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As Experiências Reversíveis
 segundo López Quintás -

Análise de um Poema de Cassiano Ricardo

 

Gabriel Perissé
Doutorando em Educação (FEUSP)
perisse@uol.com.br

 

            A conhecida frase de Dostoievsky no seu livro O Idiota — “a beleza salvará o mundo” — é uma das mais profundas intuições estéticas já verbalizadas sobre o destino do homem.

            Uma pessoa que sabe estabelecer relações criativas com os outros, com a arte, com a natureza é capaz de salvar-se, neste sentido não estritamente religioso, mas quando de fato salvar-se é escapar do inferno da mediocridade e desfrutar da saúde (psíquica, moral, metafísica) de ser.

            O ser humano, para realizar-se integralmente — tornar-se um ser íntegro e não fragmentado e corruptível —, necessita do entusiasmo provocado por experiências significativas. O contato com a arte provoca experiências desse tipo[1]. Esse específico entusiasmo estético-existencial nasce da súbita percepção da (e união com a) realidade em sua pungência, seja diante de um belo quadro, de um belo poema, de uma bela escultura, de uma bela sinfonia etc.

            O educador espanhol Alfonso López Quintás, em seus livros e conferências, tem procurado mostrar-nos que a arte liberta o homem da lógica implacável do cotidiano competitivo, consumista, reificante, em que somos manipulados e massificados, lógica que vai desembocar no vazio existencial.

            É bem verdade o que dizia Mário Quintana — que a poesia não é uma fuga da realidade e sim uma fuga para a realidade. Mas tal verdade precisa ser experimentada de modo criativo, ou não será experimentada de modo algum. A arte propicia e estimula uma visão realista que supera em muito o realismo redutor (e anti-estético) a que somos submetidos diariamente, realismo que por vezes chega a reduzir também a própria arte em mero (e cansativo) entretenimento, em manifestação vaidosa de status social ou poder econômico, em instrumento de marketing e em outras “coisas”.

            A realidade não é uma criação do filósofo ou do cientista ou do artista. Disso não há dúvida, mas eles — cada qual exercendo sua atividade em plenitude — tornam possível sua aparição, sua “patentização”. E nisto consiste recriar a realidade. A realidade “precisa” da pessoa para manifestar-se, tal como a pessoa precisa da realidade extra-mental para exercitar sua capacidade cognoscitiva.

            No caso particular do artista do verbo humano — do escritor/poeta —, trata-se de patentizar no corpo das palavras a complexidade do real, marcado por contrastes e paradoxos que uma visão racionalista interpreta como simples e indesejáveis contradições.

            Quintás traduz aletheia com a expressão patentización luminosa[2], o que mostra que a verdade desvelada na arte não se trata de uma conclusão conquistada com os esforços objetivistas da razão (muitas vezes embevecida com seu próprio poder), mas um encontro com a verdade artística que é, “en todo rigor um modo de verdad ‘poiética’ — creadora”[3].

            Na arte, reproduzimos a realidade criando âmbitos, campos de possibilidades, “espaços” lúdicos em que a vocação criativa do homem pode manifestar-se, em que o homem mesmo pode pôr em jogo sua imaginação, sua memória, sua afetividade, sua consciência, sua capacidade de descobrir, de fundar novos sentidos para velhos significados.

            O poeta é criador ao criar um âmbito poemático, e o leitor é criador ao criar, na sua leitura, um novo âmbito entre si e o poeta-poema. E se o leitor escreve uma análise, esta análise por sua vez terá de ser lida por outro leitor que, ao fazê-lo, haverá de criar um novo âmbito. E é nesta sucessão de âmbitos[4] que a vida e o vivente se realizam para além das restrições aparentemente sensatas, aparentemente coerentes, da mediocridade.

            Esta ampliação da realidade e da verdade pode ferir os ouvidos do “realista” que, numa imagem do escritor inglês Gilbert Chesterton, ao invés de querer mergulhar de cabeça no mundo (como fazem os poetas) quer que o mundo lhe entre todo na cabeça. É evidente que a cabeça “realista” explodirá, ao passo que a cabeça poética será envolvida pela luminosa patentização de um mundo que ultrapassa (e aperfeiçoa) nossos esquemas e sistemas mentais.

            A cabeça “realista” explodirá e, por outro lado, a realidade não se expandirá tanto quanto poderia. A realidade atrofia-se diante da mente atrofiada, tanto quanto se expande diante da consciência livre e criadora. Pois se o conhecimento é um encontro, o encontro é uma experiência reversível.

            No seu mais recente livro, El espíritu de Europa, Alfonso López Quintás dedica várias páginas a explicar (e o faz igualmente de um modo lúdico) em que consiste o fecundo tema das experiências reversíveis.

            Uma idéia fundamental para entendê-las é ver que a quinta-essência da atividade criadora é a recepção criativa. Não se trata, portanto, de uma recepção qualquer, mas daquela em que a iniciativa de quem recebe faz aquilo que é recebido tornar-se o que de fato está chamado a ser. E nessa recepção criativa aquele que recebe também se torna quem de fato deve ser, enriquecido, plenificado pela intimidade do encontro com o outro, seja a obra de arte, seja a natureza, seja a pessoa amada etc.

            Quintás emprega a analogia do homem que respira normalmente e do asmático. Quem respira bem assimila o ar e, dele retirando o oxigênio — que, por sua vez, manterá e aumentará a vida do homem —, confere também um sentido humano e vital ao oxigênio. Já o asmático “no es libre para respirar. El hombre recluido en sí mismo no es libre para ser creativo, asumiendo activamente las posibilidades que le vienen ofrecidas desde fuera y que se convertirían en íntimas si las tomara como principio eficaz de su acción”[5]. Por mais que esteja rodeado de ar, o asmático morrerá asfixiado, e o ar, neste caso, perde valor, torna-se inútil para a vida. O asmático não pode corresponder ao convite vitalizador do ar, e o ar, por seu turno, não poderá aqui realizar-se como fonte de vida.

            As experiências reversíveis, como se nota, pressupõem um encontro vivo, e um encontro vivo é uma experiência com mão dupla: a realidade deixa de ser estranha, distante, alheia e quem a encontra nunca mais será o mesmo.

            Explicando a experiência reversível que se dá na interpretação viva de um poema, Quintás mostra que o leitor que lê criativamente, à medida que vai dando ao poema sua expressão perfeita, observa pari passu que é ele, o poema, quem ilumina o leitor na tarefa da interpretação: “es él quien te ilumina en esa tarea y te impulsa a proseguirla; tú movilizas una gran energía al tiempo que te sientes llevado; te mueves con libertad y sigues el cauce trazado por la obra; eres autónomo en las decisiones que tomas y tienes conciencia de ser absolutamente fiel a la obra.”[6]

            Numa leitura criativa, leitor e obra, leitor e poema tornam-se um só, não num estado de fusão e confusão, mas de união e integração, em que ambos saem enriquecidos e auto-realizados.

            O poema enriqueceu-se porque saiu, por assim dizer, do limbo e concretizou-se como obra humana, foi incorporado à vida humana uma vez mais, uma vez mais ganhou razão de ser, uma vez mais saiu da virtualidade do papel e veio à tona da consciência humana.

            E o leitor enriqueceu-se porque soube descobrir o sentido implícito, latente, “adormecido” dos versos, despertando-o com o calor de sua voz, com a vivacidade de sua imaginação, com a penetração de sua inteligência, com suas experiências pessoais, sentido este que, afinal, despertou nele também, leitor (fruto da reversibilidade da experiência viva), a sensibilidade, a afetividade, a compreensão do mundo. Despertou nele também, leitor, uma visão iluminada da vida, aguçou sua inteligência, poetizou sua existência, preencheu de beleza sua consciência.

***

            Também este ensaio que estou escrevendo seria menos pleno se não procurasse realizar-se no âmbito da leitura de um poema que, por sua vez, patentizasse a própria idéia de experiência reversível.

            O poema escolhido é Etc., um poema de Cassiano Ricardo[7]:

 

ETC.

Existe tudo porque existo.
Há porque vemos.
(Fernando Pessoa)

 

Para que o mundo exista, existimos.
Pois seja.

Sem os nossos olhos, sem o que somos,
que adiantaria haver mundo?
Seria a árvore dos dourados pomos, etc.

O que é ignorado não existe.
O que é eterno também não existe.
A eternidade é uma forma de não existência.

Ao menos para nós o mundo não existiria
se não fosse existirmos.
Para mim, por exemplo, o mundo existe
porque ora estou alegre, ora sou triste.
Mas no fim vem a morte e... nos leva.
O seu poder é bem maior que o nosso;
porque é o da treva, e o nosso, esse não passa
de só dar existência ao que claramente já existe,
ao que só existe em razão dos nossos frágeis sentidos.
Que podemos ouvir, olhar, tocar, etc.

Agora mesmo, não faz senão um minuto,
no banco do jardim... que foi? Um homem suicidou-se.
O dedo lhe está preso, ainda, no gatilho,
rígido como uma hora certa. Sem nenhum
arrependimento.

Muita gente reunida em redor do seu corpo.
Muitos rostos examinando o seu rosto.

Mas ele suicidou-se, apenas? Não é, isso, bem menos
do que ele fez?

Ele desceu violentamente a cortina da noite
sobre nossos rostos, que só continuam vivos
para nós.

O seu corpo ali está, presente a todos,
mas nós — que somos todos — já estamos ausentes.

Ele nos suprimiu.
Ele nos destruiu também, simbolicamente.
Que destruir a si mesmo importou, para ele,
em destruir o mundo físico,
que só existia em razão dos seus frágeis sentidos
principalmente em razão dos seus olhos, etc.
Como dizer-se apenas: suicidou-se?

Ele desceu violentamente a cortina da noite.
Jogou ao chão a sua própria estátua.
Não aceitou a explicação da vida.
Fez qualquer coisa de mais belo e mais monstruoso.
Pois nem Deus (e Deus é Deus)
conseguirá, jamais, fazer o que ele fez: suicidar-se.

Ah, ele conserva ainda
na mão a arma com que apagou o sol e as estrelas.

Como dizer-se apenas: suicidou-se?

Agora virá a mulher e essa mulher o abraçará loucamente.
A esposa, e um anjo, a filha, lhe dirão palavras estranguladas.

Virá a ambulância. Alguém já chamou a polícia,
e haverá autópsia, etc.

***

            O tema é o suicídio, mas visto aqui de um ângulo diferente de outros três, mais conhecidos.

            Porque há, em geral, ou uma condenação, ou uma aceitação ou um elogio do suicídio.

            A condenação do suicídio baseia-se em que o suicida desvaloriza a vida humana. Este atentado à própria vida é como que uma bofetada em toda a humanidade, e os demais se sentem no direito de punir o suicida de algum modo. A palavra “suicídio” talvez hoje pareça-nos mais inofensiva do que é. Em inglês, por exemplo, temos “suicide” (que, como substantivo, serve para designar o ato e o agente, e também o verbo suicidar-se), mas quase ninguém lembra que esse idioma recolheu da herança teutônica e saxônica, e não da latina, outra palavra: self-murder e self-murderer, que deixam em maior evidência a noção de auto-assassinato. Em alguns países (há registros desse costume até o século XIX), queimava-se o corpo do suicida (visto, assim, como criminoso) numa encruzilhada, depois de perfurarem seu peito com uma estaca.

            A aceitação (independentemente de aprovações ou condenações) do suicídio tem como princípio a idéia de que muitas vezes trata-se de um ato cometido num contexto patológico. Sabe-se que em estados de depressão profunda o suicídio é mais um sintoma do que uma opção. Num estado de angústia insuportável, jogar-se de uma janela ou lançar-se ao mar seriam gestos incontroláveis e, por conseguinte, inimputáveis.

            Já o elogio do suicídio interpreta-o como ato livre, responsável e soberano de quem transforma o destino da morte em escolha consciente. Se a morte inevitável e humilhante transforma a vida numa fatalidade sem remédio, o suicida, nesta interpretação (bem ao gosto de um Montaigne, por exemplo), sai de cena com a cabeça erguida, sem ódio de si nem dos outros, estoicamente, lucidamente.

            Se essas três visões forem avaliadas à luz do conceito das experiências reversíveis, talvez seja possível encarar o próprio suicídio numa nova perspectiva.

            O poema de Cassiano Ricardo já no seu primeiro verso estabelece como que o pressuposto de uma relação viva entre mundo e pessoa: a nossa existência e a do mundo dependem uma da outra. De que adiantaria haver mundo se não houvesse pessoas para o chamarem de “mundo”? E faz alusão a um poema de Vicente de Carvalho[8], lembrando “a árvore dos dourados pomos, etc.”

            A felicidade é, afinal, o resultado de um autêntico encontro entre nós e a vida, um encontro em que somos protagonistas. Se pomos os pomos da felicidade fora do nosso alcance, seremos artífices de nossa própria infelicidade. A “árvore milagrosa” da felicidade existe, mas somos nós que a tornamos inalcançável, embora seja tudo o que queremos na vida. Como diz Julián Marías em vários ensaios e conferências sobre a felicidade humana, boa parte do nosso fracasso existencial está em “preferir aquilo que não preferimos”.

            A abreviação “etc.” (da expressão latina et coetera, isto é, “e outras coisas”), utilizada para, por sua vez, abreviar longas enumerações, e que é o título do poema, aparecerá ainda outras vezes. Agora, primeiramente, tem por função aludir ao poema citado e deixar ao leitor o trabalho de rebuscar na memória, e nos livros, a continuação de um raciocínio mais ou menos comum: o de que o ser humano está sempre insatisfeito, mas que também dele depende construir e colher sua felicidade.

            O poeta experimenta a existência do mundo na sua própria intimidade: “ora estou alegre, ora sou triste”. Numa espécie de silogismo duplo, “sinto, logo o mundo existe, e o mundo existe porque eu me sinto nele”. A morte surge aqui (não ainda a do suicida) como um poder destruidor dessa lógica em que eu e o mundo nos damos mutuamente a existência.

            O homem tem o poder “de dar existência ao que claramente já existe”, mas que, paradoxalmente, só existe porque podemos ouvi-lo, olhá-lo, tocá-lo, etc. O novo “etc.” ao final da quarta estrofe é agora a abreviação de uma outra enumeração interrompida... e extremamente sugestiva.

            Porque os nossos sentidos é que dão sentido ao mundo, mas tais sentidos aparecem não como puros sensores. Há neles algo de infinitude, de mil possibilidades a serem descobertas. Tocar, olhar, ouvir humanamente, poeticamente, é ultrapassar as simples informações sensoriais. Vendo, dou ao que vejo um plus de existência. Não basta existir, é preciso existir para alguém, para os olhos de alguém.

            O suicida, enfim, surge no poema, depois de puxado o gatilho, “sem nenhum arrependimento”. E a pergunta que o poeta se faz é reveladora: “ele suicidou-se, apenas?”

            Não, e a resposta é que foi “bem menos” o que ele fez. O suicídio não como ato acrescentador, criador, mas algo diminuidor, e não diminuidor em sentido unilateral. Não foi apenas o suicida que se matou. Matar-se não seria nada se fosse apenas um a morrer. Se o mundo e a pessoa não estivessem em conexão.

            Na percepção poética, o suicídio é um ato violento sobre os rostos dos outros homens, que morrem também quando um homem morre. O suicida não se ausenta, pois nós o continuamos a ver, tocar etc. Para nós de algum modo o suicida continua vivo, pois ainda queremos abraçá-lo, como a esposa, a filha, os amigos, os com-viventes.

            O grande crime do suicida não é que ele se mate, mas que nos mate a nós!

            O verso é tão clarividente que poderia passar despercebido: “Ele nos suprimiu.”

            Foi ele quem nos destruiu, nos tornou inúteis, inviabilizou a nossa existência. Se não houvesse uma relação viva entre os homens, um morto seria apenas um morto. Sua morte isolada não diria nada a ninguém. Não teria sentido.

            O fato de não termos mais os “olhos, etc.” dele sobre nós é que faz com que deixemos de existir.

            Deus não pode matar-se, pois seu Ser consiste em transbordar e dar sentido a tudo. A beleza e a monstruosidade do poder criador humano é que podemos abrir mão desse poder e desencadear a não-existência dos outros, do mundo, do sol, das estrelas etc.

            Chesterton, em seu Ortodoxia, disse lapidarmente: “O homem que mata um outro homem mata um homem. O homem que mata a si mesmo, mata todos os homens.” (“The man who kills a man, kills a man. The man who kills himself, kills all men.”)

            O fiat divino é sua palavra aprovadora, é a sua própria condição de amar incondicionalmente. O fiat humano, porém, é frágil e sujeito a degenerar-se. Se Deus pudesse morrer, tudo morreria. Se um homem se mata, desaprova tudo o que o rodeia, implicitamente nega a possibilidade de dar sentido a esse mundo. Nega-se a amar. Nega-se a conferir valor ao que há. Matar-se é matar.

            Quando a esposa e a filha se aproximam do suicida (que para elas ainda é o marido e o pai e, portanto, ainda existirá), começam a perder a vida. Suas “palavras estranguladas” traduzem o estrangulamento mesmo que experimentam. São elas que morrem agora. Por enforcamento do amor.

            O final do poema traz um derradeiro “etc.”, extremamente alusivo porque precedido por uma palavra que encarna uma nova experiência reversível: autópsia.

            Os rigoristas da língua criticam o uso dessa palavra, pois na verdade o ato de abrir o corpo de um morto em busca da causa mortis deveria ser uma necropsia, e não uma autópsia. O que há de “auto” no ato de abrir o corpo de um outro?

            Mas a sabedoria inconsciente da linguagem (que “fala” em nós) é que na autópsia, e isto o sabem aqueles que já a realizaram, quem vê as entranhas do outro humano ali, à sua frente, começa a conhecer-se e ver-se. Examinar o cadáver de outro homem é descobrir-se demasiadamente humano.

            O abismo dessa visão do outro é olhar para o próprio abismo pessoal.



[1] Outras experiências significativas: o amor fiel, a amizade profunda, a geração de um filho, a adesão a um ideal, a concretização de uma vocação profissional, a constatação da ação providente de Deus, enfim, toda experiência vital em que a pessoa se vê convocada a transformar-se em quem efetivamente deve ser.

[2] Para comprender la experiencia estética y su poder formativo. Navarra, Ed. Verbo Divino, 1991, p. 17. 

[3] Idem.

[4] Para compreender melhor o conceito de âmbito na obra de Quintás, leia-se o ensaio que escrevi — O Objeto e o âmbito no pensamento de López Quintás - análise do poema-música de Sérgio Bittencourt — encontrável em: http://www.hottopos.com/convenit/lq3.htm  

[5] El espíritu de Europa. Madrid, Unión Editorial, 2000, pág. 144.

[6] Idem, pág. 146.

[7] O poema foi encontrado às páginas 112-115, em Meu caminho até ontem, antologia que Cassiano Ricardo publicou em 1955 pela Editora Saraiva. Quem quiser conhecer melhor o poeta, poderá ler um breve artigo na Revista eletrônica Esfera: http://www.esfera.net/014/livros-cricardo.htm

[8] Esperança

Só a leve esperança, em toda vida
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.

O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.

Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,

Existe, sim; mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.

(em Magaly Trindade Gonçalves e outras. Antologia de antologias, São Paulo, Musa Editora, 1995, página 352.)