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Labirinto de Religiosidade

Como vimos, Saramago compraz-se em ver a natureza humana na sua racionalidade. É exato que "o cenário do mundo, de todos os pontos de vista", lhe "parece uma demonstração clara da irracionalidade humana". Não obstante, essa irracionalidade não a entende o escritor como natural ao homem: trata-se, para ele, de "sono da Razão" que, se "nos converte em irracionais, faz de cada um de nós um pequeno monstro": monstro "de egoísmo, de fria indiferença, de desprezo cruel"(111). E precisamente por isso, pronuncia-se coerentemente contra o "uso irracional" da razão. Admite por conseguinte a possibilidade e o fato de se usar mal da razão.

Ora, usar mal da razão não pode significar senão o separá-la do conhecimento da verdade das coisas reais. Portanto, se condena esse mau uso - abuso que deforma o homem - é porque quer salvar o que há de verdadeiro na razão.

Também já observamos que a razão descobre em todas as coisas, tanto como no próprio homem, aquilo a que a Filosofia chama essência (ou natureza): conjunto de características que faz com que uma coisa ou um ser seja o que é, distinguindo-o dos outros seres e habilitando-o a atingir determinado fim.

O que não dissemos ainda expressamente é que a realidade de uma essência nas coisas pressupõe o pensamento anterior de quem as concebeu. Pode-se falar da essência de uma coisa na medida em que se pode dizer que essa essência foi pensada. É o que se passa com todas as coisas fabricadas pela mão do homem: podemos referir-nos à essência de uma lata de cerveja, se alguém a projetou, porque a concebeu a inteligência de um homem; podemos aludir à essência de uma casa porque e na medida em que um arquiteto a concebeu, comunicando uma finalidade e portanto uma determinada ordem aos respectivos materiais de construção (essa ordem - disposição dos materiais em relação ao fim da casa - é a sua essência).

Mas isto, que sucede nas coisas artificiais - fabricadas pelo homem - não pode deixar de suceder nos materiais pré-existentes de que se serve o engenheiro ou o arquiteto. Se a lata (ou a liga de materiais que dá origem à lata) ou a pedra e o ferro e os tijolos pré-existiam com uma natureza determinada, como realidades em que se divisa uma ordem relacionada com um fim, impõe-se-nos a necessidade de admitir por trás dessa realidade uma inteligência criadora. Insistimos: não há essência ou natureza de coisa alguma se ela não for pensada.

Assim se verifica também na natureza humana, a cujas características essenciais nos referimos mais acima, salientando o fim a que tendem de per si a inteligência e a vontade do homem. Assim como descobrimos que os pulmões foram feitos para respirar e o estômago para digerir, descobrimos também que a inteligência foi feita para conhecer o Absoluto e a vontade para querer e possuir o Absoluto, que é, para ela, o Bem. Se essa realidade não depende do nosso espírito, de algum outro espírito há de depender.

É assim que o homem, em percebendo uma finalidade nas coisas, afirma implicitamente a existência do Criador, que a tradição, como já vimos, denomina Deus. Porque não há finalidade, nem natureza, nem ordem nas coisas, nem no mundo, nem no homem, se não houver um espírito Criador que os tenha feito existir em virtude de uma intenção ou de uma finalidade que com eles quer atingir. Tanto isto assim é que, como agudamente observa o Prof. Lauand(112), para negar a existência de qualquer natureza ou essência no homem, Sartre parte da afirmação (não demonstrada) da inexistência de Deus: "Não há natureza humana porque não há Deus para a conceber"(113). Percorrendo o caminho inverso ao nosso, a proterva afirmação de Sartre serve-nos de contraprova.

Nestes termos, logo se vê que, sem Deus, toda a ciência se desmorona. Com efeito, toda a ciência se estriba na realidade de que as coisas têm uma natureza, na realidade de que há uma ordem no universo, - uma realidade que precisamente porque foi pensada pelo Criador, contém pensamento (verdade ontológica) inteligível para o cientista, podendo-a este ler por dentro (intus legere).

É fato que muitos se detêm na verificação de uma finalidade das coisas, fundamento de toda a ciência, sem concluírem pela existência do Criador divino. Entretanto, é óbvio que as causas dessa omissão não são de ordem racional, mas de ordem moral ou psicológica ou talvez histórica. Logicamente, se não se admite a existência de um Deus-Criador, é mister curvarmo-nos perante uma concepção de um mundo incoerente onde forças cegas se mesclam numa balbúrdia inacreditável e onde o homem, por conseguinte, pode dar-se por satisfeito sem se submeter a lei alguma a não ser a da sua fantasia caprichosa.

Cumpre observar - e isto reveste-se de importância não somenos se quisermos entender Saramago - que, de facto, nem sempre nos é possível determinar a finalidade das coisas do mundo. Ultrapassa a capacidade da nossa razão explicar perfeitamente a ordem do universo. É bastante transparente muitas vezes a ordem dos seres: os olhos foram feitos para ver; os instintos foram talhados para defender a vida; vê-se, em suma, que os organismos vivos se destinam a viver. Em contra-partida, escapa-nos muitas vezes a sua finalidade externa, no conjunto ecológico do universo, bem como na indireta finalidade ou repercussão moral que eventualmente possam ter sobre o homem. Por que é que o sol queima as searas e os gafanhotos arrasam as colheitas? Para que servem exatamente os vulcões e as inundações que causam não poucos infortúnios? Qual a finalidade das pulgas? Por que é que os mosquitos sorvem sangue humano e depois os sapos comem os mosquitos? Para que vêm ao mundo indivíduos aleijados ou sujeitos a graves deficiências? Hoje, mais humildes do que noutros tempos, reconhecemos que a compreensão da totalidade da ordem do universo sobrepuja a nossa razão. Seja como for, não importa que nos passe despercebida a ordem de muitos elementos do universo; basta verificarmos uma finalidade qualquer, mesmo num âmbito restrito, para termos de concluir pela existência de um Espírito Criador que é a sua Causa.

É neste ponto que, ao ler os Cadernos de Lanzarote, nos deparamos com um labirinto desconcertante, talvez com aquilo a que o seu autor chamou a sua "vida labiríntica", se bem que nem sempre o possamos acompanhar, identificando-a com a sua "vida profunda"(114). A religiosidade de Saramago é efetivamente um autêntico labirinto, feito, poderia dizer-se, de agônicos avanços e recuos em que, ora usa da razão, ora dela abdica, por motivos que nos são ignorados e decerto ficam na "sombra" do espírito saramaguiano que, não raro, ou com o sarcasmo tenso, ou com o ricto de um sorriso algum tanto desabusado, entre o pueril e o meramente lúdico, corta pelas exigências indeclináveis da razão.

Pode ser que uma torpe e bastante vulgarizada noção de mística tenha gerado no ânimo do escritor uma receosa atitude de prevenção contra a divindade. Bergson, que nunca chegou a ser cristão, mas era um arguto pensador e observador, dizia: "Os grandes místicos foram geralmente homens e mulheres de ação, dotados de um bom senso superior"(115). Mas Saramago, pelo visto pouco familiarizado com a vida dos santos, parece ver na mística um não sei quê de mórbido que urge evitar a todo o custo, por implicar, na melhor das hipóteses, uma evasão determinante de alguma densa e louca inércia irresponsável. Um dia, o ex-presidente da República portuguesa, Mário Soares, perguntou-lhe de chofre: "Disseram-me que você está místico. É verdade?"(116). Entre o espanto e a surpresa, Saramago respondeu: "Não senhor, não estou místico, Deus me livre de um tal acidente..."(117). Pode ser que Saramago veja na mística - expressão e vivência suprema de uma religiosidade lúcida - uma espécie de doença ou percalço grave e funesto. Pode ser. De qualquer forma, não logra isto ir além de uma conjectura em torno da "sombra" de seu espírito.

Não obstante, surpreendemo-lo, em face da criação, com a capacidade de admiração e assombro em que os espíritos equilibrados e profundos costumam iniciar a sua sabedoria, companheira inseparável da religiosidade. Refiro-me aqui ao que escreveu em 17 de fevereiro de 1996, remontando-se a impressões de viagem anterior, ao aproximar-se do maravilhoso panorama da baía da Guanabara. Um literato francês que o acompanhava no navio ("isto foi no tempo das viagens marítimas") exprimia, consoante a anotação de Saramago, o seu "deslumbramento pela voz da humildade e da gratidão", com estas palavras: "Nunca pensei que os meus olhos valessem tanto". Mas Saramago, insatisfeito com aquele comedido deslumbramento, fala-nos do "gesto" que deveria ter-se seguido à frase e não se seguiu: "ajoelhar-se no convés e dar graças a quem inventou os olhos e as paisagens"(118). Isto, sem prejuízo do que encerra de puro e espontâneo êxtase estético, não é senão oração. Todavia, verifica-se num homem que, em 1995, respondendo a um correspondente, nos garante que nunca rezou na vida: "Não senhor, nem ele me conhece (o correspondente) nem eu alguma vez rezei na vida"(119). Por outro lado, a atestar o bom conceito em que tem a religiosidade genuína, não hesita em manifestar a sua repugnância pelas "superstições sem espiritualidade", cujo espetáculo "sempre" lhe provoca "uma insuportável melancolia" e lhe fica "a doer" dentro de si(120).

Não menos desconcertante é o seu presumível pensamento no que concerne à existência de Deus e aos seus atributos. Em linguagem não científica - aliás, em tom de chalaça - admite como os filósofos, quando se exprimem com rigor, que Deus é a Causa não causada. Causa a se, causa primeira de toda a criação, pois nos fala de "Deus (...) indiscutivelmente nascido de si mesmo"(121). E em harmonia com este puro conceito de Divindade que, enquanto Causa não causada, na sua asseidade de nada carece e nada pode receber de outrem que o enriqueça ou preceda, escreve, muito embora de par com quatro frases de efeito um tanto abstrusas e arrevezadas: "Deus não precisa do homem para nada"(122). Só que, para surpresa do leitor, algumas páginas adiante, se bem que não arrazoadamente, mas como mera "percepção de uma hipótese cosmogónica", sustenta que Deus criou a espécie humana porque, na sua "divina fragilidade" precisava dela "para que ela lhe fizesse companhia", pois, a certa altura, depois que "a eternidade começara", "se sentia só"(123). Há ainda outras passagens onde, à mistura com profissão de descrença, nos apresenta um Deus finito, limitado, porquanto corpóreo(124). E é claro que um deus assim limitado não pode ser o Absoluto e se não o é, não é Deus. Neste sentido, Saramago é coerente quando, num artigo trasladado para os seus Cadernos, lembra ao leitor que este deus (linhas antes escrito com maiúscula) "para mim não passa de uma interessante personagem de ficção"(125). Na realidade, num deus desses, ninguém acredita, porque é produto da imaginação.

Sucede, no entanto, que Saramago, ainda que o faça sem reparar ou a contragosto, fala por vezes de Deus como um ser real e não fingido. Tal é o caso quando Lhe atribui a causalidade do mal que há no mundo, quando mostra desejar a sua intervenção e quando, paradoxalmente, aspira a libertar-se d'Ele.

Assim, por exemplo, confessa-nos: "No meu fraco entender, não foi grande coisa o que Ele fez ao mundo até agora"(126). Todavia, em querendo nós tomar a sério as palavras do escritor, o universo que conhecemos é "o melhor dos universos possíveis"; e "Deus", cuja "natureza profunda" pensa conhecer, "logicamente (...) não podia fazer outro porque forçosamente teria que ser menos bom que este"(127). Para Saramago, porém, o mal não está tanto no universo como na "espécie humana". Saramago, visivelmente impressionado pelas injustiças e atrocidades dos homens, atribui a "erro nas previsões divinas", a "grosseiros erros de previsão", coisas como o desemprego e a injusta distribuição dos bens sobre a terra(128). Muito embora isto talvez se possa reduzir a uma negação da Providência divina, fala-se-nos aqui de um Deus real. Um Deus real, cuja inexistência, valha a verdade, ele julga provar a partir do mal moral que contamina o ser humano. Veja-se, neste sentido, o que anota no dia 2 de maio de 1993: "Como será possível acreditar num Deus criador do Universo, se o mesmo Deus criou a a espécie humana? Por outras palavras, a existência do homem, precisamente, é o que prova a inexistência de Deus"(129). É o mesmo pensamento que lhe aflora uns dois meses depois: "Deus - escreve ele - definitivamente não existe. E se existe é, rematadamente, um imbecil. Porque só um imbecil desse calibre se teria lembrado de criar a espécie humana como ela tem sido, é - e continuará a ser"(130). Escusado seria insistir em que "a espécie humana" contemplada por Saramago é a dos homens que se odeiam e trucidam uns aos outros, mesmo por motivos triviais e anódinos.

Além disso, conforme acabamos de anotar acima, Saramago, linhas depois de ter frisado o carácter de "ficção" do Deus que "com tanta freqüência" deixa "instalar-se" nas suas "prosas", afirma-nos: "Devo confessar que algumas vezes, ao longo da minha vida, tenho lastimado a falta duma sua presença real e duma sua intervenção efectiva (...) para obrigar-nos a encarar de frente e a responder pelas nossas ofensas (...) à idéia de humanidade"(131). E, não obstante a expressão deste desejo que tem todos os visos de sincero, vemo-lo exclamar com sinceridade não somenos: "Meu Deus, meu Deus, quando nos veremos livres de ti?"(132). Outro tanto real é o Deus a que de passagem e sem necessidade lógica, num relato meramente fáctico, inteiramente alheio a toda a ficção, atribui o papel de "criador": "Vimos ontem El Sol de Membrillo de Victor Erice. Lento, como é lenta toda a criação (Deus foi um caso excepcional), o filme todo ele uma reflexão..."(133).

Tudo isto está cheio de sombras, avanços e recuos, palavras imprecisas que, no entanto, ninguém tacharia de insinceras. É um verdadeiro "labirinto" que atinge o galarim quando - se o confrontamos com a suposta incognoscibilidade de Deus, implícita em parte do que até aqui extraímos do seu Diário - fazemos por tomar a sério o que nos garante no vol. I, perfilhando uma sentença de Schleiermacher: "O que tem religião não é o que crê numa Escritura Sagrada, mas o que não precisa dela e seria, ele próprio, capaz de fazê-la"(134). Se as palavras têm ainda algum sentido, diríamos que, no entender de Saramago, de boas avenças com Schleiermacher, o homem "religioso" tem uma capacidade cognitiva tão elevada e possante, que é capaz de penetrar os arcanos de Deus, sem necessidade de que Deus lhos revele. É provavelmente com base nesta hipótese que, um pouco mais adiante, confundindo precipitadamente condição com causa - condicionalismo histórico, em que se dá a Revelação divina, com a sua causa meta-histórica - nos quer inculcar a falsa certeza de que "Deus é simples história", fabricado (não encontrado ou descoberto) pelos homens: "Quando a história precisa de um Deus, fabrica-o"(135).

Tanto quanto se coaduna com a brevidade deste trabalho, o que queremos é apontar o fato, a nosso ver inegável, de que Saramago vive um problema religioso, alimentado por uma aspiração à verdade que não chega a atingir. E, se falamos aqui em "problema" é sobretudo porque convivem no escritor elementos inconciliáveis ou que, na melhor das hipóteses, estão a exigir um esclarecimento cabal que, até hoje, não teve ocasião de proporcionar aos seus leitores.

A este propósito, não deixa de intrigar-nos o desembaraço com que um "escritor" "ateu" apresenta como evidência o facto de ser "cristão": "Há uma evidência - diz ele - que não deve ser esquecida: no que respeita à mentalidade, sou um cristão. Logo, escrevo sobre o que faz de mim a pessoa que sou"(136). Seja qual for o sentido atribuído à palavra "mentalidade" - palavra a todas as luzes equívoca - por mais largo que seja o seu elastério, pode uma mentalidade cristã fazer de um homem um ateu? É esta uma pergunta impreterível, que pede uma resposta clara e fundada. Bastará, para ter mentalidade cristã, estar "fora da Igreja, mas não do mundo que a Igreja configurou"?(137). Mesmo admitindo que essa "mentalidade" e porventura as questões religiosas com ela conexas "continuem a formar (...) a substância mesma da (sua) vida"?(138). Como entender esta "substância da vida" em quem, com um nítido sabor panteísta, afirma que "Deus está enterrado no mundo", à espera de que um pintor venha traçar-lhe as formas ocultas, medir-lhe o peso, calcular-lhe a densidade"?(139). Como harmonizar esta "mentalidade cristã" com o que certa vez dizia, afirmando que "não era a religião o que lhe interessava, mas o poder", e que "Deus, e quem em nome dele jura", só o "preocupava como expoente superior, máximo e de algum modo inalcançável do Poder"?(140). De resto, com toda a sua "mentalidade cristã", Saramago considera "odioso" o "espírito" do culto católico(141).

Na convicção de que Saramago ainda não explorou todos os recursos do seu humanismo, afigura-se-nos que só encontrará o fio de Ariadne do seu "labirinto" quando se decidir francamente a substituir a sua "meditação sobre o erro" por uma denodada "meditação sobre a verdade", que ele, como vimos acima, admite ser "filosoficamente mais nobre". Talvez o autor dos Cadernos de Lanzarote nos atalhasse, se isto lesse, repetindo-nos o que escreveu em 17 de maio de 1993: "De filosofias não entendo nada"(142). Com o devido respeito, retrucaríamos que aqui não se trata de "filosofias", mas pura e simplesmente de levar até o fundo o "uso racional da razão", mais que muito acessível a um intelectual de bom tomo como Saramago. Sabemos que a razão humana sai das trevas para a luz quando se debruça sem peias sobre a luminosidade do ser. Por se debruçarem abertamente sobre o ser das coisas sensíveis, acatando submissamente a sua luz - a luz das suas leis naturais - realizaram até hoje os cientistas o progresso das ciências. Nós, os que não somos cientistas nem aspiramos a ser filósofos diplomados, poderemos entretanto ser humanistas no sentido mais sadio e sério da palavra, se dando azo e impulso ao humano instinto de saber, nos transcendermos a nós próprios na intentio do conhecimento, lançando-nos a saborear a obra de arte que é o mundo e a vida, insatisfeitos sempre muito embora, enquanto não encontramos o Artista. E não é por acaso que um ensaísta tão experimentado como Thomas Merton afirma que "a falta de fé envolve (...) uma completa perda de todo o senso da realidade..."(143).

Por mais voltas que demos à questão, o possível e limitado conhecimento racional do Criador pressupõe a confiança natural nas evidências primárias que a razão possui, que se impõem por si e não pelo consenso universal do gênero humano - embora na generalidade dele se confirmem -, nem por qualquer condicionalismo histórico-sociológico quebradiço transitório. Ou a verdade se impõe à capacidade cognitiva da razão - capacidade manifestada pela sua submissão à verdade das coisas reais - ou deixa de ser possível conhecer com certeza o que quer que seja. Essa imposição da verdade à razão exprime inequivocamente a inteligibilidade dos seres; mas - convém dizê-lo - não exprime a autonomia ou qualquer tipo de liberdade de pensamento, mais ou menos imanentista. É a vontade humana que é livre, não a razão. Embora o possa ao julgar e raciocinar, quanto aos chamados "primeiros princípios", o intelecto humano não pode cometer erro(144): trata-se precisamente dos princípios que, conhecendo-se imediatamente, uma vez conhecido o significado dos termos, são evidentes. Assim, no caso do princípio de não-contradição que, se for negado -como hoje o é, com alguma freqüência-, não o é por evidência alguma, mas porque a vontade assim o quer. Já passamos por tudo: materialismo, relativismo, niilismo, ceticismo, hedonismo; e agora, no período que pomposamente denominamos pós-moderno, nivelamos verdade e mentira com a mesma rasoura, de modo que, só porque a vontade assim o quer, tudo tem valor igual (que é o mesmo que confessar tristemente que já nada vale preço algum, que já nada vale a pena).

Conforme tivemos ocasião de sublinhar, Saramago disse rude e corajosamente que "todo o fingimento é infame"(145). Perfilhando essa rude sentença do eminente escritor, atrever-me-ei a afirmar que é infame fingir incertezas que não são incertezas, fingir que a razão humana perdeu as suas certezas basilares, que a habilitam para o conhecimento das verdades fundamentais sobre a vida. Se o humanismo faz jus ao seu próprio nome, é por ter em alta conta o ser humano. Mas não há nada de mais profundamente humano que a interrogação da razão sobre o sentido da existência. A bem dizer, a razão humana atinge o seu cume "quando o porquê das coisas é procurado a fundo em busca da resposta última (...). De fato, a religiosidade representa a expressão mais elevada da pessoa humana, porque é o ápice da sua natureza racional. Brota da profunda aspiração do homem à verdade e está na base da busca livre e pessoal que ele faz do divino"(146)

Bem vistas as coisas, meditar sobre o erro relegando para segunda plana a "meditação sobre a verdade" é coarctar as possibilidades da razão humana, de per si aberta a tudo o que é; e pode até resolver-se numa diminuição da capacidade para distinguir o erro. Nenhum médico conhece bem as doenças se não possui abalizado conhecimento da saúde.

Um rapaz chamado Saramago

Quem leu o segundo volume dos Cadernos de Lanzarote sabe que o dizer desta epígrafe final intitulava um artigo humorístico, bastante galhofeiro, que é, na opinião do próprio Saramago, um "dos mais divertidos textos em que alguma vez" pôs "os olhos". A vítima do artigo, segundo ela própria confessa, regalou-se de riso quando o leu(147).

Longe de mim a intenção de encerrar este ensaio com um fecho humorístico descabido. Se extraí do artigo as palavras da epígrafe, foi porque me pareceu oportuno, em ordem à melhor e mais viva compreesão do humanismo do escritor, trazer à colação alguns traços da sua personalidade, colhidos aqui e além nas páginas do Diário -traços que, por sua vez, trazem até os nossos olhos a misteriosa e indiscutível juventude de um "rapaz" novo, talvez um pouco travesso.

"Ninguém escreve um diário para dizer quem é"(148): é assim que, à primeira vista, Saramago nos desencoraja e desautoriza, no nosso propósito de esboçar dele um retrato, baseando-nos nos cinco volumes dos Cadernos de Lanzarote. E pouca utilidade teria o demonstrar que, em muitos passos do que escreve, realmente nos diz "quem é". Desfazendo no dito de Albert Camus, a quem cita - "Se alguém quiser que o reconheçam, basta dizer quem é"-, Saramago entende que, "no geral dos casos, o mais longe que chega quem a tal aventura ousa propor-se, é dizer o nome que lhe puseram no registro civil"(149)

Referindo-se uma vez à "impossibilidade" de retratar Fernando Pessoa, vê-se que o escritor de bom grado aplica a si próprio o mesmo julgamento. Talvez "o destino dos poetas" - e por que não o dos prosadores?- esteja em "dissolverem-se", em ficarem "sumidos entre as linhas que conseguiram escrever"(150). Mas é de tomar em linha de conta, por outro lado, que, na opinião de Saramago, "o que o autor vai narrando nos seus livros não é a sua história pessoal aparente", mas "a vida labiríntica, profunda", para o dizermos com uma expressão já manuseada nestas páginas(151). Se bem que, em contrapartida, também não se pode passar por alto a sua dificuldade em se conhecer a si mesmo: a 15 de junho de 1993, pergunta: "Quem me ajudará a explicar-me a mim mesmo?"(152)

Cortam acidamente os ares e pesam sobre Saramago acusações de "vaidoso, egocêntrico, presumido, narcisista..."(153). A labéus deste jaez, que sabemos muito freqüentemente atirados contra quem quer que mostre firmeza de convicções, sem meias tintas, eu acrescentaria apenas a pecha de pessimista, sobretudo porque, esse sim, é um vezo que, mais do que qualquer possível presunção ou vaidade, pode ter influído na sua concepção do mundo e do homem. Saramago reconhece "a massa obscura"do seu "congênito pessimismo" e, a título exemplificativo, dá desse pessimismo como "prova" "o fato de nunca ter sido uma criança alegre"(154). Talvez em breve saibamos um pouco do que houve na sua infância, "da meninice, até à puberdade", pela leitura do Livro das Tentações, já anunciado e que o escritor preparava já em agosto de 1993(155). Só então - e não temos disso certeza - poderemos aquilatar o seu "congênito pessimismo", ponderando o ser para Saramago indiscutível que as pessoas "são, essencialmente, o passado que tiveram"(156). Parece que o enérgico escritor que ele é, já na casa dos setenta, aplicaria à sua própria pessoa com decidida sinceridade o que, numa bela imagem, diz do passado "no plano coletivo": "nós avançamos no tempo como uma inundação avança: a água tem atrás de si a água, por isso é que se move, e é isso que a move"(157). Temos no entanto a impressão de que, precisamente nessa infância nada "alegre", mas em que "a esperança ainda estava intacta, ou, ao menos, a possibilidade de vir a tê-la", procura ele sondar o antídoto - a "resposta vital"- que aspira a "contrapor ao mundo medonho"(158) imaginado e descrito no Ensaio sobre a Cegueira de modo que o seu presente pessimismo, nem todo ele é mera sombra projetada pelo passado.

Estamos em dizer, assim, e não de mau grado, que uma boa parte ao menos do seu pessimismo deriva de uma reação vivíssima da sua sensibilidade contra toda a casta de violências, quer de monstruosidades se trate em guerras absurdas, quer da violação dos direitos humanos, da "santidade da vida". Não há dúvida, um traço bem vincado da sua fisionomia humana é a riqueza vibrante da emotividade, que ninguém pressentiria em tantas passagens frias dos seus escritos. Neste sentido é bem marcante a reação que tem diante do televisor no dia 28 de agosto de 1995, por ocasião do noticiário sobre determinado momento da recente guerra na Bósnia. "Achei-me diretamente numa rua de Sarajevo", explica. Pinta-nos a seguir, em sete linhas, cuja expressão mais suave é "gente estraçalhada", o horror dum morticínio cruel. E confessa: "Não agüentei. Chorei enquanto as imagens terríveis se sucediam, chorei por aqueles desgraçados, chorei por mim mesmo, por esta impotência, pela inutilidade das palavras, pela absurda existência humana"(159).

Mas a tal ponto o arrasa a emoção, que, de um só rasgo, apenas no nihilismo absoluto encontra o refúgio de um consolo: "Só me consola saber - escreve ele - que tudo isto acabará um dia. Nesse derradeiro instante, o último ser humano vivo poderá dizer, enfim: 'Não haverá mais morte'. E terá de dizer também: 'Não vale a pena termos habitado este lugar do universo"(160).

Não há quem não veja a riqueza da sua sensibilidade delicada em tantas passagens onde se registra o "prazer profundo, inefável" de sentir que "o espírito entra numa espécie de transe, cresce, dilata-se, não tarda que estale de felicidade, em contacto com a natureza, quando o vemos passear-se por campos desertos e varridos pela ventania"(161): onde se nota a meticulosidade estética com que emprega as palavras - "um verbo mais certeiro, um adjetivo menos visível"(162); passagens que fixam as alegrias entre os pequenos nadas da vida diária (o "ter tanta necessidade de uma família"(163)), a expansão efusiva dos afetos(164) - expansão que dá ensejo a despedidas e esperas "com todo o coração"(165), ao reconhecimento do amor "leal e generoso" que há na "amizade autêntica"(166), ao gosto de abrir as "portas" da vida "até agora fechadas e trancadas", "impelido sobretudo pela força de um descoberto amor dos outros"(167).

Aliás, estou que não fica dito tudo sobre esta sensível emotividade do artista se não se salienta nela o equilíbrio, ou talvez melhor, aquela normalidade acessível que todos gostamos de surpreender nos homens de nomeada. E decerto é isso o que se transluz no lúdico e familiar desembaraço com que acolhe em sua casa sucessivamente três cães sem dono e brincalhões, que o divertem e afagam. Tem um encanto particular o fato de o primeiro a aparecer ter recebido o nome de Pepe e ser o despertador que o acorda todas as manhãs (168).

De resto, não é necessário decifrar nada nos Cadernos para darmos fé desta emotividade. O próprio Saramago, evocando a visita ao Leitorado de Português da Universidade de Línguas Estrangeiras de Beijing, durante o qual os alunos leram algumas páginas do Memorial do Convento, nos fala de porta dianteira: "Quase não seria preciso dizer, conhecendo os materiais de que o autor destes Cadernos é feito, que os olhos se lhe arrasaram de lágrimas em mais de uma ocasião..." (169).

Mas onde a riqueza afetiva do escritor brilha mais, porque o eleva à magnanimidade, é na gratidão. Não esquecerá nunca uma pequena gentileza (170), nem a alegria de uma visita tão imprevista como abnegada (171). Transluz em pequenos comentários a sua grandeza de alma: é essa grandeza que o leva a anotar no seu Diário uma visita desnecessária que Chico Buarque lhe faz certo dia, no Porto, pois "foi ali para me abraçar" e nada mais (172); é por causa dessa grada gratidão que lhe "sabem a pouco" os agradecimentos apresentados à produtora Isabel Colaço, antes da sua morte: "é sempre assim, ficamos sempre devedores de alguma coisa a quem morreu"(173). A propósito da gratidão, aliás, à parte os agradecimentos com que no seu Diário se mostra penhoradamente grato a tantos admiradores que lhe escrevem, não se pode omitir uma alusão ao entusiasmo com que recebeu uma quadra popular lavrada por um pastor de ovelhas só para ele: "Mas isso - diz ele - uns quantos livros (que fiz) valerá tanto que mereça a quadra que me foi dedicada?"(174).

E os que entendem nos meandros das virtudes sabem de sobra que é próprio das almas grandes o terem-se em nada: a humildade, a verdadeira, está sempre no sopé da magnanimidade. Por isso tem sabor de grandeza a sua modéstia, que alguns não lhe reconhecem. Nós vemo-la espelhada nos sentimentos com que acolheu certo resultado de uma sondagem, realizada pela revista Ler, que apontava Saramago como "o autor que desfruta de maior popularidade" em Portugal e "o mais importante": "isto não pode ser verdade, ou, sendo verdade, é uma verdade que me dá mal-estar e vontade de me esconder"(175). Vendo-se "à frente" de mais de dez dos autores portugueses consagrados, ainda encontrou lugar para um certo sentimento de irritação que logrou traduzir numa graciosa penada cortante: "os números, afinal, mentem com quantos dentes têm na boca"(176). Vemo-la na aparente "contradição" - e "sincera convicção" - com que se refere a quase tudo quanto nos Cadernos escreveu: "Não vivi nada que mereça a pena ser contado"(177). E até no enfado com que deseja ver-se livre "de uma vida de literato viajante (...) disposto a recusar todos os convites"(178) com que o chamam de toda a parte, para proferir conferências ou compartilhar mesas-redondas, receoso, além do mais, de que comecem a vê-lo "como uma espécie de guru..."(179).

Aquando da sua passagem por Beijing -até à China foi este "literato viajante"-, entre as mil gentilezas orientais com que o galardoaram, foi-lhe dado um nome chinês: San Ku. É o nome que Saramago sugeriu que lhe dessem, com a condição de lhe assentar bem "à cara e ao feitio"(180). Assim, "além de Saramago”, Saramago passou a ser "Três Amarguras", que tal é o significado do seu novo nome em língua chinesa: "amargura (...) por eu ter de viver num mundo de crueldade - diz o escritor, repetindo a tradução que lhe fizeram -, amargura por não o poder mudar, amargura por não ser o homem (completo) que gostaria de ser..."(181). A tradução estriba-se, pelo visto, numa complexa explicação que apenas me permito condensar: o caráter San é um pictograma constituído por três traços horizontais que simbolizam a Terra, o Ser Humano e o Céu; e o caráter Ku, que significa "amargo", "sofrimento", "estar perturbado", é composto de "cao", símbolo de efemeridade, e por Gu, que significa "envelhecido". Saramago, inevitavelmente perplexo perante a sua nova e variada "certidão de nascimento", convém em que esta lhe pareceu assentar-lhe "como uma luva à cara e ao feitio"(182).

A concordância de Saramago com a sua nova nominação, longe de desfazer nas suas qualidades, julgo que as acentua. Digo melhor: ilumina o caráter do humanismo latente no seu Diário e que, para além dele, se estende à sua obra de ficção. Ajuda-nos a compreender, a interpretar o modo como, em 1993, qualificou a sua obra e simultaneamente o seu "feitio", a sua personalidade de autor: Saramago surge-nos aí como alguém que "guiou" a sua "ficção pelos caminhos da história como se leva uma pequena lanterna de mão que vai iluminando os cantos e os recantos do tempo com simpatia indulgente e irônica compaixão"(183)

Não se duvida de que os Cadernos de Lanzarote, mesmo que tão-somente nos concedam um "contorno" de "sombra", da sombra misteriosa que vive em Saramago, delineiam-nos o perfil de um homem profundamente humano, cuja humanidade complexa e até contraditória cumpre conhecer a quem quiser descortinar o seu humanismo. Sim, o humanista que se tem em simples "prático da escrita"(184), que apenas parece aspirar a ser "diferente"e não "melhor que os outros"(185), que "põe quanto sabe numa entrevista e dela, invariavelmente, sai cansado"(186), é alguém que, por ter coração grande e sensível a conviver com uma razão que ainda não se satisfez na luz completa a que aspira, vive uma tensão espiritual "à procura de uma coerência própria"(187). Cremos que a única maneira honrada de tentarmos explicar a riqueza interior da personalidade complexa que é Saramago, longe ainda de ter atingido a plenitude dos seus recursos humanistas, é tomarmos como próprias umas palavras suas que nos dizem: "Talvez essa desejada coerência só comece a desenhar um sentido quando nos aproximamos do fim da vida"(188).

Inclinamo-nos de boamente a considerar a nossa explicação como um feixe de "fios soltos"que não podem nem querem ser mais do que isso, à vista duma obra incompleta, mas afirmando também com toda a esperança o que afirma Saramago, emergindo do seu tenso pessimismo: "A vida acaba sempre por atar os fios soltos"(189).

Para pôr talho, enfim, a estas linhas, que tanto queriam trazer à luz o humanismo latente dos Cadernos e tanto e tão desconsoladamente se sentem aquém do seu intento, não resistimos à tentação de perfilhar o verso leve e humilde do poeta Rafael Alberti, transcrito muito a seu sabor por Saramago: "Feridas de morte sinto as palavras esta noite"(190).


(111). Cadernos III, 1996, p. 35, 5.II.

(112). L. J. Lauand - M. B. Sproviero, Tomás de Aquino - Verdade e Conhecimento, Editora Martins Fontes, São Paulo, no prelo.

(113). O existencialismo é um humanismo, pp. 11 e ss., in M. Heidegger - J.-P. Sartre, "Os Pensadores", v. XLV, Editora Abril, São Paulo, 1973.

(114). Cadernos IV, 1997, p. 195, 9.VIII.

(115). Citado por Daniel-Rops, A Igreja das Catedrais e das Cruzadas, Quadrante, São Paulo, 1993, p. 53.

(116). Cadernos V, 1998, p. 181, 19.X.

(117). Cadernos V, loc. cit.

(118). Cadernos IV, 1997, p. 74, 17.II.

(119). Cadernos III, 1996, p. 113, 30.IV.

(120). Cadernos IV, 1997, p. 136, 18.V.

(121). Cadernos IV, 1997, p. 182, 28.VII.

(122). Cadernos II, 1995, p. 56, 23.II.

(123). Cadernos II, 1995, pp. 249-251, 11.XII.

(124). Cf. Cadernos II, loc. cit. e Cadernos I, 1994, p. 165, 1.XII.

(125). Cadernos V, 1998, p. 201, 9.XI.

(126). Cadernos V, 1998, p. 18, 12.I.

(127). Cadernos II, 1995, p. 250, 11.XII.

(128). Cfr. Cadernos IV, 1997, pp. 182-184.

(129). Cadernos I, 1994, p. 25.

(130). Cadernos I, 1994, pp. 72 e ss., 4.VII.

(131). Cadernos V, 1998, p. 201, 9.XI.

(132). Cadernos V, 1998, p. 44, 13.II.

(133). Cadernos I, 1994, p. 119, 5.IX.

(134). Cadernos I, 1994, p. 12, 15.IV.

(135). Cadernos II, 1995, p. 252, 13.XII.

(136). Cadernos III, 1996, p. 81, 31.III.

(137). Cadernos I, 1994, p. 139, 9.X.

(138). Cadernos I, loc. cit.

(139). Cadernos IV, 1997, p. 132, 13.X.

(140). Cadernos I, 1994, p. 158, 19.XI.

(141). Cadernos I, 1994, p. 133, 1.X.

(142). Cadernos I, 1994, p. 42.

(143). Homem algum é uma ilha, 6a. ed., Agir, Rio de Janeiro, 1975, cap. VII, 1, p. 112.

(144). Cfr. S. Tomás de Aquino, Summa Theologica, I, q. 85, art. 6.

(145). Cadernos II, 1995, p. 251, 13.XII.

(146). João Paulo II, Carta Apostólica Fides et Ratio, 33, nota 28.

(147). Cadernos II, 1995, pp. 39-41, 7.II.

(148). Cadernos I, 1994, p. 9, fevereiro.

(149). Cadernos IV, 1997, p. 122, 22.IV.

(150). Cadernos IV,1997, loc. cit.

(151). Cadernos IV, 1997, p.195, 9.VIII, já citada.

(152). Cadernos I, 1994, p. 60.

(153). Cadernos V, 1998, p.143, 4.VIII.

(154). Cadernos I, 1994, p. 156, 16.XI.

(155). Cadernos I, 1994, p. 105, 19.VIII.

(156). Cadernos III, 1996, p. 172, 7.X.

(157). Cadernos III, 1996, p. 173, 7.X.

(158). Cadernos I, 1994, p. 105, 20.VIII.

(159). Cadernos III, 1996, pp.146 e s.

(160). Cadernos, loc. cit.

(161). Cadernos I, 1994, p. 85, 24.VII.

(162). Cadernos I, 1994, p. 173, 17.XII.

(163). Cadernos I, 1994, p. 175, 25.XII.

(164). Cadernos I, 1994, pp. 174 e ss., 24.XII.

(165). Cadernos IV, 1997, p. 225, 24.IX.

(166). Cadernos IV, 1997, p. 270, 30.XII.

(167). Cadernos II, 1995, p. 89, 11.IV.

(168). Cadernos II, 1995, pp. 173 e ss., 11.VIII.

(169). Cadernos V, 1998, p. 67, 11.III.

(170). Cadernos V, 1998, p. 203, 30.XI.

(171). Cadernos V, 1998, p. 221, 16.XII.

(172). Cadernos I, 1994, p. 52, 31.V.

(173). Cadernos III, 1996, p. 152, 6.IX.

(174). Cadernos I, 1994, p. 115, 4.IX.

(175). Cadernos I, 1994, p. 140, 10.X.

(176). Cadernos I, loc. cit.

(177). Cadernos II, 1995, p. 142, 25.VI.

(178). Cadernos I, 1994, p. 145, 19.X.

(179). Cadernos I, 1994, p. 171, 10.XII.

(180). Cadernos V, 1998, p. 69, 12.III.

(181). Cadernos V, 1998, p.72, 14.III.

(182). Cadernos V, 1998, pp. 72 e s., 14.III.

(183). Cadernos I, 1994, p. 113, 31.VIII.

(184). Cadernos I,1994, p.73, 6.VII.

(185). Cadernos I, 1994, p. 57, 6.VI.

(186). Cadernos I 1994, p.132, 30.IX.

(187). Cadernos III, 1996, p.20, 13.I.

(188). Cadernos III, 1996, loc. cit.

(189). Cadernos IV, 1997, p. 181, 24.VII.

(190). Em espanhol no original: “Siento esta noche heridas de muerte las palabras”. Cadernos V, 1998, p.190, 30.X.