Lavoisier
Nada se cria, tudo se transforma. Livre pensar
é repensar, como quase dizia o Millor. Aliás, ele deve ter dito isto também; eu é que
me lembro de ele dizer com mais freqüência que livre pensar é só pensar. Daí
intelectuais que levam muito a sério os humoristas, mas também não é pra tanto,
cartesianamente cogitaram: "Penso, logo sou um livre-pensador". Pela lei de
Lavoisier transformaram-se e hoje nem mais pensam, nem mais são livres.
A Virtuosa
...Então aqui ela chegou depois de muito
caminhar, tropeçando na virtude e atolando na boa vontade.
Por que o inferno está cheio das boas
intenções, eu não sei. Sei apenas que boa intenção foi também o que aqui me trouxe.
E tendo aqui chegado, encontrei-me com ela,
tropeçada na virtude.
Vinte e Seis Pérolas
Nada vale o preço que não se tem para pagar.
E como são valiosas as coisas que a vida nos quis dar.
São como pérolas. Devemos guardá-las em
saquinhos de couro, com correias na boca, daqueles que quando se fecha nem os duendes são
capazes de bisbilhotar.
Quando eu era menino, um tocador de realejo,
um dia, ao pedir para o papagaio me dar a sorte, disfarçado no gesto mas atento no olhar,
passou-me por baixo do braço vinte e sete pérolas num saquinho de couro destes, fechado
na boca por um barbante de seda da China.
Eu não sabia o que eram pérolas; pensei
apenas que fossem bolas pequeninas e num dia de muitos folguedos acabei por perdê-las
entre minhas bagunças.
Uma preta que me velou a infância, vendo
minhas pérolas ao léu e o saquinho entreaberto, guardou-as todas de novo e as pôs sob
meu travesseiro.
À noite enquanto eu dormia, meu anjo da
guarda as pegou e levou-as para a floresta, onde as deu a um duende que enterrou as
pérolas embaixo de uma mangueira.
E assim foi que entrei na vida sem saber que
tinha pérolas e mesmo esquecido das vinte e sete bolinhas brancas que um dia o tocador de
realejo me deu.
Daí o mar se fez tempestade, meu barco
afundou e como náufrago cheguei à praia onde um rio deságua vindo da serraria.
Ali me acudiu um caiçara que costura redes
enquanto a ressaca não passa. Vendo-me largado na areia, levou-me no ombro à sua casa de
pau-a-pique onde me deu sopa de peixe com banana verde cozida.
Quando recuperei minha força, ele me disse,
após consultar a índia velha que mora no morro:
- Para se curar, meu filho, você precisa de
uma pérola ou duas, destas antigas que o mar não mais as faz.
- Não sei o que são pérolas, meu pai.
Então ele me disse:
- Você nunca encontrou, quando pequeno, um
tocador de realejos? Ele não lhe passou nada por baixo do braço, disfarçado no gesto
mas atento no olhar?
- Eram apenas bolinhas brancas.
- Pois estas são suas pérolas.
- Eu as perdi, meu pai, não sabe?, quando
ainda criança.
- Então procure a preta de sua infância pois
só ela poderá levá-lo até elas.
Daí eu fui. Voltei para a cidade machucado e
procurei minha preta - hoje já velha ela e eu tão menino, ainda quase.
Ela me esperava de braços abertos, e sem me
dizer nada, levou-me até a beira de uma grande mata, onde, na entrada, estavam quatro
duendes com um carneirinho no colo.
Soltaram o carneiro.
Ele levou-me até o pé de uma grande
mangueira e ali me fez cavar: encontrei um saquinho de couro, fechado por um barbante da
China. Na pressa de minha mocidade, corri a pegar meu tesouro e, com as mãos ávidas de
quem não sabe, perdi as pérolas na relva e elas se espalharam pelo mundo todo.
É por isso que sempre ando cuidadoso como
ninguém, olhando a raiz das plantas, onde o mato nasce, caçando bolinhas brancas onde
quer que eu me encontre.
Na beira da praia, hoje, encontrei a primeira
delas. É uma pérola pequenina com uma rosados-ventos cravada no meio: depois de tanto
buscar, veio a mim o meu destino e já sei para onde navegar.
Fazendo bem as contas, preciso continuar
atento. Ainda tenho vinte e seis pérolas a reencontrar.
Pó de Serragem
Cansado de lutar contra os paralelepípedos
lisos, hoje subo minhas ladeiras espalhando serragem no antecedente de meu pisar e desço
as rampas íngremes despetalando rosas rumo ao labirinto.
Meus labirintos não têm Minotauros, estão
povoados de forma simpática por Ariadnes perfumadas com as essências da terra. Neles
estou ao resguardo da aritmética cotidiana das donas de casa e dos chefes de família e
me preocupa somente o paladar dos manjares.
Os licores são destilados das lágrimas de
alegria e os remédios são manipulados em alquimias que os bruxos tecem sobre o suor das
mãos ansiosas das ninfetas em seu primeiro encontro de amor.
A saída dos corredores em caracol são
perceptíveis apenas aos que resistem ao canto mágico das sereias e a volta só é
possível aos que sabem amar um bêbado de rua e apiedar-se da arrogância insana dos
poderosos.
As ladeiras lisas de paralelepípedos molhados
pelas lágrimas do céu só podem ser trafegadas em segurança pelos que conhecem os
infernos.
Para isso servem os que foram resgatados da
loucura: para dar leite aos gatinhos abandonados nas ruas e espargir serragem no caminho
dos que sobem as ladeiras, despetalando flores para aqueles que estão descendo assustados
pela primeira vez.
Proclamação de Melodonte
(Para ler em voz alta)
Armanios suivante norus, problenos matricos
code minotos armanio suinte. Quoboru monfídios pale minoquo, suivantes morum. Quofrobes
mamentos more noborum, placetos fure nontrosse matiri ubes.
Matrique montrafe nosbofe fobefe. Menanto
sebote, carios terrufo moscofe trobefe. Alentro muicone onturo moscofi seutrave amentri,
quisquede menofo ostronci, mescodio suivaro ondonti. Muisquede pescoce ondico, casdefre
menodio obítro quesquod minoro ustrefe.
Melofio stronei pinquedro osdonti menute,
ermefe mostro qued menoti pindestro pequodi senute.
Ostronei ergofe minoti, erquefo bosquete
metrofi, armenio arcadio betofe esmoque futreque metofe. Orbonei esque felefo nifetome
ernofi mistrefo, busquedo ornofi selone matreco montrofe megoni.
Ermetrio pendelo quetrofi, osto nopo toloco
dei: Menuti osmone ferlatio mesgoni lestrego mestara nei: Ortopo lei memonte ferquedo.
Andreco menuti ferlei matropi mergafio felara.
Seduti promofe ergone estrapo erfei oslene
mequefro nufurti mefoli osneto negati osle: Antelui metofone.
Arquefio mefone oslei, matroco trufino bernei.
Netupi melaro magrefi quefaro moni bone tre. Metrofo orlento merfei, lentaro nequefro
orlei.
Mostrobi memuro ondico fe ne le trocaito
minori ostrofe. Fobode menonto obíquo ontrove meluto osquodi.
Fentube enelure comio; ostrobe negafio
milonde. Flebano ontifo negabe legito legore osnofi.
Ortodei menofe bosgote; quesquode pindestro!
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