Home | Novidades Revistas Nossos Livros  Links Amigos

Dora Incontri
Pós-doutoranda FEUSP
Apoio Fapesp

 

As fábulas, os mitos, as parábolas são fecundos para impregnar de impressões positivas e provocar reflexões nas crianças (e nos adultos), numa proposta de educação para a Ética. Mas como qualquer recurso para despertar uma discussão e deixar uma semente de valor ou de idéia, devem ser contextualizados e trabalhados interdisciplinarmente.

Como exemplo, duas fábulas que foram originalmente concebidas por Esopo, transformadas em poesia por La Fontaine, e aqui estão traduzidas de forma simples e agradável para as crianças. As fábulas têm essa vitalidade permanente e atemporal, que está acima das idades e das épocas, mas para que se enraízem no coração das crianças, devem ser contadas, recontadas, discutidas, analisadas, declamadas, dramatizadas, desenhadas e recriadas, de modo que renasçam a cada instante em suas palavras e produções.

Costumo trabalhar essas fábulas, contando quem foi Esopo, falando então da Grécia Antiga, contando quem foi La Fontaine, fazendo pesquisas, mostrando figuras e olhando mapas, para identificar a França e a época desse autor e, por fim, propondo questões e produções, para que as crianças fixem na alma o que elas querem dizer.

O avarento que perdeu seu tesouro

Dinheiro só tem valor
se o usamos sabiamente.
Que adianta, tendo dinheiro,
viver miseravelmente?

A pessoa com mania
de só guardar e guardar,
é tão pobre quanto a outra
que não tem o que gastar.

Na verdade, o avarento,
de rico, vira mendigo,
como na história de Esopo,
que exemplifica o que digo.

Um infeliz avarento
o seu tesouro escondia,
não possuía seu ouro,
o ouro é que o possuía.

Cavou um buraco fundo
e enterrou todo o dinheiro
e, com ele, guardou junto
o seu coração inteiro.

Pensava nesta fortuna,
dia e noite, noite e dia,
comendo, bebendo, andando
a mente prá lá fugia.

E tanto foi ao lugar,
onde escondia o tesouro,
que um coveiro percebeu,
cavou e levou o ouro.

Noutro dia, o avarento
achou a cova vazia
e entre lágrimas, suspiros,
gritava, arfava, gemia.

Um passante quis saber
o motivo de tal choro.
O avarento respondeu:
– Roubaram o meu tesouro.

Ué! –Tornou o passante
Pois não há nenhuma guerra,
por que escondê-lo longe,
embaixo de tanta terra?

Não era melhor guardá-lo
com você, no próprio quarto,
usando a todo o momento
deste dinheiro tão farto?

– A todo momento?! Ó deuses!
Gritou o nosso pão-duro –
Nunca toquei no tesouro,
estava aqui, bem seguro!

O passante disse então:
– Se o ouro a nada servia,
guarde uma pedra na cova,
será de igual serventia!

                 ***

O Leão e o Rato

É bom sempre que se possa
a todo mundo ajudar,
pois mesmo dos pequeninos
poderemos precisar!

Desta verdade bem certa
esta história vai falar,
mostrando como ela vale
em qualquer tempo ou lugar!

Um dia, um pobre ratinho
se viu aterrorizado
entre as patas de um leão…
E achou: “serei devorado”.

Mas neste dia o leão
generoso, deu-lhe a vida,
deixou o rato ir embora
sem dele fazer comida!

Esta bondade leonina
o rato iria pagar!
Mas um leão poderia
de um ratinho precisar?

Pois foi o que aconteceu:
um belo dia o leão
foi preso por grossa rede,
rugindo em grande aflição!

Senhor rato o socorreu
usando o pequeno dente,
paciente roeu a rede
livrando o leão valente!

Assim, pequenino e fraco
pagou o seu benfeitor.
Mostrou que a força não vale
tanto quanto vale o amor!

 

O que é filosofia?

                         Dora Incontri

O que é filosofia?
Perguntam todos perplexos.
Será um monte de livros,
Com discursos desconexos?

Será um bicho difícil,
que pode nos devorar,
se não formos muito espertos,
para a resposta encontrar?

Na filosofia mesmo,
nada deve ser complexo,
podemos fazê-la fácil,
numa lógica com nexo.

Filosofia é uma forma
de perguntar as questões,
que mais afligem o homem,
que mais nos dão comichões.

É perguntar sobre a vida
querer saber sobre a morte,
é um olhar para o universo
é um indagar sobre a sorte…

Filosofia faz parte
da vida de cada dia
porque pergunta os porquês
que a nossa razão afia.

Filósofo é qualquer um
que pára à beira da estrada
para pensar sobre as coisas
e ver que não sabe nada.

Filósofo deve ser
quem não quiser vegetar,
passando a vida sem rumo
sem um sentido encontrar.

Portanto filosofemos,
buscando sabedoria,
pois num bom filosofar,
teremos mais harmonia.