - A simplicidade

241. Disse o Senhor no Evangelho: Sede prudentes como serpentes e simples como pombas (Mt 10,16).93.

242. Disse Jerônimo: Que o homem rústico e simples não se julgue santo porque nada sabe; e que o homem culto e instruído não pense que a santidade consiste na erudição (Ep., 52, 9, 3; PL 22, 579).

243. Disse Jerônimo: A estrutura espiritual é a articulação de: fé firme no coração, elmo da salvação na cabeça, sinal de Cristo na fronte, palavra de verdade na boca, vontade boa no espírito, amor de Deus no peito, cíngulo de pureza nas paixões, retidão no agir, sobriedade no convívio, constância na bondade, humildade no sucesso, paciência na tribulação, esperança na oração, amor à vida eterna, perseverança até o fim.

LXXIV - Os médicos

244. Disse o Senhor no Evangelho: Não os sãos, mas os doentes é que têm necessidade de médico (Lc 5,31).

245. Disse Jesus, filho de Sirach: Honra o médico, porque ele é necessário: o Altíssimo o criou. De Deus é que vem todo remédio (Eclo 38,1-2).

246. Disse Cipriano: É necessário abrir a ferida, cortá-la, expelir o pus e aplicar-lhe remédio forte. O doente, que mal suporta a dor, grita e vocifera; mas, depois, ao recobrar a saúde, agradecerá (De lapsis, 14; PL 4, 447-448).

LXXV - A ligação com Deus

247. Disse o Senhor no Evangelho: Tudo o que ligardes na terra será ligado nos céus (Mt 16,19).

248. Disse Gregório: Aqueles a quem Deus onipotente visita pela graça do arrependimento, Ele os absolve pela sentença do pastor (Hom. Ev., 26, 6; PL 76, 1200).

LXXVI - O exemplo

249. Disse Isidoro: Se tivemos disposição para imitar os iníquos no mal, por que a displicência para imitar os justos no bem? (Sent., II, 7; PL 83, 612)

LXXVII - Os discípulos

250. Disse Jerônimo: Guarda-te de ser mestre antes de ser discípulo; de ser soldado antes de ser recruta (Ep. 125, 8, 2; Hilberg III, 127, 10).

251. Disse Jerônimo: O homem de estudos e sábio, mesmo quando quer aprender algo, ensina: pelo modo sábio com que interroga (Ep. 53, 3, 7; PL 22, 543).

252. Disse Jerônimo: Há alguns, com extrema propensão a falar, que têm o atrevimento de explicar o que eles mesmos não entenderam (Ep. 7, 1; Hilberg I, 453).

253. Disse Cipriano: Aprimora seu ensino aquele que cada dia cresce e se aprofunda na arte de aprender o melhor (Ep. 74, 10; PL 3, 1135).

254. Disse Cipriano: O ensino é: guardião da esperança; reservatório da fé; traçou o caminho da salvação; exprime e realiza uma personalidade sólida; é mestre de virtude; faz permanecer sempre em Cristo, viver para Deus e atingir as promessas celestes e as divinas recompensas (De hab. virg., I; PL 4, 440-441).

LXXVIII - A tentação e o martírio

255. Disse Jerônimo: Não é só o derramamento de sangue que tem o valor de testemunho de fé, mas a perfeição do servir com amor é também um cotidiano martírio (Ep. 108, 31, 1; PL 22, 905).

256. Disse Isidoro: O diabo é uma serpente escorregadia; se não se lhe ataca a cabeça (isto é, já à primeira insinuação), ele se infiltra inteiramente, sem que reparemos, no íntimo do coração (Sent., III, 5, 14; PL 83, 663).

LXXIX - As palavras ociosas

257. Disse o Senhor no Evangelho: Eu vos digo: por toda palavra ociosa proferida pelos homens dar-se-á conta no dia do juízo. Cada um será justificado ou condenado por suas palavras (Mt 12,36-37).

258. Disse Gregório: Palavra ociosa é aquela que carece da retidão que a tornaria útil ou de uma razão de justa necessidade (Hom. Ev., 6, 6; PL 76, 1098).

LXXX - A brevidade da vida presente

259. Disse Salomão: Há tempo para nascer e tempo para morrer (Ecl 3,2).

260. Disse Jerônimo: Breve é a felicidade desta vida; pobre, a glória deste mundo; caduco e frágil, o poder temporal. Diz-me: onde estão os reis; onde, os príncipes, os imperadores, os ricos, os poderosos deste mundo? Sim, como uma sombra, passaram; como um sonho, desvaneceram-se; pode-se procurá-los, mas já não existem. As riquezas conduzem ao perigo, muitos ruíram por sua opulência; para muitos, as riquezas causaram a morte.

261. Disse Isidoro: O tecido desfaz-se fio a fio; a vida do homem consome-se dia a dia (Sent., III, 61, 3; PL 83, 736).

LXXXI - As leituras

262. Disse o Senhor no Evangelho: Quem lê, entenda (Mt 24,25).

263. Disse o Senhor no Evangelho: A quem muito foi dado, muito ser-lhe-á pedido (Lc 12,48).

264. Disse Isidoro: Quem quer sempre estar com Deus deve freqüentemente orar e freqüentemente ler. Pois, quando oramos, somos nós que falamos com Deus; quando lemos é Deus quem nos fala. Todo progresso espiritual procede da leitura e da meditação. O que ignoramos, aprendemos na leitura; o que aprendemos, conservamo-lo pela meditação (Sent., III, 8, 2; PL 83, 679)

265. Disse Isidoro: Ninguém pode conhecer o sentido das Sagradas Escrituras senão pela leitura freqüente (Sent., III, 9, 1; PL 83, 680).

Terminado com êxito. Graças a Deus. Amém.



[1] . O autor menos antigo citado é Isidoro de Sevilha (c. 560-636).

[2] . Primeiro mosteiro francês (depois abadia beneditina), fundado em 361 por S. Martinho em Ligugé nos arredores de Poitiers.

[3] . Se tomarmos como referência o texto da Vulgata.

[4] . Cerca de 400 sentenças.

[5] . Cerca de 250 sentenças.

[6] . Cerca de 400 sentenças.

[7] . Cerca de 250 sentenças.

[8] . Cerca de 200 sentenças.

[9] . Cerca de 100 sentenças.

[10] . Ou "Disse Paulo Apóstolo...", ou alguma sentença neo-testamentária.

[11] . Defensor de Ligugé - Livre d'étincelles, Paris, Cerf, 1961-1962, 2 vols.

[12] . Quando falta esta indicação, trata-se de citação não localizada por Rochais, ou de sentença erradamente atribuída ao autor por Defensor.

[13] . 137 das 178 sentenças que recolhemos dos Padres da Igreja encontram-se em PL, a Patrologia Latina de Migne.

[14] . Os cristãos - é a doutrina paulina (I Cor 12,27; Ef 4,15-16; etc.) - são membros de um corpo místico, do qual Cristo é a Cabeça.

[15] . Como nota Rochais, para boa parte das citações de Jerônimo, Defensor valeu-se de um florilégio anterior, que por vezes altera significativamente o enunciado. Também em algumas sentenças de outros autores há modificações (cfr. Rochais I, 5).

[16] . Jerônimo reafirma a tese - já presente, por exemplo, no Górgias de Platão - de que praticar uma injustiça é, acima de tudo, atentar contra si mesmo, contra sua própria integridade como homem.

[17] . Os números referem-se aos frutos da parábola (cfr. Mt 13,8).

[18] . Iustitia, si modum non habet, in crudelitatem cadit. Profunda constatação que manifesta a insuficiência da crua justiça, "sem modos", sem a flexibilidade de saber adaptar-se aos casos concretos.