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Ricardo Hage de Matos
Professor da FASM
Mestre e Doutorando em Educação PUC-SP

 

Ao longo destes anos de prática docente e pesquisa, tanto científica como artística, uma coisa sempre pareceu-me muito certa: eu era uma pessoa sem força!

Força no sentido de pressão, de uma presença que se destaca, talvez até a força no sentido do uso que desta faz a liderança.

Fazia sentido pensar assim. Minha postura perante o mundo poderia ser entendida no contexto do fracassado escolar. Como pude compreender em minha dissertação de mestrado [1] , só não fora um fracassado escolar por causa do currículo paralelo [2] que a ficção científica havia me dado. Mas essa luta contra o fracasso nunca fora uma luta onde havia o embate de forças: lutava quase como que numa resistência passiva. Sim, sei que esse tipo de luta também demonstra força, mas essa força é tenuemente entendida. Externamente estamos nos dobrando ao poder de outro (que tem força).

Portanto era muito fácil imaginar que não tinha força, e pronto.

Este texto é fruto de um questionamento feito no GEPI, Grupo de Estudos e Pesquisa em Interdisciplinaridade da PUC/SP, do qual faço parte, sobre uma reflexão da virtude da força, como categoria interdisciplinar. Confesso que essa foi uma das reflexões mais difíceis que já fiz. Minha pesquisa de doutoramento naquele momento estava sendo encaminhada para uma profunda reflexão sobre as origens científicas da escola num sentido de um melhor entendimento do processo que subvalorizou um outro conhecimento organizado nascido de outra lógica: a Arte. E era um momento onde eu estava me questionando se teria forças para realizar essa pesquisa. Literalmente, aquela proposta era a materialização de minhas angústias.

No seu modo particular de sintetizar desejos, ouvi de minha orientadora uma frase que ficou ribombando em meus ouvidos: “ Ricardo, você quer destruir a escola”. Como já estou acostumado com suas sínteses, sabia que não estava recebendo uma crítica, nem uma censura. Era apenas uma constatação: será que essa minha constante luta contra a instituição “escola” era uma luta pela sua destruição ou sua renovação? [3] .

E digo mais: será que é possível uma renovação, uma reforma, numa estrutura escolar que foi construída sobre o racionalismo? Como a lógica subjetiva, as artes, a emoção, podem ser “inseridas” dentro desta instituição reformada? Não seria necessária a criação de uma nova estrutura que partisse dos pressupostos de uma Interdisciplinaridade quase que radical?

Aquela frase fez nascer o medo em mim: se eu fosse outro talvez tivesse força para essa destruição, mas não eu.

Bem, considerando-se que sou “especializado” em metodologia de pesquisa, principalmente na Interdisciplinaridade e nas Artes, e como já tenho um certo vício num refletir organizado, resolvi responder a essa questão de forma lógico-formal, com a pergunta que minha orientadora gerou:

Quero destruir a escola?

Quero…

Quero essa destruição não por meu passado difícil na escola, mas por trabalhar em áreas do conhecimento, que são organizadas, mas que não fazem parte da academia como geradoras de sua natureza.

Explicitando melhor, dentro da escola e da Universidade, as áreas de artes e design são as que sofrem mais por falta de reconhecimento ou de problemas pedagógicos processuais. A maior parte da escola é feita para um ser humano ideal, cuja personalidade e forma de apreensão do mundo se dá dentro de uma forma textual, exata e lógico-formal, e não imagética [4] , subjetiva e sensível. Estas duas categorias cognitivas foram desveladas pela primeira vez por Carl Jung. O entendimento de seu funcionamento é simples: algumas pessoas, ao lerem um romance, imaginam a história como se fosse um filme, constroem imagens dos personagens, locações, etc. Chegam mesmo a compor uma trilha sonora. Na escola convencional são geralmente associadas aos sonhadores, pessoas sem objetividade. Já o ser textual lê um texto palavra por palavra, pode se lembrar de trechos inteiros com muita exatidão, mas geralmente não consegue imaginar no texto aquilo que não foi dito explicitamente pelo autor: ele está ali para olhar o que existe, não o que poderia existir. Geralmente o ser textual é o de mais sucesso na escola pois ela é feita para ele, numa estrutura lógico-formal, que não aceita nem fomenta a imaginação.

Podemos dizer que a maior parte dos artistas, principalmente artistas plásticos, são de pessoas em grande parte imagéticas [5] , portanto tem pelo menos uma história de fracasso escolar implícita em suas trajetórias de vida. Dessa forma podemos dizer que existe toda uma área do conhecimento construída por, e para, pessoas que não se deram bem na escola e que ,portanto, em princípio e pré-conceituadamente, são menores em suas importâncias como profissionais para a sociedade.

É dentro deste contexto que pretendo refletir sobre a falta de importância dada as áreas de artes dentro da escola e da academia [6] .

Para a sociedade, esta "desimportância" é transmitida dentro de uma forma mais perigosa ainda, a do senso comum. A influência, por extensão, de um pensamento Positivista dentro da construção da natureza da escola ainda é muito forte: essa tônica é tão grande que o senso comum sempre considera as ciências exatas como necessárias, enquanto as áreas de humanas e artes estão lá porque devem estar, mas ninguém sabe exatamente que falta farão se deixarem de existir. Sim, eu sei que o senso comum não recebe informação suficiente para fazer qualquer avaliação sofisticada sobre esse assunto e que as ciências humanas já deram mais do que provas de sua importância no contexto do conhecimento humano, mas, todos nós sabemos que mesmo pessoas sofisticadas e cultas, vivem em sociedade, e também recebem a influência do senso comum. Poucas pessoas estão realmente preparadas para perceber sua influência, num primeiro momento, e então poderem refletir livres de pré-concepções [7] .

Vivo essa realidade, de ser lido pelo senso comum, diariamente.

Nos cursos superiores em artes é muito comum o aluno que valora seus professores pelos títulos que este tem. Isto é interessante, já que esse aluno geralmente tem um perfil de fracasso escolar: ele deveria ser o primeiro a criticar categorias estabelecidas como a titulação do professor e a avaliação da forma como é feita. E os professores, como estão numa estrutura de ensino já estabelecida e muitos também não tem um referencial crítico mínimo para reflexão, não podem fazer nada mais do que se “enquadrar” na estrutura e tentar ser um “bom” professor. O máximo que conseguem é reproduzir a educação bancária descrita por Paulo Freire, onde apenas a transmissão de conteúdos é importante.

É nesse sentido que eu poderia querer destruir a escola, porque repensar os mecanismos que geram os valores escolares significa repensar as questões que geraram a natureza da escola e do conhecimento científico. Tenho que ir ao fundo do poço para, a partir daí, reencontrar um caminho de totalidade. Para alguém que esteja dentro dessa estrutura consolidada e que esteja satisfeito com a situação, isso significa uma destruição.

Acabo me tornando um subversivo, logo eu, um ser tão afável…

Tenho força para fazer isso?

Já fiz…

A resposta para essa pergunta fez com que eu explicitasse para mim mesmo algo que já intuía: minha força está em meu trabalho, ele se auto legitima. Como isso pode estar acontecendo?

Na minha prática docente já há alguns anos tenho implementado planejamentos específicos para cada turma diferente. Trabalho como professor de Metodologia da Pesquisa para a área de artes plásticas e bacharelado em moda na Faculdade Santa Marcelina. O inicio desse trabalho se deu em 1992 : fui procurado pela instituição já com o intuito de implementar na faculdade uma forma de pensar a metodologia de pesquisa como pesquisa mesmo e não como uma estratégia para o simples ensino do processo monográfico [8] , realidade essa muitas vezes encontrada em nosso meio acadêmico. No entanto não percebi claramente o que significavam cursos como estes, nas áreas de Moda e Artes Plásticas, em que iniciara o trabalho [9] . Parti para o uso de um planejamento rígido e clássico: muito conteúdo organizado, numa seqüência lógica onde um conhecimento menor” construía outro “maior” [10] . Confesso aqui que o curso, em seu primeiro momento, foi um desastre, principalmente no campo das relações pessoais.

Os alunos me detestavam!. Aliás, eu nem me reconhecia dando aula, avaliando… Alguns alunos que conversavam comigo fora da aula diziam que eu era uma espécie de Jekill e Hyde. Fora da sala de aula eu era gente, dentro eu era um monstro.

A virada na situação foi dada com a turma especial criada para atender aos alunos que não conseguiram aprovação naquele curso. Sim, metade da classe tinha sido reprovada! E eu sabia que a única culpa era minha [11] . Não deixaria isso acontecer de novo.

Por minha conta e risco, resolvi assumir que se eu gosto da disciplina que estou lecionando, ela tem que ter a minha cara. Deixei de olhar a prática dos outros professores mais reconhecidos, bem como o ideal de qualidade da instituição. Comecei a repensar o planejamento do ponto de vista do que era significativo nas áreas em que atuava um refletir sobre a criação de conhecimento novo: comecei a me perguntar o que era pesquisa em arte e design.

Neste ponto a Interdisciplinaridade tomava importância já que entender os aspectos totais do conhecimento e suas relações são imprescindíveis para os cursos em que trabalhava. Deveria também pesquisar sobre aquele grupo com o qual estava trabalhando, recriando minha própria especialidade. Estava acostumado a entender a pesquisa como algo que metodologicamente vem da ciência, mas, se epistemologicamente a arte não é inferior a ciência, então ela deve ter seus próprios processos para criar conhecimento novo e organizado.

Comecei a estudar e observar o processo de criação ali mesmo, na faculdade, e comecei a estudar o processo do autor (artista) dentro da Interdisciplinaridade, usando o resgate de memória para uma análise do cotidiano profissional nos âmbitos objetivos e subjetivos.

Descobri que existia um processo único, pessoal, não generalizável, e que só não era explicitado por que se fosse, seria considerado “coisa de louco”. Claro, esse processo seria mal visto aos olhos do senso comum e da ciência por não ter algumas das categorias classicamente usadas para a legitimação de um conhecimento novo [12] . Era necessário que existisse antes uma comunicação com a sociedade explicitando sua natureza.

Resolvi que faria isso de duas formas: começando com meus alunos, não só no sentido da comunicação, mas também mudando o planejamento.

Já que vivemos numa sociedade “positivista” mantive o currículo original, mas dei ênfase à crítica da pesquisa científica e as pré-concepções que fariam da arte um conhecimento “menor”. Tudo na disciplina estaria voltado para a valoração do trabalho do aluno e do seu campo de trabalho escolhido.

A pergunta básica que gerava todo o planejamento era: o que há no seu trabalho que diz que ele tem valor?

A partir daí revi as práticas pedagógicas classicamente adotadas e notei que uma das grandes diferenças entre o que era a prática de um professor científico e a de um artístico também fazia parte da diferença de natureza entre ciência e arte: uma pode (e até deve) ser impessoal e a outra, nunca!

Era por isso que eu queria uma aula com a minha cara: o processo em arte não admite fragmentação, nem do conhecimento nem do ser humano.

Isto era absolutamente claro, mas mesmo com todo o meu estudo em Interdisciplinaridade não havia percebido essa fragmentação [13] .

Resolvi colocar a mão na massa e iniciar um novo processo em aula. O planejamento era seguido apenas no sentido curricular, e não havia pergunta de aluno que não me fizesse parar tudo e responder, nem que tivesse que “gastar” [14] todo o horário da aula. Quando eu não sabia a resposta da pergunta em questão construía com os alunos algumas hipóteses e tentava chegar a alguma conclusão: o grupo percebia então que podia tentar construir conhecimento!

A mesma turma rebelde que brigava comigo, e eu, que brigava também com eles, tornamo-nos amigos. Quanto à qualidade da aula, posso dizer que dos 20 alunos dessa turma de recuperação, 2 dos formados estão neste momento fazendo seus mestrados e já são professores da instituição.

A força desse resultado foi tão grande que gerou duas categorias do sentir quase antagônicas, entre os professores e na instituição: reconhecimento e perplexidade. Só ouvi congratulações veladas, nenhuma muito efusiva [15] , mas percebia nos discursos dos colegas uma pergunta muito interessante: como você pode dar uma aula que funciona rindo o tempo todo e com tanto barulho?

Para quem vê minha aula de fora do contexto, realmente parece que está havendo uma balbúrdia completa, nunca uma aula. Os funcionários que controlam as áreas públicas da faculdade nunca sabem se eu estou dando uma aula ou conversando, mesmo porque, como vivo muito do que ensino, posso estar num restaurante ou numa festa falando sobre as mesmas coisas que estou dando em aula.

Enfim, eles ficam perplexos!

E é essa perplexidade que pode explicar um pouco mais da força que meu trabalho tem.

Vamos estudar melhor a perplexidade de um ponto de vista total.

Eu também sou artista plástico, ou seja, é bom que fique claro aqui que não sou o que se convencionou chamar apenas um teórico. Meu trabalho em arte é feito quase que totalmente com computação gráfica, técnica um tanto quanto pré-conceituada pelos artistas plásticos.

Nunca mostrava meu trabalho para ninguém!.

Dentro daquele contexto de um sujeito que não tem força, isso parece bastante lógico. Há cerca de 7 anos resolvi apresentar esse trabalho em computação gráfica para alguns amigos, colegas professores, e recebi críticas violentas quanto a originalidade do trabalho. Alguns diziam que poderia ser confundida com PopArt [16] e, pior ainda, cópia do trabalho de Andy Warholl.

Por sorte, esse era um momento em que eu já estava relativamente maduro no que chamo de vício do refletir, e portanto, parei para pensar sobre meu trabalho. Construi em primeiro lugar um pensar e em seguida um discurso onde percebi que meu trabalho em arte tem uma única e básica função para mim: gerar perplexidade no observador. Quero que ele diga “que lindo!”, que ele seja tomado pela obra, nem que seja por um singular momento. O que vier depois, na forma de um refletir sobre o que se vê , conceito, etc., é lucro.

Nesse sentido é um trabalho efêmero, e a partir daí posso entender se a crítica situá-lo na PopArt.

Foi surpreendente perceber aqui (fiquei perplexo) como a perplexidade, categoria filosófica, é uma constante em meu trabalho, seja lá em que área for.

E é ela que me dá força!.

Paraliso as pessoas e forço a que elas observem, e principalmente, sintam!

A Interdisciplinaridade gera perplexidade dentro do conhecimento, tanto em seus próprios agentes, os professores e pesquisadores, quanto nos alunos. Ela nos força a parar, perceber e sentir.

Voltando então a auto legitimação a que me referi no início, é essa perplexidade que me dá força, legitima meu trabalho, e proporcionou uma prática pedagógica aceita (mas nem sempre entendida).

Se tenho força para destruir a escola? Sim, e eu já fiz isso, provando que existe uma outra raiz possível para a criação de um currículo e de uma prática pedagógica compatível com a Arte. [17]

Daí surge em mim uma pergunta e, ao mesmo tempo, uma constatação:

Sou Niilista…

Muitas pessoas confundem as idéias principais de Nietzsche como uma tentativa de institucionalizar o caos. Claro que aos olhos de um pensamento Positivista, esse é o extremo oposto da ordem necessária tanto moralmente quanto eticamente na vida do homem. Mas no pensamento Niilista o que encontramos é uma gigantesca necessidade de uma crítica às verdades vigentes, e, a partir daí, propostas para uma nova “ordem”. Pode-se partir daí do princípio de que existem coisas que não funcionam mais devido aos movimentos da história, ou avanços tecnológicos e científicos. O mundo muda e as verdades não são mais imutáveis. Se isso era difícil de ser notado ao longo da história do homem e da civilização, este século tem mostrado que a segurança que as verdades nos trazem não são mais duradouras e sim efêmeras.

Um homem no século passado podia prever muito de sua vida no futuro próximo, baseado no fato de que a vida de seu pai e de seu avô não tinham sido muito diferentes da dele. Estilo, alimentação, política e sociedade não mudavam de forma muito rápida. Hoje em dia eu não posso nem dizer como vou me vestir no dia seguinte...

Quantos de nós poderiam imaginar poucos anos atrás que hoje estariam falando num telefone celular, que o muro de Berlim cairia, que iriam escrever dissertações num computador ou que o World Trade Center não estaria mais de pé? E afirmo isto pensando em pessoas que podem ter sido criadas subindo em jabuticabeiras, amamentadas por amas de leite, empinado papagaios e jogando bolinha de gude!

É desta forma que sou Niilista: a destruição vem da negação das verdades que já não são mais verdadeiras e essa destruição obriga uma reconstrução automática e instantânea.

O mundo “está” assim.

Neste sentido podemos então dizer que todos os movimentos de renovação da escola tem um princípio Niilista, tentam transformar tudo aquilo que não mais funciona, se é que já funcionou. A Interdisciplinaridade pode ser considerada uma construção Niilista apenas neste sentido já que não prega a destruição das fronteiras disciplinares, mas sim a facilitação de um transitar disciplinar pelo Homem. Isto por si só configura-se uma revolução.

Alguns, no entanto, de dentro de sua apatia e insegurança, podem dizer:

Isto é Justo?

É!

Entende-se classicamente que a justiça é algo que almeja o bem comum [18] .

E o “bem comum”, entenda-se aqui, é tudo o que for de melhor para a humanidade.

Se antes a humanidade que valia, que contava, era a humanidade do grupo que dominava, este nosso momento da história diz que somos muitos e diferentes, portanto não há justiça ao se pensar apenas dentro de um ponto de vista. É por isso que a Interdisciplinaridade se torna tão importante nos dias atuais: o conhecimento está voltando a sua totalidade, mas numa totalidade que nunca foi tão sofisticada, exatamente por ter passado por um processo de fragmentação e especialização. O Homem talvez não possa mais abarcar toda essa totalidade “tão total”, mas ele pode, ao entender o funcionamento da estrutura do conhecimento, adquirir um passe livre, que o libere das burocracias nas alfândegas colocadas nas fronteiras entre os conhecimentos fragmentados, as disciplinas.

É aí que a justiça aparece: se o bem comum legitima o ato justo, e se para sobreviver num mundo em constante mutação o homem precisa adquirir meios mínimos para uma reflexão autônoma, é justo propor uma reconstrução da escola, dentro da Interdisciplinaridade.

Essa justiça no ato de renovação da escola torna-se ainda mais forte quando pensamos no grande grupo de cursos que são vinculados de alguma forma à Arte. As vidas, desejos e profissões de incontáveis artistas, designers, e arquitetos estão em jogo, quando pensamos em sua real legitimação perante a sociedade. Essas pessoas, também enquanto alunos, poderiam sofrer menos na escola se todo esse jogo ideológico de produção do conhecimento fosse posto por terra.

A maior parte deste discurso parece muito ideal, bonito, virtuoso, e como muitas vezes entendemos a beleza e a virtude, utópico.

Foi por isso que ,ao iniciar este artigo, anunciei que seguiria uma estrutura lógico formal de perguntas e respostas, onde uma resposta constrói outro questionamento, quase que num movimento dialético.

Nada mais “acadêmico”, não?

Agora convido o leitor a ler as mesmas perguntas e respostas em sequência, apenas sentido o tempo e o som das palavras, sentindo que elas fazem parte de outro lugar, de um outro contexto:

Quero destruir a escola?

Quero…

Tenho força para isso?

Já fiz…

Niilismo.

Isto é justo?

É!.

Eu fiz poesia e não um discurso lógico!

Fiz ciência e arte, ao mesmo tempo dissociadas e interligadas. Podemos ler está reflexão das duas formas , mas se quisermos, podemos eleger apenas uma como legítima.

Qual é a certa?

Nenhuma delas é certa, nenhuma é errada. Elas apenas refletem um outro modo de conhecer o mundo.

Aceitar esse novo paradigma de conhecimento será nosso desafio daqui para a frente desde que vivamos dentro desse mistério que é a nossa força, a força que tem o ser humano ao conhecer e refletir dentro da Interdisicplinaridade.

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[1] Um Estranho numa Terra Estranha: a ficção-científica como forma de conhecimento. Orientação de Ivani Fazenda. Dissertação de Mestrado, PUC-SP

[2] Não confundir com currículo oculto. O currículo paralelo pode ser entendido como um conhecimento organizado que não está dentro da estrutura acadêmica, mas que pode ajudar o aluno a sobreviver dentro da escola, como por exemplo, ficção-científica, cultura de massa ou certas doutrinas religiosas.

[3] Em minha dissertação de Mestrado, descrevo todo esse processo de luta e sobrevivência dentro da escola com o uso do currículo paralelo dado pela leitura de ficção-científica.

[4] Para melhor entender estas categorias é interessante procurar a obra do psicanalista Carlos Byington, que faz uma análise sintética e comentada da obra de Carl Jung.

[5] Não existem pessoas completamente imagéticos ou textuais: transitamos por estes dois pólos dentro de nossas singularidades. Essas polarizações existem em vários graus e são infinitas portanto fiz uma abordagem simplificada dessas categorias de forma a facilitar uma reflexão sobre o assunto.

[6] Este foi um contexto escolhido por mim no estudo da categoria força na minha prática Interdisciplinar. Não posso deixar de mencionar que a falta de uma função explicita e pragmática nas Artes também colabora para sua subvalorização por uma sociedade tipicamente Positivista como a nossa.

[7] O livre pensar e a formação de um livre pensador tem sido a tônica em várias correntes pedagógicas, mas não sei até que ponto elas tem atingido seus objetivos. É dentro deste contexto que enfatizo a importância do senso comum.

[8] Pesquisar não é apenas relatar. As disciplinas de Metodologia da Pesquisa nos variados cursos existentes visam apenas a “habilitação” do aluno na faculdade de construir relatórios, bibliografias e projetos, sem dar um enfoque adequado ao ato de refletir sobre o mundo, princípio de qualquer pesquisar.

[9] É incrível como consegui esquecer que minha formação primeira se deu na Arquitetura e no Urbanismo. Havia esquecido daquele ser total, universitário no sentido clássico da palavra, que ainda é a meta de formação do aluno em algumas instituições de ensino em Arquitetura.

[10] Não devemos confundir esse processo com o Construtivismo. Alguns professores sem muita fundamentação acreditam que estão sendo “modernos” ao conceber um currículo cronológico.

[11] Sinceramente, não consigo entender o discurso daqueles professores que colocam a culpa do fracasso escolar no aluno. Seria como dizer que se um produto de consumo lançado no mercado não faz sucesso é porque o mercado não estava preparado para aceitá-lo. Por favor, não confundam este exemplo como um libelo à qualidade total na escola, que considero mais como uma importação de verdades que não nos fazem sentido.

[12] Principalmente a reprodutibilidade dos fatos. Não podemos nos esquecer de que a Arte trabalha basicamente com o fenômeno.

[13] Ver “Interdisciplinaridade, Ciência e Arte”, MATOS, Ricardo H. em “A Universidade Vai A Escola”, org. FAZENDA, Ivani: Papirus, Campinas, 1996.

[14] Percebam como certas palavras dizem tudo: responder os questionamentos doas alunos em detrimento da transmissão do conteúdo da disciplina torna-se uma atitude negativa.

[15] Essa reação é muito comum na crítica que necessita da legitimação de um grupo: ela (a crítica) só será efusiva no caso de uma prévia aceitação pelos formadores de opinião. Neste sentido não posso dizer que haja crítica legitima no Brasil.

[16] A PopArt é um movimento artístico iniciado em meados da década de 50, cujo maior expoente foi o artista plástico americano Andy Warholl. Esse momento artístico consistia numa crítica a sociedade de massa e consumo, onde essa cultura era apresentada de forma satírica ou idealizada. Warholl ficou conhecido com sua série de retratos da lata de sopa Campbell e o retrato de Marylin Monroe. Hoje em dia esse movimento é considerado superado pela Arte.

[17] Nos últimos anos temos assistido ao surgimento de uma Metodologia da Pesquisa em Arte que tem respeitado os aspectos subjetivos da criação artistisca. Alguns educadores tem pensado o currículo de uma forma diferente mas apenas algumas experiências tem sido feitas. É dentro deste panorama que situo minha experiência.

[18] GHIURO, Gilberto. Contribuição dada ao Grupo de Interdisciplinaridade da PUC/SP sobre Força e Justiça na visão do Direito.