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A Educação para o Ócio e a Criatividade (notas de conferência para professores de ensino médio)

 

Elian Alabi Lucci

 

Em que pese o primeiro artigo da constituição italiana dizer que a Itália é uma República Democrática fundada no trabalho, e isto deve acontecer também em algumas constituições, de outras nações modernas, tudo nos leva a crer que o que mais faltará daqui para frente é exatamente trabalho, principalmente na forma clássica como nós o conhecemos na antiga sociedade industrial (antiga, não no sentido que esta sociedade já tenha desaparecido, ela sobrevive ainda em muitos países, até mesmo em seu estágio primeiro mas é, que ao que tudo indica, mesmo nestas sociedades, para que elas possam se inserir nestes tempos de mudanças, será necessário queimar etapas para se colocarem na nova era em que estamos vivendo regida principalmente pela velocidade).

Tom Peters um dos "gurus" destes novos tempos que estamos vivendo, mostra-nos no gráfico abaixo que depois da sociedade ou era da informação em que estamos vivendo (também conhecida como pós-industrial), ingressamos na sociedade das idéias e da criatividade. Aliás, em 1998, quando Alvin Tofler esteve no Brasil ele já se referia a esse nome: sociedade da criatividade.

Esta nova sociedade, onde o poder deslocou-se das mãos dos proprietários das empresas e da produção em grande escala, de bens materiais para a produção de bens imateriais, isto é, símbolos, valores, serviços, informações, design, estética, passa a exigir cada vez mais, nos poucos postos de trabalho que ela irá criar, algo chamado inovação que depende da criatividade.

Segundo o conhecido sociólogo Domenico de Masi, o tempo livre cresce em todo o mundo de forma extraordinária. Segundo ele, um jovem de 20 anos que cursa hoje uma faculdade e tem diante de si pelo menos 60 anos de vida, isto corresponde a 550 mil horas. Se esse jovem trabalhar dos 20 aos 60 anos (40 anos), portanto duas mil horas por ano, isto significa que ele vai trabalhar 80 mil horas durante 40 anos. Assim um jovem de 20 anos tem diante de si uma perspectiva de 530 mil horas de vida e apenas 80 mil de trabalho.

Se ele gastar 220 mil horas com aquilo que os ingleses chamam de "cuidados com o corpo" (dormir, comer, tomar banho), ele terá ainda 203 mil horas de tempo livre.

Infelizmente o que estamos vendo na escola de hoje é que ela se preocupa apenas com as 80 mil horas de trabalho, educando apenas para 1/7 de vida e nada para esse enorme tempo livre.

O que sentimos é que nenhuma escola diante desse quadro irreversível nem se preocupa em preparar os alunos para escolher um bom filme, um bom livro, viver bem com os amigos e as demais pessoas, gerir uma família, ser um bom cidadão, isto porque, segundo o modelo americano ao qual estamos presos ainda, só será feliz aquele que trabalhar bem.

É este paradoxo que já vem matando de certa forma a família, as boas relações de amizade entre as pessoas e até as relações entre países

Daí a importância que passa a ter hoje em dia na educação das crianças para uma sociedade do ócio, a criatividade e o empreendedorismo.

Mas o que é criatividade?

A criatividade é uma qualidade própria da pessoa humana, se entendemos que a pessoa é o lugar do criativo.

Segundo o grande compositor Igor Strawinsky, o trabalho do criativo é como uma aprendizagem em espiral, como pensamento e linguagem, pensamento e ação em espiral: "Não é dar voltas em um círculo sem fim - diz o compositor; é elevar-se em espiral, contanto que tenhamos feito um esforço primeiro, um exercício de rotina, inclusive".

Um dos grandes entraves para mudarmos esta situação, através da escola é a burocracia. Nosso saudoso geógrafo Milton Santos numa entrevista concedida ao jornal do Brasil, em novembro de 1999, explicava isto, falando da burocratização da universidade, e que leva os estudantes ao que ele chama de pensamento único. Também o antropólogo espanhol Ricardo Yepes, no livro Cómo entender el mundo hoy,  diz a mesmíssima coisa.

Criatividade e burocracia são duas coisas irreconciliáveis .

As nossas escolas de hoje continuam ensinando os mesmos valores industriais que serviram durante os anos industriais e que são totalmente contraproducentes na sociedade pós – industrial ( ou do conhecimento nome que muitos atribuem também aos novos tempos que vivemos).

Quais seriam então os valores emergentes nessa nova sociedade pós-industrial?

É quase certo que esse valor seja o valor intelectual seguido em importância, sem dúvida nenhuma pela criatividade.

E porque a criatividade?

A criatividade é um dos máximos valores nessa época em que vivemos porque, o que mais se consome neste momento são idéias. E as idéias para surgirem, em geral ocorrem durante o ócio, daí a expressão que vem fazendo sucesso hoje ser o ócio criativo, que na verdade não é ócio, até pelo contrário è quando devem fertilizar novas idéias, novas visões para nossas vidas e as vidas das demais pessoas e nações.

Uma das atividades intelectuais da nossa mente é o estudo. Se este estudo for feito de forma obrigatória para um jovem estudante, ele será sofrido, pois o aluno é condenado a estudar coisas que não gosta.

O ócio criativo é a única forma de produzir idéias geniais. Idéias geniais vem apenas com o ócio criativo através de uma atividade que consiga unir aprendizagem, trabalho e alegria.

Enquanto na sociedade industrial, esses itens podiam até fazer parte da educação, eles eram divididos: uma fase de vida para estudar, outra para trabalhar e outra para o lazer ou recreação (geralmente após a aposentadoria onde o corpo já não tinha a mesma disposição).

Hoje o que se deve fazer é unir estas três coisas, realizando-as ao mesmo tempo, ou para usar uma expressão bem pós-industrial - "just in time".

A escola neste novo contexto de uma educação para o ócio deve portanto, ter a capacidade de transmitir aos jovens como resolver os problemas e as necessidades pós - industriais com criatividade e bom humor, que é um dos principais ingredientes da criatividade conforme se pode notar no exemplo a seguir.

Texto para discussão

"As provas revelam que o estudante altamente criativo é mais humorado do que o estudante de alto Q.I. No decurso de uma pesquisa, pediu-se a grupos de controle de elevado Q.I. e de alta criatividade que respondessem a certas figuras, uma das quais representava uma mulher de olhar preocupado, que entrava em casa com uma porção de embrulhos. Um estudante de alto Q.I. prontamente redigiu esta descrição convencional: "A Sra. Jones acaba de voltar das compras na cidade. Está preocupada porque o marido pode achar que ela gastou demais". Um estudante altamente criativo respondeu assim: "Essa mulher é evidentemente uma compradora compulsiva. Acredita que se não comprar à bessa a economia entrará em recessão e os trabalhadores negros serão despedidos em primeiro lugar. Está preocupada porque talvez não haja comprado bastante e por isso a queda já esteja em marcha. E teme que seu marido unha de fome não compreenda a importância dela para a economia e, reduzindo-lhe a mesada, arruíne a nação."

Criatividade - A Pessoa, AMAE, 1995, p. 5