O Recado das Pesquisas de Opinião
Carlos Alberto Di Franco (Prof. de Ética Jornalística do Master em Jornalismo para Editores)
Recente estudo feito pelo Ibope mostrou que a popula-ção apóia maior controle sobre as redes de TV. Das 2 mil pes-soas ouvidas, 1.500 (75%) defenderam a criação de mecanis-mos de controle externo das redes de televisão para evitar pro-gramações consideradas constrangedoras ou prejudiciais às crianças e aos adolescentes, como a exposição a cenas de sexo explícito e estupro, violência e drogas.
Para 64% dos entrevistados, a classificação por idade e horário seria a solução; 32% apóiam a censura, embora rejei-tem o controle estatal nos moldes do regime militar. Os teles-pectadores não encaram a TV como um veículo inócuo. Mais de 80% dos entrevistas acreditam que a televisão exerce in-fluência na formação dos filhos.
Outra pesquisa, realizada pelo InformEstado com a fina-lidade de radiografar a reação da opinião pública à polêmica desencadeada com a morte da princesa Diana, revelou dados que, conjugados com o estudo do Ibope, são reveladores da si-tuação da opinião pública brasileira a respeito de alguns temas éticos candentes. A pesquisa do InformEstado levantou questões sobre a invasão da privacidade de pessoas famosas. A grande maioria dos entrevistados (80%) acredita que a imprensa não tem o di-reito de noticiar fatos da vida particular de celebridades. Oiten-ta e cinco por cento dos entrevistados não acha que o público tem o direito de penetrar na vida íntima das figuras públicas, mas 83% acreditam que as pessoas têm interesse em conhecer a intimidade das pessoas famosas.
Tal posição, segundo analistas, pode ser interpretada co-mo uma demonstração de consciência: as pessoas estão certas de que não têm o direito de invadir a privacidade de seus ído-los, mas reconhecem a própria curiosidade.
É precisamente esse feeling ético que, transposto para o âmbito dos meios de comunicação social, separa a imprensa séria do jornalismo mundo cão. Grandes tiragens, marca-regis-trada dos tablóides sensacionalistas, e elevados índices de au-diência, autêntica obsessão de certos setores da mídia eletrôni-ca, são brandidos como sinais de aprovação. Esquece-se, no entanto, que curiosidade e aprovação são coisas diferentes.
De resto, como perguntou Gilles Lapouge, correspon-dente de O Estado de S. Paulo em Paris, mesmo que exista uma demanda de vulgaridade, "deve-se aceder a ela?" "Supo-nhamos", exemplificou Lapouge, "que exista um público inte-ressado em estupro de crianças, assassinatos ao vivo, vio-lências desse tipo. Nem por isso os jornais deveriam ter uma coluna especializada em assassinatos e estupros". Na verdade, o mercado não pode ser um juiz inapelável. Não se deve atuar à margem dele, mas também não se pode sobrevalorizá-lo. Trata-se de uma questão de equilíbrio e bom senso. Ganhar dinheiro com a informação não é um delito. É um dever ético. Afinal, a independência, pré-requisito da im-prensa de qualidade, depende do apoio de leitores e anuncian-tes. Mas esse apoio decorre da credibilidade, da coerência, da firmeza ética dos veículos. Desnecessário é salientar, por ób-vio, que aos meios de comunicação, particularmente à mídia eletrônica, cabe enorme responsabilidade social. Como já dis-semos anteriormente, eles adquiriram uma espécie de monopó-lio sobre o tempo de lazer dos brasileiros. Lidar bem com esse monopólio é a grande responsabilidade de todos.
A imprensa de qualidade, ao contrário da mídia sensa-cionalista, não se limita a detectar as necessidades do consumi-dor. Sintonizada com as legítimas demandas do mercado (o que não significa satisfazer quaisquer demandas), é capaz, ao mesmo tempo, de tornar interessante o que é verdadeiramente importante. O jornalismo sensacionalista, ofuscado pelo suces-so efêmero, esquece que a frivolidade passa, mas a credibilida-de fica.
Inúmeros são os recados das duas pesquisas. Sobressai uma constatação: a opinião pública é muito perspicaz. A emo-cionalização do noticiário, festejada num primeiro momento, acaba produzindo cicatrizes irreparáveis no prestígio dos veículos. O noticiário exige qualidade técnica e ética. O sensa-cionalismo pode provocar uma momentânea subida na tiragem de jornais ou render alguns pontos no Ibope. A médio prazo, no entanto, decreta a morte da credibilidade. E a opinião pública, curiosa num primeiro momento, se-rá implacável com os que adulteram a informação com os in-gredientes da vulgaridade. |