Breve Histórico do Instituto Plural: uma Experiência Acadêmica Brasileira
Roseli Fischmann
rosefish@usp.br
Instituto Plural[1]
Em 18 de fevereiro de 2000 foi formalizada, em São Paulo a existência do Instituto Plural – Pesquisas e Projetos de Pluralidade Cultural[2]. Valemo-nos da expressão “formalizada”, porque nosso trabalho já conta com dez anos de existência ativa, com repercussão nacional e internacional. Qual nossa origem? Recordamos, aqui, alguns marcos do nosso trabalho, cujo eixo central é promover a busca do conhecimento científico no campo da Pluralidade Cultural, em prol da valorização da diversidade cultural, da superação do preconceito e da discriminação étnica, religiosa e cultural, com o compromisso de desenvolver pesquisa acadêmica em diferentes áreas do conhecimento, conjugada a correlatos objetivos sociais voltados para o respeito aos Direitos Humanos e para a construção da Democracia, da Tolerância e da Paz, sempre articulando pesquisadores e lideranças de grupos e movimentos sociais, notadamente de minorias.
Os primórdios desse trabalho foram marcados por experiências preliminares de contato ativista com o Conselho da Fraternidade Cristão-Judaico[3] e com a Comissão Nacional de Diálogo Religioso Católico-Judáico[4], órgão da CNBB, ao longo de 1989. Em 1990 foi apresentado um paper no “Simpósio Internacional Oriente-Ocidente: Projeções”, promovido pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, como iniciativa do Departamento de Letras Orientais, caracterizando o trabalho como campo de possibilidades acadêmicas.
Pela triste época da Guerra do Golfo, em início de fevereiro de 1991, como oportunidade dada pelos Céus, encontrei o professor Mohamed Habib, em cerimônia promovida pelo jornal Folha de São Paulo em prol da Paz, em celebração de seus 70 anos. Nessa ocasião, selamos uma cooperação que tem rendido muitos frutos e que se expandiu para muito além de nós. Por indicação do professor Luiz Jean Lauand, freqüentei dois semestres do curso sobre Alcorão, ministrado pelo professor Helmi Nasr na Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, ao longo de 1991, onde fiz vários amigos, de diferentes religiões, um deles o professor Henrique Cunha Júnior, que posteriormente me abriu outros contatos nos meios ligados às Tradições Africanas. Nessa época também freqüentei algumas disciplinas do curso de Hebraico na mesma FFLCH/USP.
Com Mohamed Habib articulamos trabalhos com sociedades científicas, ligando ambientalismo, religiões e paz, com participação de Fábio Feldmann, então deputado federal, e de José Pereira de Queiroz Neto, na época Secretário Regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SBPC em São Paulo. Promovemos, em cooperação com a diretoria nacional da SBPC e a Regional São Paulo, de cuja diretoria executiva participava, simpósio sobre “O papel da Ciência na promoção da Paz”, na reunião anual de 1991, em julho, no Rio e na 6ª Conferência Brasileira de Educação - CBE, de cuja Comissão Executiva participava, mediante um Ciclo de Debates, ao longo de três dias, com ênfase nas relações educação e meio ambiente, com a participação de destacados nomes do ambientalismo, em movimento de preparação para a Rio-92.
Em 1992, apresentei a proposta, coordenei a preparação e realização da mesa redonda “América 500 anos: Coexistência de Religiões”, dentro do Congresso Internacional América 92: Raízes e Trajetórias, promovido pelo Departamento de História da USP. Esse Congresso foi coordenado pela professora Anita Novinski que, acolhendo nossa proposta, fez dessa mesa uma atividade patrocinada pela comissão científica do evento. Essa mesa marcou o início das atividades do Fórum de Religiões, composto preliminarmente pelos participantes da mesa e alguns outros convidados, propondo todos que a coordenação executiva ficasse a meu cargo.
Participaram desse momento, além de Mohamed e eu, reverendo Gustavo Corrêa Pinto, pelo Budismo, Marcos Terena, pelas Tradições Indígenas, professores Muniz Sodré e Inaicyra Falcão dos Santos, pelas Tradições Africanas, representando Mestre Didi, Rabinos Alejandro Lilienthal e Michael Leipzieger, Professor Helmi Nasr, pelo Islamismo, Frei Leonardo Martin, Padre Jesus Hortal, Frei Gorgulho e Maria Helena Lima de Freitas, pelo Catolicismo, Pastor Dirck, pela Igreja Luterana, Pastora Nancy Cardoso, pela Igreja Metodista, Professor Hugo Schlesinger e Frei Bernardino Schreiber, pelo Conselho da Fraternidade.
Desde essa época, 1992, contamos com o apoio da Faculdade de Educação da USP, notadamente por intermédio de sua Diretora, Professora Myriam Krasilchick e de colegas como o professor Luiz Jean Lauand e a professora Tizuko Morchida Kishimoto, assim como do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, pela apresentação que Marcos Terena fez de todos nós e pelo empenho do Oficial de Programa Ricardo Jatobá. Tal apoio foi formalizado apenas quando obtivemos o indispensável apoio do Itamaraty, por intermédio de contato que nos propiciou a Professora Beatriz Cardoso, da FEUSP, com assessores de seu pai, Professor Fernando Henrique Cardoso, atualmente nosso Presidente, e que era, à época, Ministro das Relações Exteriores.
Realizávamos as reuniões do Fórum de Religiões em rodízio de sede, sendo cada uma das comunidades vinculadas ao trabalho a cada vez. Tivemos grande apoio do Templo Honpa Hongwanji, pela apresentação que fez de nosso trabalho, às autoridades Budistas, o reverendo Gustavo Corrêa Pinto. Mobilizamo-nos por ocasião do Acordo de Paz de Washington, em nome do Fórum e enquanto ativistas do meio científico, antes do Acordo e em apoio a ele, mobilização junto às sociedades científicas via SBPC para que enviassem mensagens de apoio às embaixadas árabes e israelense no Brasil. O Fórum, em si, manifestou-se em apoio no minuto seguinte à assinatura do Acordo, por fax, às Embaixadas Árabes, Israelense, Governo Federal e imprensa.
Tivemos a felicidade de organizar no Lar Golda Meir, com apoio do Rabino Michel Leipziger e diretoria do Lar, e em articulação com o Professor Mohamed Habib, na segunda noite de Rosh Hashaná – o que se deu dois dias após a assinatura –, uma celebração de agradecimento pelo Acordo de Paz, com participação de quase todos os membros do Fórum, ou representantes, e irmãos Palestinos residentes no interior de São Paulo, um momento de rara emoção.
Durante todo esse tempo trabalhamos sem qualquer apoio financeiro. Os apoios institucionais garantiam certa base de segurança, mas acabávamos colocando nossos próprios recursos para tornar possível o trabalho. Essa situação aproximava nossas intenções de uma inviabilidade certa.
Em novembro de 1993 iniciei, então, um processo de participação em concurso junto a The John D. and Catherine T. MacArthur, de Chicago, para um “fellowship” individual. Selecionada na primeira fase, em janeiro de 1994 estive com vários dos participantes do Fórum, em busca de discutir a proposta e obter cartas de apoio e disposição de parceria com relação à disponibilidade de participação no projeto que nascia, então, com o nome que se tornou público e passou a nos identificar: "Projeto Discriminação, Preconceito, Estigma: Relações de etnias e educação”. Ganhamos também novos aliados por essa época: Geledés – Instituto da Mulher Negra, Federação Israelita do Estado de São Paulo[5], Reitoria da USP.
Em junho de 1994, após mais três etapas do concurso, o projeto foi selecionado como um dos oito aprovados, dentre quase 400 candidatos, iniciando-se essa nova fase em agosto do mesmo ano. Nossos antigos participantes, assim como outros nomes destacados que nos deram apoio, passaram a integrar o Comitê Sênior, tivemos uma instalação solene dos trabalhos com a presença do Reitor da USP, um dos membros do Comitê, Professor Flávio Fava de Moraes.
Pouco antes dessa instalação solene, ainda em junho de 1994, por contato sugerido pelo Professor Nachman Falbel com os organizadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pudemos cooperar ativamente na organização do Encontro Preparatório da UNESCO sobre Tolerância na América Latina e Caribe, que discutiu posições da região para a Declaração da UNESCO sobre Tolerância, uma demanda da Assembléia Geral da ONU visando 1995, o ano de seu Cinqüentenário. Obtivemos o apoio da Universidade de São Paulo para esse Encontro, o qual contou inclusive com a presença do Reitor à época, Professor Flávio Fava de Moraes que, em sua apresentação, propôs cooperação à UNESCO que se consolidou posteriormente, como será tratado, seguindo ordem cronológica.
Como grupo, oferecemos, ainda, dois momentos de cooperação com a Anistia Internacional - Seção Brasileira. A primeira cooperação, durante o processo do concurso da Fundação MacArthur, no primeiro semestre de 1994, contou com apoio da Reitoria da USP e do Diretório Central de Estudantes Alexandre Vanucchi Leme. Envolveu órgãos centrais da Universidade e jovens estudantes, na organização do evento “Eles existiram um dia”, e contou com a presença de personalidades indicadas pela Anistia, como Lygia Fagundes Telles, Luís Baravelli, Yves Gandra Martins, Bóris Casoy, Alexandre Machado, entre outros, merecendo uma primeira página da Folha de São Paulo, em uma significativa cobertura de imprensa, com grande repercussão. Em 1995, cooperamos na visita que fez ao Brasil o Secretário-Geral da Anistia Internacional, Pierre Sané, em evento dirigido a Organizações Não Governamentais na sala do Conselho Universitário, também com apoio da Reitoria da USP e presença da Deputada Marta Suplicy, representando o Congresso Nacional, como membro da Comissão de Direitos Humanos daquela Casa.
Iniciamos efetivamente o funcionamento da equipe do projeto com apoio do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia, com bolsas de iniciação científica e de aperfeiçoamento, além de equipamento e material bibliográfico, além de contarmos com apoios da FAPESP, em diferentes momentos.
Nosso projeto pode articular, também, além do contato permanente da coordenação com o Comitê Sênior, o trabalho de seis jovens líderes de comunidades, indicados pelo Comitê Sênior e financiados pela bolsa que recebia da Fundação MacArthur, além de seis estudantes da USP, de notada liderança no movimento estudantil, com bolsa do CNPq, além de voluntários. Esse trabalho que envolveu, na seqüência das práticas que vinham desde 1990, pesquisa, no sentido estrito e tradicionalmente rigoroso do termo, e intervenção educacional, foi desenvolvido de forma intensa, nesse formato, ao longo de 1995, 1996 e 1997.
Em 1995, participando da décima oitava reunião anual da International Society of Political Psychology em Washington, D.C., apresentando nosso trabalho, visitei a sede do Centro de Direitos Humanos das Nações Unidas, hoje integrando o Alto Comissariado para Direitos Humanos, em seu escritório de Nova York, por intermédio de contato feito pelos colegas do PNUD, uma vez mais atuantes em nosso apoio[6]. A visita ali feita à Sra Elsa Stamatopoulou resultou no convite para que integrasse o Roster of Experts do Centro em Genebra, contato que mantemos até hoje.
Ao mesmo tempo, várias oportunidades se abriram, de praticarmos uma intervenção educacional mais intensa do que aquela inicialmente prevista. Basta lembrarmos que nosso grupo se envolveu ativamente, em 1995, com as diversas comunidades que representamos, nas discussões da Comissão Especial sobre Ensino Religioso em Escolas Públicas, do Governo do Estado de São Paulo, com resultado muito positivo - época em que também tivemos a possibilidade de tomar contato com a Professora Anna Cândida da Cunha Ferraz, da Faculdade de Direito da USP, responsável pelo parecer jurídico que respaldou nosso trabalho e mobilização. Conseguimos nessa época uma grande visibilidade para a temática dos Direitos das Minorias em toda a mídia, com repercussões posteriores, que podem ser avaliadas como positivas, por sua ampla duração e, como tem se manifestado, duradoura permanência.
Em termos de políticas públicas, porém, a maior conquista foi a inclusão do tema transversal Pluralidade Cultural nos Parâmetros Curriculares Nacionais do MEC – Ministério da Educação, para o Ensino Fundamental, que tive a honra de redigir e de contar com a presença de várias lideranças sociais, além de acadêmicos, como pareceristas. Para tanto, tivemos o apoio do Ministro da Educação, Professor Paulo Renato de Sousa e da Secretária de Ensino Fundamental do MEC, Professora Iara Prado.
Da proposta que tínhamos, na elaboração do projeto, de prepararmos material didático para uma escola, chegamos a essa possibilidade, qual seja, a de realizarmos tal proposta em nível nacional, que se colocou como o fruto maduro de muitas reivindicações históricas de movimentos sociais voltados para a superação da discriminação - e em nosso trabalho encontrou seu veículo
Encontrando-se em aplicação em todo o território nacional de 1ª a 8ª séries, influenciou a elaboração dos demais referenciais - para educação infantil, educação indígena, ensino médio, educação de adultos, educação para portadores de deficiência. Já está sendo objeto de teses de doutorado e trabalhos de pós-doutorado, dentro e fora do Brasil. Sobretudo, é a afirmação da possibilidade da valorização de cada grupo humano que compõe o Brasil e da possibilidade de convivência justa e solidária, como ato de intenção e construção voluntária.
Também a elaboração do Manual Direitos Humanos no Cotidiano, sediada em nosso projeto, com participação de muitos de nosso grupo, pode ser considerada uma grande conquista. Solicitado pelo Secretário Nacional dos Direitos Humanos, Dr. José Gregori, como trabalho que tivesse “a cara” das coisas que fazemos, saiu como documento do trabalho que vem sendo desenvolvido pela sociedade civil desse Brasil Plural que somos, com tantos problemas e tantas potencialidades, quando ouvida a voz, e garantida a vez, àqueles que têm feito a história muitas vezes silenciada de nosso País.
É relevante lembrar que o Manual contou com a cooperação direta, junto à coordenação, de Sueli Carneiro, coordenadora de Geledés, que em muito nos auxiliou no contatos com ONGs, por sua experiência e respeitabilidade, e de Marcos Terena, Articulador dos Direitos Indígenas junto à ONU, que redigiu uma “tradução indígena” dos trinta artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
O Manual teve, ainda, a participação de cerca de 150 participantes da sociedade civil, sendo 60 ONGs das mais relevantes em nível nacional e internacional, cerca de 35 artistas das artes visuais e mais de 50 personalidades dos mais variados campos sociais. Ali estão representadas todas as comunidades que têm participado do projeto, todas as agências com as quais temos interagido.
Ao mesmo tempo, a professora Anna Cândida da Cunha Ferraz, com uma equipe de doutorandos e mestrandos da Faculdade de Direito da USP, preparou todo o embasamento jurídico, artigo por artigo da Declaração.
O Manual Direitos Humanos no Cotidiano foi fruto de uma cooperação da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos com a UNESCO e a USP. Entregue ao Diretor Geral da UNESCO, Federico Mayor, foi apontado na abertura da reunião do Conselho Executivo da UNESCO em outubro de 1998 como um exemplo, dentre as publicações feitas pela UNESCO em todo o mundo.
Em paralelo e articulada a essa ação em nível nacional, continuamos a cooperação iniciada com a UNESCO em 1994, por intermédio de Serguei Lazarev, chefe da Unidade da Tolerância da UNESCO, Paris, e seguindo a consolidação das propostas do Reitor da USP, à época, Professor Flávio Fava de Moraes. No âmbito institucional, por designação do Reitor, cooperamos na articulação e concessão da Cátedra UNESCO de Educação para a Paz, Direitos Humanos, Democracia e Tolerância, que ficou sediada no Instituto de Estudos Avançados da USP.
Coordenamos, ainda, a realização do Seminário Internacional “Ciência, Cientistas e Tolerância”, organizado no período de 1994 a 1997, quando se realizou em novembro, envolvendo toda a USP, por intermédio da Pró-Reitoria de Pós-Graduação da USP, tendo à frente Professor Adolpho Melfi, hoje Vice-Reitor da USP. Teve o apoio, além da USP e UNESCO, Paris, da Coordenação do Sistema da ONU no Brasil[7], , da FAPESP[8], da FUNAG - Itamaraty, da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, do Consulado Norte-Americano, entre outros apoios. Desse Seminário resultou a criação da Rede UNESCO das Américas e Caribe para a Tolerância e Solidariedade, que reúne 18 grupos de trabalho (GTs) em seqüência ao seminário, e tem sua implantação sob nossa responsabilidade, com a cooperação de colegas coordenadores de GTs.[9]
Essas atividades levaram à indicação honrosa para que integrasse o Grupo de Trabalho Especial de Educação para Direitos Humanos, órgão assessor do Conselho Executivo da UNESCO, Paris, com participação de apenas 12 pessoas do mundo. Ali representei, em suas duas sessões, realizadas em outubro de 1998 e abril de 1999, o GRULAC, Grupo da América Latina e Caribe, que aprovou por aclamação a indicação de meu nome, feita pelo Ministério das Relações Exteriores[10], como representante brasileira. Foi tempo de colocar, em âmbito internacional, aquilo pelo que vínhamos trabalhando no Brasil.
A partir de julho de 1999 tive a honra de ser convidada, pelo Diretor Geral da UNESCO, à época Don Federico Mayor, a integrar o Júri Internacional do Prêmio UNESCO de Educação para a Paz, prêmio ao qual nosso projeto fora indicado em 1996. Somos 5 jurados ao todo, escolhidos dentre educadores do mundo que se dedicam a esse trabalho, com mandato de três anos. Sendo a primeira brasileira a integrar esse Júri, em seus 21 anos de existência, posso testemunhar a imensa emoção que foi ser eleita vice-presidente do Júri e participar da indicação das “Mães da Praça de Maio”, da Argentina, para o Prêmio. Ao mesmo tempo, como parte dessa designação, passei a integrar o International Committee for Peace in the Mind of Men, também da UNESCO.
Atuando desde março de 1999 junto à Universidade Presbiteriana Mackenzie no Programa de Pós-Graduação em Educação, Arte e História da Cultura, travei novos contatos acadêmicos, em particular na área de Artes e Novas Tecnologias, tendo em vista o caráter interdisciplinar de nosso Programa. Dessa possibilidade, adveio uma parceria com o professor Sérgio Bairon, em projetos de pesquisas e ministração de cursos. Sérgio Bairon é também professor no Pós-Graduação em Semiótica da PUC-SP, desde 1992, mantendo cooperação com universidades da Alemanha e da Espanha. Com ele venho desenvolvendo projetos nesse campo que abre novas possibilidades de aprofundamento das pesquisas que já desenvolvia, uma vez que trabalha, de maneira interdisciplinar, com temas que ligam Comunicação, Filosofia, História e Psicanálise, por via das tecnologias digitais, notadamente da linguagem de hipermídia, há quase dez anos, sendo pioneiro nesse tipo de trabalho no mundo acadêmico no Brasil.
Essa temática introduz uma nova possibilidade para nossos trabalhos, a de compor, pela via do diálogo, a valorização da diversidade com a utilização e reflexão sobre as linguagens digitais, possibilitando-nos inserção no que existe de mais atual e que, ao mesmo tempo, vem desafiando o ser humano. De fato essa nova parceria trouxe renovada disponibilidade para fundação do Instituto Plural, por significar a possibilidade de expansão e aprofundamento do trabalho acadêmico que desenvolvemos, nesse tema complexo que abraçamos, acompanhando de maneira atualizada novas tendências de produção teórica, com repercussões sociais profundas.
Hoje, no mundo acadêmico, temos responsabilidade de sustentar linhas de pesquisa que implantamos no campo da Pluralidade Cultural, Superação da Discriminação, Educação e Direitos de Minorias, Educação para Paz e Educação para Direitos Humanos. Tais linhas contam com reconhecimento da comunidade científica, formando mestres e doutores - o que significa a necessidade de manter o ritmo e a excelência da produção científica em nossa área.
No âmbito sócio-cultural, boa parte das demandas que recebemos, além de cooperação consolidada com a mídia, referem-se à formação de professores, de agentes de cidadania, de policiais, entre outros profissionais, que pretendem ter acesso a temas como educação para direitos humanos, questões de gênero, não-violência, ressaltado sempre que seja “dessa forma que fazemos”, ou seja, tendo como via de entrada para a temática da cidadania e dos direitos a questão da pluralidade cultural e da construção da Paz. A vinculação às universidades com as quais cooperamos pode manter-se sob forma de convênios de cooperação técnica, permitindo maior flexibilidade, conforme a afiliação temática indique esta ou aquela universidade, entidade governamental, organização não-governamental ou determinada comunidade.
Assim, entrelaçando esses diversos acadêmicos e líderes comunitários, formalizamos a figura jurídica de um instituto de pesquisa que não se sobrepõe às organizações às quais se vinculam cada um de nosso grupo, mas sim que oferece-se a cooperar naquilo que temos feito, qual seja, articular pessoas e esforços e que continua marcado pela pluralidade, pela busca do respeito mútuo e do entendimento em prol da convivência livre, justa e pacífica, nossa grande conquista. Que atua como centro de estudos, de formação de pesquisadores com certa mentalidade e difusor de informações, podendo receber inclusive pesquisadores de outros países, como experts ou em formação.
O Instituto Plural, assim, congrega, do ponto de vista acadêmico, três áreas básicas, a saber, Educação, Direito e Tecnologias Digitais, envolvendo alguns nomes internacionais que têm nos apoiado em um Conselho Científico Internacional, além da manutenção do Comitê Sênior, com a presença dos fundadores, definindo diretrizes e supervisionando os trabalhos, assim como um conselho fiscal.
Para nós, a participação do Instituto Plural no corpo editorial da Revista Convenit, pelo convite generoso do professor Jean Lauand, é uma honra e uma satisfação, que muito coopera no cumprimento de nosso compromisso ético, dando continuidade a um trabalho de dez anos, que tantos frutos tem rendido, atingindo positivamente a tantos na produção de conhecimentos e ações em prol de uma sociedade pacífica, porque livre, justa, igualitária.
Anexo
Instituto Plural – Membros FundadoresAlberto Milkewitz, Federação Israelita do Estado de São Paulo (Comitê Sênior e 2º Secretário)
Anna Cândida da Cunha Ferraz, USP (Comitê Sênior, Conselho Científico Internacional e Coordenadora Executiva)
Beatriz Cardoso, CEDAC e USP (Comitê Sênior e Conselho Científico Internacional)
Betty Mindlin, Iamá e IEA/USP (Comitê Sênior e Conselho Científico Internacional)
Érica Sacato Tongu, USP
Flávio Fava de Moraes, USP e Fundação SEADE (Comitê Sênior e Presidente do Conselho Científico Internacional)
Gustavo A. C. Pinto, Instituto de Estudos Budistas (Comitê Sênior e Vice-Presidente)
Inaicyra Falcão dos Santos, UNICAMP (Comitê Sênior e 1ª Secretária)
Luiz Jean Lauand, USP (Comitê Sênior e Conselho Científico Internacional)
Marcos Terena, Articulador dos Direitos Indígenas junto à ONU (Comitê Sênior, Conselho Científico Internacional e Vice-Presidente)
Mauro Leonel, UNESP e IEA/USP (Comitê Sênior e Conselho Científico Internacional)
Mohamed Habib, UNICAMP (Comitê Sênior, Conselho Internacional e Vice-Presidente)
Roseli Fischmann, USP e Universidade Presbiteriana Mackenzie (Presidente)
Sérgio Bairon, PUC-SP e Universidade Presbiteriana Mackenzie (Comitê Sênior, Conselho Científico Internacional e Coordenador Acadêmico)
Sueli Carneiro, Geledés - Instituto da Mulher Negra e Faculdade de Educação da USP (Comitê Sênior e Conselho Científico Internacional)
Vera Bobrow, Federação Israelita do Estado de São Paulo (Comitê Sênior e Conselho Científico Internacional)
Advogada assessora, Dra. Érika Bechara, com a supervisão da Dra. Anna Cândida da Cunha Ferraz, da Faculdade de Direito da USP.
[1] Roseli Fischmann é também professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de São Paulo e do Programa de Pós-Graduação em Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
[2] A fundação do Instituto Plural contou com o apoio do Ministério das Relações Exteriores, conforme carta do Chanceler, Embaixador Luiz Filipe Lampréia, representado no ato pela presença do Embaixador Renato Prado Guimarães, Chefe do Escritório de Representação do MRE em São Paulo. Tem ainda apoiado historicamente todas as iniciativas de nosso grupo o Embaixador Gelson Fonseca Júnior, atualmente titular da representação do Brasil junto à ONU.
[3] Nessa época, com Rabino Michael Leipzieger, Frei Bernardino Schreiber, Professor Nachman Falbel, Irmã Isabel e Professor Hugo Schlesinger - ambos de saudosa memória .
[4] Com Rabino Henry Sobel, Frei Leonardo Martin e Irmã Giza, da Congregação das Irmãs de Sion.
[5] Em particular, por intermédio de Vera Bobrow e de Alberto Milkewitz, que catalisaram outros apoios.
[6] Também foi de parte de Ricardo Jatobá que ganhamos a possibilidade de participar do Relatório sobre Formas Contemporâneas de Racismo, Xenofobia e Formas Correlatas de Discriminação, cooperando com o relator especial da ONU que veio ao Brasil, Sr Maurice Glélé- Ahnahanzo.
[7] Para cujo apoio muito nos auxiliou Ana Lúcia Schetini, oficial de políticas e de coordenação do PNUD, a quem nosso trabalho fôra apresentado por Ricardo Jatobá.
[8] Com apoio pessoal comparecendo ao Seminário, na abertura e em uma das três mesas principais, o Diretor Científico da FAPESP, Professor José Fernando Perez, a quem nosso trabalho fora apresentado pelo professor Flávio Fava de Moraes.
[9] Precisamos registrar também a organização e realização do Seminário Internacional “Superação da Discriminação Étnica e Educação: uma agenda de pesquisa e trabalho para o final do século”, em agosto de 1995, com diversos apoios de agências de pesquisa, do governo e do jornal Folha de São Paulo, a realização do Concurso Gandhi e a Não-Violência, no segundo semestre de 1998, junto à Polícia Militar do Estado de São Paulo, em cooperação com a Associação Palas Athena, o Consulado da Índia em São Paulo e Secretaria Nacional dos Direitos Humanos.
[10] O órgão do Itamaraty responsável foi o Departamento de Direitos Humanos e Temas Sociais, por intermédio de seu Diretor-Geral Ministro Marco Antônio Diniz Brandão, e, em Paris, a Delegação Permanente do Brasil junto à UNESCO.