Um Coração na Infovia Eugênio Araújo O que empurrou aquele garoto de 15 anos para o jornalismo? Mais do que uma opção: um sonho. Migrante paraibano, anos 70, plena ditadura. Prosseguir no banco Safra programando computadores IBM e garantir o futuro com um bom curso superior de Economia ou Administração, ou dar asas à possibilidade de continuar escrevendo prosas , versos e melodias? Na dúvida, não fazer nada. Durante um ano, após o colégio, vários cursos interminados: piano clássico, inglês, teatro no Instituto Macunaíma e muitos livros... Guimarães Rosa, mestre Machado de Assis, Dostoiévski, Sartre, Fernando Pessoa. E dá-lhe Beatles, Gil, Chico, Edu Lobo, "Essa noite se improvisa", Lojas Garbo, Chacrinha, movimento estudantil. No meio da geléia geral, o jornalismo surgiu como o curso inevitável do rio. E no meio do turbilhão de propostas e morte das ideologias, o caminho da informação passou a fazer sentido. Cada vez mais. Por que o caminho da informação ficou mais claro? Bem, os jornalistas, diplomas debaixo do braço, passaram as últimas duas décadas afinando seu trabalho com o fazer jornal à luz da informatização. Sumiram as laudas, a máquina de escrever, os revisores e a alta tecnologia nos fez retornar ao tempo em que o texto ficava mais perto da rotativa - encurtando novamente o trajeto entre a reportagem e o jornal nas mãos do assinante ou do comprador de banca. A sofisticação nos leva, agora, a ter páginas prontinhas na frente da tela - inclusive com fotos e artes. Aperta-se um botão e lá se vão nossos textos, imagens e infográficos transformados em matrizes para ação das velozes rotativas. A corrida tecnológica, disputada byte a byte todos os dias, tende a terminar como aquela história do futebol baiano a depender dos terreiros de umbanda: empatada. Muito bem, se todos têm micros velozes em redes bem montadas e modernos softwares, e as páginas da internet dos veículos se tornam cada vez mais parecidas, o que fazer? "Jornalismo" - esta é a resposta. Reside aí também a visão de que o caminho da informação passa a fazer cada vez mais sentido. Está no jornalismo, hoje, uma realidade que muitos acreditavam tratar-se apenas de teoria de consultores de Recursos Humanos: a grande diferença da produção jornalística está na qualidade das pessoas. Sendo assim, dominadas as técnicas de texto-padrão e domadas as máquinas processadoras de frases e imagens, o destaque estará na ética de quem escreve, no livro que o jornalista leu e que se encaixa com um personagem de determinada reportagem... O brilho estará na profundidade do texto e em decodificar aquele turbilhão de propostas que paralisa qualquer mortal diante das páginas recheadas de notícias. Ao leitor, além de muito serviço nas páginas dos jornais (tendência seguida pelas grandes publicações da Europa e Estados Unidos e, nos últimos anos, também do Brasil), deve-se levar informações contextualizadas. Ouvir o cidadão torna-se igualmente necessário. Cabe a cada veículo encontrar a melhor fórmula para transformar o produto editorial em reflexo cotidiano da comunidade, acrescido de análises que respeitem a inteligência alheia, mantendo um caráter pluralista e ético. Nessa fórmula jornalística não pode faltar sensibilidade aos profissionais pois, na velocidade em que as informações são transmitidas, corre-se o risco de a emoção ser atropelada na infovia. Não será, se a alma não for pequena - como já disse o poeta, em pessoa. |