Summum
Verum...
Profa.
Dra. Gabriele Gregersen
(Universidade ABC - São Paulo)
Era uma vez um casal de texugos que morava numa cova simples,
mas confortável. Apaixonaram-se, assim que se conheceram. Como
se diz entre os texugos, "Quem tem toca, toca em frente".
Além disso, eles tinham em comum um forte respeito pela natureza
e por seu Criador. Isso os unia.
Foi assim que firmaram um compromisso firme. Sra. Texugo fez
de tudo para tornar o lar agradável e aconchegante. De vez em
quando, tinham visitas em casa, ou então, saíam a sós ou com
amigos. Aos domingos, normalmente iam almoçar com os parentes
da Sra. Texugo.
Sr. Texugo, que a princípio não gostava muito de trabalhar,
via agora algum sentido no esforço. Trabalhava à noite numa
mina e ia assumindo cada vez mais tarefas, para mostrar o seu
valor para a Sra. Texugo. A Sra. Texugo, em resposta, também
se esforçava nas tarefas domésticas.
Quando o Sr. Texugo chegava em casa, contudo, estava tão cansado
que nem reparava nas coisas que Sra. Texugo havia feito com
tanto empenho durante o dia. Por outro lado, também não falava
das coisas que fazia. Um não entendia e não se interessava pelo
que fazia o outro. Como se diz entre os texugos "faro vem
de berço".
Assim, suas conversas foram se reduzindo às coisas da casa e
ao pagamento das contas.
Além disso, é claro que a Sra. Texugo também tinha graves defeitos,
tais como virar cada centavo antes de gastá-lo, ter um senso
crítico acima da média e certa dose exagerada de fantasia.
O Sr. Texugo, ao contrário, não tinha muitos defeitos. Era simples
e não era muito exigente nas coisas cotidianas. Acontece que,
às vezes, quando estava com preguiça de conversar com a Sra.
Texugo ou queria evitar confusão e brigas, soltava uma e outra
mentirinha.
Sra. Texugo, que sempre teve princípios muito claros na cabeça,
ficava muito brava com isso, pois, como se diz entre os texugos:
"A verdade tem grandes ouvidos".
Certo dia, o Sr. Texugo convidou a esposa para sair. Abaixando
a voz e os olhos confessou que havia devorado os ovos do galinheiro
do Sr. João, pequeno proprietário, a quem pertenciam as terras
da toca dos texugos.
- Não sei explicar, mas você nunca olhava para mim e nem prestava
atenção nos meus problemas. Então fiz esta loucura. Você pode
me perdoar?
A Sra. Texugo empalideceu e, após alguns instantes, disse que
levaria algum tempo, sim, mas achava que podia perdoar, com
ajuda do Criador.
Algum tempo depois, os colegas do Texugo acusaram-no de algo
muito pior: devorar os ovos do galinheiro do Sr. Pedro, o maior
fazendeiro da região.
O
Sr. Texugo negou tudo.
Mas,
depois disso, pela primeira vez na vida profissional do Texugo,
alguns colegas até passaram a admirá-lo e respeitá-lo mais pela
coragem de invadir o galinheiro do temível Sr. Pedro. Embora
não faltassem outros que o recriminavam pelo egoísmo de não
ter dividido com seus semelhantes o produto da rapina.
Sra. Texugo ficou muito confusa com os boatos e não sabia mais
no que acreditar.
Então tomou uma das piores decisões de sua vida: passou um "sermão"
no marido a respeito da importância da verdade e do compromisso
para o sucesso de qualquer relacionamento. Como dizem os texugos:
"Os olhos do Criador estão por todo lugar". E, quando
uma pessoa diz algo com sinceridade, deve cumprir o que disse,
a menos que se arrependa e perceba que cometeu um grave erro.
Sr. Texugo concordou com tudo e disse:
- Então, para ser sincero, não agüento mais viver assim e não
agüento mais você. Vou embora.
E foi o que ele fez. Depois disso, o Sr. e a Sra. Texugo nunca
mais se viram.
E ninguém nunca ficou sabendo, quem foi que devorou os ovos
da fazenda do Sr. Pedro....
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