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Os Provérbios no Libro de Calila e Digna

 

Ana Lúcia Carvalho Fujikura
analcf@uol.com.br

Dedicado ao professor Rafael Pero

 

Um dos mais importantes marcos da influência cultural árabe na Península Ibérica é El Libro de Calila e Digna – tradução de D. Alfonso X, o Sábio (1252-1284) do clássico Kalila wa Dimna, coletânea de contos e fábulas de caráter político e moral, que influenciaram a maior parte do fabulário internacional.

A origem de El Libro de Calila e Digna remonta, em parte, ao livro indiano, redigido em sânscrito, chamado Panchatantra, cujas fábulas e provérbios disseminaram-se por toda Europa, Ásia e África, constituindo-se em influência das mais significativas. Para os medievalistas John Esten Keller e Robert Linker(1), não é possível apontar quando os textos que compõem o Panchatantra foram compilados (mas não deve ser anterior a 250 ou 300 de nossa era) ou por quem.

A popularidade obtida pelo Panchatantra gerou várias traduções, como, por exemplo, uma versão persa(2) escrita em pehlavi – língua literária da Pérsia do século VI – por ordem de um monarca chamado Anuxirvan ou Cosroes (531-79). Desta tradução (que se perdeu) originaram-se as versões siríaca (séc. VI) e árabe (séc. VIII).

Abdallah Ibn Al-Muqaffa’, por volta de 750, foi o responsável pela versão ao árabe do antigo manuscrito em pehlavi, intitulando-a Kalila wa Dimna – essa versão deu origem a inúmeras outras em várias línguas, como o castelhano: El Libro de Calila e Digna foi traduzido no século XIII, precisamente em 1251, diretamente do original árabe de Ibn Al-Muqaffa’, patrocinado por Alfonso X, o Sábio, infante àquela época.

Tanto a versão árabe Kalila wa Dimna quanto o correspondente espanhol Calila e Digna apresentam alguns dos mesmos recursos estilísticos contidos no Panchatantra: por exemplo, a existência de uma estória central, onde são inseridas numerosas outras, narradas por um ou outro personagem da trama principal (“estruturação por meio de encaixes”(3)). Do mesmo modo, há a intercalação de provérbios, ditados e aforismos.

O Panchatantra pertence ao gênero de livros chamado niti-shastra (“ciência ou trabalho sobre ética política ou moral”(4)), ou seja, um “livro de niti: uma maneira prudente e sábia de se viver (...). Niti é um modo prático que conduz ao prazer e ao gozo são do mundo”(5), aliando, em si, elementos que conduzem ao “emprego sábio e decidido das potências, à comunicação de idéias entre amigos e, sobretudo, ao uso digno da inteligência”(6), obtendo-se, assim, um modo de se viver segura e proveitosamente.

Tal como ditados e provérbios, os ensinamentos previstos pelo niti-shastra pretendem transmitir a “sabedoria dos antigos, de autoridade indiscutível”(7), funcionando, então, como modelo de conduta e constituindo-se, também, em testemunhos importantes “do caráter e do comportamento humanos”(8). Sendo assim, a sabedoria e a realidade cultural refletidas nos mais de 400 provérbios e/ou formulações proverbiais contidos no Calila e Digna justificariam, por si só, seu estudo.

Sobre a importância do estudo de “locuções proverbiais”, José Paulo Paes, em seu Tradução: A Ponte Necessária(9), tece a seguinte observação: “Sob certo ponto de vista, as locuções proverbiais confirmam a introvisão de Giambattista Vico de uma idade de ouro da humanidade quando, não dispondo ainda de ‘raciocínio algum’, mas tão-somente de ‘robustos sentidos e vigorosíssimas fantasias’, os homens, ‘por comprovada necessidade natural, foram poetas e falaram por figuras poéticas’. Vico considerava as ‘dicções tipicamente populares’ como ‘os testemunhos mais autênticos dos antigos costumes dos povos, celebrados ao tempo em que esses povos se forjavam as próprias línguas’. Aquilo que ele chamava de ‘sabedoria vulgar’ – porque ao alcance dos vulgos, em contraposição à ‘sabedoria recôndita’ dos filósofos, só acessível aos doutos – se comprazia em falar mediante ‘fabulazinhas minúsculas’ ou metáforas, reputadas por Vico o procedimento lingüístico fundamental, tanto assim que, no seu entender, a língua latina tinha formado ‘quase todas as suas palavras por transferência de naturezas’, ou seja, por via metafórica. Ele considerava as ‘locuções poéticas’ como ‘universais fantásticos’ que haviam precedido os ‘universais lógicos’ dos filósofos. Esta distinção era, por sua vez, uma decorrência natural da oposição viquiana entre a metafísica, que ‘abstrai a mente dos sentidos’, e a faculdade poética, que ‘deve imergir toda a mente nos sentidos’. Reencontramos aqui, como é fácil ver, mas situada dentro de um amplo quadro conceptual, a peculiaridade destacada por Jacques Pineaux nas locuções proverbiais, de estarem ligadas intimamente à experiência concreta dos sentidos, donde o seu caráter quase sempre vivamente imagético, metafórico”.

Ainda de acordo com Paes(10), a importância dos provérbios como fonte de conhecimento da realidade é fruto da própria forma de expressão da formulação: “no nível da fala popular, (o provérbio exerce a função) daquela função poética, apontada por Roman Jakobson (...) como ‘o enfoque da mensagem por ela própria’ que faz avultar em primeiro plano ‘o caráter palpável dos signos’. Com isso, o modo por que se diz algo torna-se tão importante quanto aquilo que é dito”.

Graças, entre outros fatores, ao seu particular modo de enunciação, o provérbio perpetua-se “na memória coletiva como modos de dizer tradicionais, cristalizados”(11), onde a sabedoria popular exprime “sua experiência de vida (...) numa espécie de logaritmo sapiencial”, cujo propósito é apresentar “a conclusão tirada de numerosas e repetidas vivências, especialmente no campo das relações morais entre os seres humanos”(12).

E, segundo Lauand(13), “a realidade vivida transforma-se em experiência e esta condensa-se em provérbio que, por sua vez, volta para a realidade, iluminando-a e permitindo sua leitura”. Além disso, ainda conforme Lauand(14), o estudo dos provérbios remete-nos à sentença de Lunde & Wintle: Perhaps the quickest way to understand a people or a culture is to learn their proverbs.

A sabedoria popular armazenada nos provérbios está a serviço, portanto, da memória. A esse respeito, Sylvio Horta(15) teceu as seguintes considerações: “Como foi guardada, transmitida essa experiência da vida? Rituais, livros sapienciais, provérbios, fábulas, anedotas etc. A partir da vida de cada um, teremos que encontrar de novo, dar um novo posto a essa sabedoria – bastante problemática – que é fundamental para nossas vidas, principalmente em nossa época, em que teimamos em reduzir tudo à realidade de coisas: o homem é reduzido ora à biologia, ora à economia, ora à psicologia, ora à sociologia. A educação contemporânea, assim como os meios de comunicação, tem favorecido essa interpretação coisificada e fragmentária da pessoa, o que acaba por determinar o nosso comportamento em relação aos outros, que passamos a tratar como coisas. Só com essa volta à experiência da vida – e uma educação que a tenha em conta – é que evitaremos a perda do sentido da realidade que é a vida”.

A relação, portanto, entre provérbios e educação moral é evidente: “o provérbio oferece um conselho de sabedoria prática”(16) – conselho que orientaria o agir. Tal fator demonstra a relevância do estudo desse tema, em dois sentidos especialmente – o primeiro diz respeito ao estudo dos provérbios em si: “A importância dessa linha de estudo cresce, e muito, num tempo e num país como os nossos, onde os meios de comunicação de massa, a serviço da ideologia do consumo e da sua estratégia da obsolescência planejada, se empenham em apagar da memória coletiva o repositório da sua fraseologia tradicional para substituí-lo pelas últimas criações da gíria das praias e subúrbios cariocas”(17).

O segundo sentido refere-se ao estudo da moral transmitida pelos provérbios: “Se até recentemente eram menosprezados por certos setores da investigação universitária, hoje, cada vez mais, têm seu merecido lugar de destaque reconhecido no meio acadêmico. De fato, desde o início da década, observa-se, no Brasil, um crescente clamor por ética e moralidade (ecos de uma renovação mundial de interesse pela ética)”(18). Sendo assim, o estudo das formulações proverbiais pode desvelar todo um conteúdo moral importante principalmente para os dias atuais, conforme observa Julián Marías: “yo no creo que nuestra época sea particularmente inmoral. No lo es; yo creo que ha habido épocas mucho más inmorales que la nuestra; lo que sí es, es una época de mucha desorientación (grifo nosso)(19)”. E, para Lauand, “há (...) uma correlação entre a desorientação moral contemporânea ocidental e o desenraizamento das tradições proverbiais”(20).

A realidade – tornada viva na linguagem e veiculada por meio dos provérbios – ou a visão que se tem da realidade, é, então a fonte que propicia a moral e a educação moral: daí a função educativa exercida pelos provérbios, conforme Lauand: “Quando se tem em conta que a educação moral é uma ‘educação invisível’, que – mais do que no âmbito oficial da escola – se exerce na interação social informal e que a moral pressupõe, antes e acima de tudo, conhecimento sobre o homem, torna-se imediatamente evidente que a tradição viva de provérbios populares é poderosa instância de educação moral (que, naturalmente, valerá o que valerem os conteúdos veiculados...). No caso, essa educação se faz, antes de mais nada, precisamente pela possibilidade de circunscrever, de configurar uma situação, que passaria despercebida, se os provérbios não chamassem a atenção para ela: especialmente para a educação moral vale a intuição contida na sugestiva acumulação semântica da palavra castelhana enseñar: ensinar e mostrar!”

Se os provérbios indicam a realidade, é interessante notar, por exemplo, as diferenças existentes entre o valor dado ao saber à época da tradução do Calila (e, mais ainda, se remontarmos ao Panchatantra...) e o valor dado ao mesmo em nossa época. Se, para os antigos:

O conhecimento melhora a condição de quem quer aprender.

Hoje, tal consideração seria compreendida exclusivamente como uma forma de “ascensão social”, ou seja, o conhecimento (obtido por meio de instrução formal, preferencialmente universitária, mas não somente) só tem sentido se “servir” (econômica, socialmente etc.) para algum fim determinado. Já para os antigos a importância do conhecimento é próxima (senão a mesma...) do que Lauand(21), a partir de Josef Pieper, afirmou a respeito da Filosofia: “Formulando de modo positivo, filosofar é algo que tem sentido em si mesmo, sua legitimidade não decorre de que sirva para isto ou para aquilo (grifo nosso) e, precisamente por isso, é livre”.

De acordo com Pieper, “daí a extraordinária importância da afirmação de que há um setor da existência para o qual não tem nenhum sentido as categorias de ‘produtividade’, ‘praticidade’, ‘aproveitabilidade’, efficiency, e que, no entanto forma parte necessariamente da vida humana”(22). “Não se pense, pois, que a afirmação de que a Filosofia transcende o mundo do trabalho equivalha a afirmar que ela seja etérea, alheia à realidade quotidiana”(23). Pelo contrário, tanto a Filosofia quanto o conhecimento/moral veiculado pelos provérbios dizem respeito tão-somente à realidade (ou à visão que se tem dela).

Assim, o saber (ligado que está à realidade), no Calila, reveste-se igualmente de um caráter prático (pois esse mesmo saber não se desvincula da realidade) – porém, longe do caráter que nós, atualmente, conferimos ao conhecimento:

O homem sábio não tem em alta conta o que sabe nem o que já aprendeu,
ainda que seja muito.

O saber esclarece a inteligência, assim como a luz que ilumina as trevas.

O “caráter prático” do saber constitui-se em influência tipicamente árabe. Em recente entrevista, a renomada especialista Dra. Aurora Cano(24), assim resumiu a civilização que viu nascer o Libro de Calila e Digna: “um adjetivo que se pode aplicar à civilização árabe-islâmica é ‘prática’, ‘pragmática’”. O saber só “serve”, então, se for “usado”:

Só é de proveito o saber que se usa.

O saber só se perfaz com o fazer.

O saber é a árvore; a obra, o fruto.

Se não se usa o que se sabe, não há benefício

Observamos, portanto, no Calila e Digna, vários provérbios que veiculam uma determinada visão da realidade (ora de forma otimista, ora de forma pessimista – “em qualquer caso, anunciando a realidade”(25)).

Nesse sentido, a exortação à grandeza (fruto de uma mentalidade que aspirava às grandes realizações) aparece com freqüência nas formulações calilianas – lembrando que os grandes feitos só se realizam com esforço e, muitas vezes, sob condições adversas. E, para efetuar grandes realizações, deve-se resistir às facilidades do comodismo e à insegurança causada pelo medo. É o caso, então, dos seguintes provérbios:

Quem não percorre os longos caminhos, não realiza grandes feitos.

Quem não acomete grandes perigos, não chega ao que ambiciona.

Sendo a vida deste mundo custosa, árdua etc. (mas que não significa que não valha a pena), cabem algumas advertências que ajudarão a quem empreender tal caminhada:

Aproxima-te do homem prudente, guia-te por seu conselho e procura não se afastar dele.

Tenhas juízo e protege-te o mais que puderes do homem imprudente e mau.

(O homem mau pode ser perigoso – o que nem sempre é tão evidente assim...)

A sinceridade que, juntamente com a amizade, a confiança, a lealdade, o amor, a bondade, a justiça, a solidariedade, forma o elenco de virtudes presentes no Calila, está entre as “melhores coisas do mundo”:

Uma das melhores dentre as boas coisas deste mundo é ter honra e dizer a verdade.

A busca da verdade valoriza a grandeza de quem a procura – apesar do que possa advir de mal:

Aquele que procura a verdade é bem sucedido em sua vida, ainda que o juízo [a opinião dos outros] seja contra ele.

Do mesmo modo que a sinceridade, o valor da amizade está muito presente no Calila:

O homem sábio não compara o bom amigo a nenhum tesouro ou bem.

Não há alegria deste mundo que se compare à companhia dos bons amigos, nem tristeza comparável a perdê-los.

Dizem que estas são as maiores tribulações desta vida: pobreza; pesar; estar próximo de seu inimigo e longe dos amigos; doença e velhice.

Dizem que quem não tem amigo, não tem inimigo.

Não fica lembrança daquele que não tem amigos nem parentes nem filhos.

Existem amigos e amigos – identificar, portanto, os verdadeiros e leais:

Os bons amigos só se provam na pobreza e nos grandes perigos.

Os amigos são de dois tipos: um é o amigo verdadeiro e leal e o outro é o que faz amizade pela aflição e pelo perigo em que se vê.

Os homens relacionam-se de dois modos: pelo o amor e pelo interesse (no original: algo).

(A conotação de “algo” é imediatamente compreendida pelo falante do castelhano atual. Em princípio, algo é o mesmo que haveres, posse. Entretanto, a contraposição amor/interesse reflete a sutil percepção do interesse interesseiro subjacente à expressão algo. É muito freqüente, hoje, a expressão castelhana: Por algo será...)

A amizade implica confiança, generosidade, lealdade...

São loucuras da vida deste mundo: querer amigo sem lealdade; ter a vida eterna sendo adúltero; o amor das mulheres com aspereza; querer para si com prejuízo alheio; querer ser sábio sem estudo e sendo folgazão.

Não é contado como homem sábio e bom aquele que se afasta dos amigos na hora da tribulação.

Quem vive em boa condição e honrando a si e a seus amigos, ainda que viva pouco, de longa vida é.

A amizade verdadeira supera as “crises” e refaz-se pela reconciliação:

O amor entre os bons é como o vaso de ouro que se quebra muito tarde mas se recompõe prontamente.

(Porém, saber com quem reconciliar-se requer prudência: Há alguns que se deve voltar a estimar depois da discórdia; e há outros que só lhes resta a inimizade depois da discórdia.”)

A inimizade é latente:

A água apaga todo o fogo, mas não pode apagar o fogo da inimizade que sempre arde no coração ainda que no rosto se veja um sorriso.

A virtude da solidariedade expressa-se pelos provérbios:

O homem que tem medo e pede ajuda, merece ser confortado e socorrido.

Não se deve desprezar nada pequeno ou grande, quer seja animal, quer seja homem, que esteja em situação ruim ou se encontre aflito.

Na caminhada rumo aos “grandes feitos”, ou rumo a “fazer buena vida”, são de grande importância também os conselhos – se o bem que deles advém é, digamos, “garantido”, o mal que pode vir do mau conselho também o é. Vale notar também que o conselho apresenta-se, em algumas ocasiões, como difícil de ser ouvido e atendido (daí certos provérbios valerem-se de comparações com remédios, receitas etc. – necessariamente amargos):

O conselho do homem leal é como o remédio amargo que afugenta do corpo a grande doença.

O homem que mais aprecia conselho é o sábio que se aconselha com os sábios.

O homem aflito, ainda que de bom senso, prudência e perspicácia, vê crescer sua inteligência ao aconselhar-se.

(Nos momentos difíceis, em que o juízo vê-se comprometido pela aflição, aconselhar-se – ou simplesmente conversar – é de grande valia.)

A intenção de quem aconselha é sempre boa – porém, como diz o provérbio: “Se conselho fosse bom, seria vendido”, há sempre um risco ao aconselhar, pois o aconselhado pode não gostar, ofender-se etc. Em todo caso, só se esquiva de aconselhar aquele que não vê fruto em sua advertência: “Não te empenhes em consertar o que não tem conserto, nem em reavivar o que não vive, nem em corrigir ou ensinar ao que não se corrige” (semelhante ao nosso provérbio: “Pau que nasce torto morre torto”). E, afinal, somente “os homens néscios ofendem-se com o bom conselho...

Desprezar os conselhos, no entanto, revela, que o maior prejudicado é quem não se deixa aconselhar: de nada adianta, portanto, ofender-se, brigar etc. Nesse mesmo sentido, certos provérbios expõem o mesmo princípio (que ninguém pense que o mal está sendo feito ao outro, ou que algum proveito – apesar de tudo – haverá para si mesmo):

Aquele que esconde de seu senhor seu bom conselho a si mesmo se engana.

Aquele que esconde dos médicos sua doença, a si mesmo se engana.

Já que a vida deste mundo deve levar em consideração a vida do outro mundo, várias formulações refletem uma orientação para o caminho (enfatizando a importância da religião) que uma vida reta e honrada deve seguir, a fim de assegurar a alma para a outra vida:

É acertado amar mais a outra vida do que a este mundo.

A religião indica o caminho para a outra vida, assim como os pais encaminham os filhos para a vida.

Todas as coisas do mundo hão de acabar.

(Mais vantajoso, então, pensar nas coisas do outro mundo – eternas que são.)

A política é um dos temas mais relevantes (talvez o mais importante) do Libro de Calila e Digna. Para Mansour Chalita, o Calila e Digna “contém, realmente, toda a sabedoria humana, orientada para a mais prestigiosa e influente das atividades: a atividade política, a arte de governar, de guiar o destino dos homens e dos povos e de moldá-lo pouco a pouco conforme convicções e concepções próprias”(26).

Assim, surgem formulações que procuram oferecer aos governantes um “guia” que o oriente nas mais diversas situações – ressaltando sempre a perspicácia, o saber aconselhar-se, evitar o falso, acabar com o mal prontamente, temer a Deus etc.

A inteligência e o bom conselho são fundamentais para a manutenção do poder – assim como ser igualmente justo e cumpridor da lei:

O rei de juízo fraco e ministros néscios nunca tem um reinado duradouro.

Três são bons para valer: o rei que observa a lei em seu reino; o homem que conhece a lei e a pratica; o profissional que exerce bem seu ofício.

A arte de governar (e manter-se incólume) exige do rei, principalmente, prudência:

Para manter o reino, o poder e a honra consigo mesmo, o rei deve valer-se mais da prudência – pois com prudência guarda a sabedoria e a honra.

O governante deve cercar-se de colaboradores – preferencialmente, os bons:

Não se executam as coisas com muitos vassalos, mas com os bons – ainda que sejam poucos.

Poucos são os grandes senhores que, com maus ministros, não corram risco de morte.

Afastar-se dos falsos, mentirosos, maus, traidores...

O falso não serve ao rei com amor, mas por medo ou necessidade – e, depois de enriquecido, volta à sua raiz e essência.

É sinal de grande prudência proteger-se contra os traidores, falsos e dos insidiosos e perceber as mentiras e os enganos que fazem.

“Afastar-se daquele que é mau de uma vez por todas” explica-se pelo provérbio: “A cobra, se alguém a pisa, ainda que não lhe morda, não deve voltar-se a ela novamente”, pois a natureza má é irreversível: “A árvore amarga, ainda que a untem com mel, não muda a sua natureza.

“Cortar o mal pela raiz”, antes que seja tarde:

Ao inimigo, cujo dano é temido, mate-o.

Não desprezes o inimigo fraco e desonrado, ainda mais se for ardiloso.

Aquele que, tendo a cobra picado seu dedo, corta-o fora com medo que o veneno se espalhe pelo corpo e lhe traga a morte.

Várias formulações tratam das maneiras de se sair bem contra o inimigo – lutar contra ele, por exemplo, só deve dar-se em último caso (sob igualdade de condições, pela defesa da honra etc.) e sabendo-se do perigo a que se está sujeito:

Só deve lutar contra o inimigo quem se considere tão forte e ousado como ele.

É preferível a astúcia (e qualquer um pode servir-se dela: inclusive os fracos) à força bruta:

O engenho, algumas vezes, consegue coisas que não se obtêm pela força.

(Neste provérbio encontra-se toda a “filosofia do jeito”. “Jeito” ou, na forma brasileira, “jeitinho” é precisamente a “arte” de lançar – do latim jactu, o modo engenhoso de lançar a mão: “Não é questão de força, é questão de jeito”).

A arte do engano acaba com o inimigo mais do que o facho de fogo.

(Observando-se que “não vale ser astuto se não se sai são e salvo”, pois o “engenho” pode ser perigoso: Algumas artimanhas matam que as faz – paralelo aos nossos provérbios: “O feitiço virou contra o feiticeiro” e “O tiro saiu pela culatra”.)

Protelar a morte do inimigo corresponde a adiantar a morte de quem o faz:

Quem tem o inimigo em seu poder e não o mata, não espere bom final.

Constitui erro (fatal) considerar a força do inimigo como inferior a que realmente possui – o correto é estimá-lo pelo mal que efetivamente traz e faz:

Engana-se quem subestima o inimigo e quem assim se engana dá ao inimigo poderes sobre si.

Aquele que luta com o elefante e não lhe é semelhante em força, chama a morte para si.

Inimigo – melhor evitar tê-lo:

O homem sábio, ainda que confie em sua força e valor, não deve ganhar inimigos.

Mais seguro é fazer a cama sobre cobras e dormir sobre elas do que não temer o inimigo que conheceu e anoiteceu com ele.

Porém, uma derrota estratégica pode significar uma vitória posterior:

Não há resistência melhor ao inimigo forte e valente do que ceder.

(A este, segue-se: “A palha não se quebra pelo vento porque se dobra.”)

Saber negociar (ceder um pouco – mas nem tanto...) é uma arte:

Dê algo a seu inimigo e receberá dele o que quiser; mas não dê tanto de modo que fique sem nada.

Às vezes, porém, não há outro remédio: melhor fugir ou propor a paz:

Inimigo forte com quem não se pode, não há outro conselho senão dele fugir.

O homem fraco, porém, sucumbe facilmente ao inimigo (e é, ele mesmo – o homem fraco –, seu maior inimigo):

Os homens de natureza fraca abrandam seus corações com as lisonjas que ouvem de seus inimigos.

Quem não se previne e se deixa enganar pela palavra do inimigo é mais inimigo de si mesmo do que seu inimigo.

Saber valer-se do inimigo e do amigo é sinal de êxito (ou fracasso...):

Aquele que não sabe a conduta certa com os inimigos e com os amigos prejudica-se a si mesmo.

O homem deve dispor a amizade e a inimizade conforme o tempo passe.

O rei deve ter sempre em vista o alcance de suas decisões:

O rei está para os homens de seu reino tal como a cabeça para o corpo: quando ela está bem, todo o corpo está bem.

O povo não é senão pelo rei.

Ter em conta o amor a Deus:

O rei não é senão pelo temor a Deus.

Às vezes, a solução (para os problemas) é custosa:

Certas vezes, o rei sofre de alguma doença que lhe faz grande mal e só sara com o remédio que lhe trazem de longe.

Entretanto, servir ao poder não é um empreendimento certeiro (os governantes não agradecem, não reconhecem, são desleais, dispensam com facilidade etc. – a prática revela-se bem diferente da teoria...):

Aquele que serve ao rei recebe, em uma única hora, maior mal e temor que outro não receberá em toda a sua vida.

Servir ao rei é como morar com cobra ou com leão em sua cova: quando encolerizados, matam.

Se as virtudes ocupam vários provérbios do Calila, não poderia ser diferente com os vícios (principalmente a preguiça, a gula, a cobiça, a inveja...): compõem, assim, um retrato multifacetado do ser humano – que, se propende para a virtude, corre o risco, ao mesmo tempo, de cair em várias faltas. Daí uma das grandes riquezas do Calila: a composição de um quadro em que o ser humano (munido de conhecimentos acerca de si e do mundo) sai-se bem se for virtuoso, sagaz, inteligente e se se desviar do mal (a não ser que o “destino” intervenha contra...).

Preguiça:

Os homens são de três tipos: um é sagaz, o outro, ponderado, e o outro, preguiçoso.

O pouco caso [para com os preceitos] é a raiz da preguiça.

Gula:

Aquele que é dado à gula não escuta seus amigos.

Poucos são os que muito comem e não ganham fama (de glutões).

O guloso e ambicioso vivem sempre em desventura, sofrimento e tristeza.

Avareza, cobiça, ambição:

O pobre e avarento nunca tem honra.

A grande ambição de ajuntar e acumular traz um mau final.

(E a posse de bens materiais revela-se instável – o que sempre gera preocupação e temor no avaro: “Os muitos bens vão e vêm facilmente, assim como a bola que sobe e desce. Certas coisas não são firmes nem duram: a sombra das nuvens, a amizade com os maus, a fama mentirosa e os muitos bens.”)

O ambicioso nunca tem muitos parentes.

(Assim não terá com quem dividir...)

Inveja:

Os néscios invejam os sábios.

Os homens sentem inveja uns dos outros, fazem intriga entre si e querem subir às dignidades passando por cima dos outros.

(Subir a qualquer preço...)

Muitas vezes, a visão da realidade expressa nos provérbios tende ao pragmatismo, ao pessimismo e à desconfiança(27). Nesse sentido, “os provérbios são poderosos instrumentos para a educação das novas gerações: para ironizar os defeitos e desmistificar ilusões a respeito da realidade e do ser humano. Assim, materializam-se em sentenças muitas formas – freqüentemente cheias de sarcasmo – de condenar e ridicularizar as atitudes contrárias a esse realismo prosaico”(28). Por exemplo:

O criador de pássaros não joga grãos aos pássaros para ajudá-los mas para ganhar algo em troca.

(É semelhante ao provérbio árabe recolhido por Lauand(29): “Não é por amor a Deus que o gato caça os ratoso que evidencia o interesse “interesseiro” de muitos.)

Se constituem “poderosos instrumentos para a educação das novas gerações”, os provérbios, por outro lado, podem remeter à posteridade uma série de preconceitos que, “quanto mais engenhosa for a formulação”(30), maior será a sua permanência. São, segundo Lauand(31), as chamadas “disfunções dos provérbios”. É o caso, por exemplo, das várias alusões (sempre desdenhosas e depreciativas) à figura da mulher:

Há três coisas que só um louco se atreve a fazer e só um sábio as evita: servir ao rei; contar segredos às mulheres; e tomar veneno para experimentar.

A “fofoca” encontra-se associada sempre à mulher; nunca se ouve dizer, por exemplo: “que homem fofoqueiro!”. O destaque desse defeito, que o preconceito sempre supõe ser “feminino”, continua a valer até os dias de hoje – é o caso do provérbio de número 1828, recolhido por R. Lacaz-Ruiz(32): “Quando se fala com homem se olha nos olhos, com a mulher se olha na boca.

A mulher não é confiável e não merece que se sacrifiquem por ela:

Querer matar o amigo por causa de mulher não é das obras que a Deus apraz.

As mulheres não merecem que se faça traição por elas – e o homem deve fiar-se muito pouco nelas.

Essa última formulação repete a mesma recomendação recolhida por Lauand(33) no provérbio árabe: “Não confie no céu de março, mesmo que ele ria; não confie na mulher, mesmo que ela chore.

A falta de “confiabilidade” da mulher, sua “vocação” para o mexerico, “seu pouco merecimento” de sacrifícios dos homens, formam o “perfil” não de uma ou outra mulher, mas da mulher – o que fica patente no provérbio de número 1457, também recolhido por R. Lacaz-Ruiz: “O amor é a ilusão de que uma mulher é diferente das outras” (toda mulher encaixa-se em um único perfil – negativo, naturalmente...).

Os amigos, a força do animal, a prata se provam; mas as mulheres...:

Dizem que a prata se prova no fogo; os amigos, em sua lealdade em dar e receber; a força do animal, na carga pesada; mas as mulheres... não há com que se possam provar.

A mulher, se dispensa um, logo arranja outro...

Os reis, em sua pouca verdade e lealdade para com seus vassalos e não se preocupando se os perdem, são como a mulher que, se a deixa um, logo vem outro em seu lugar.

E é somente graças ao marido que a mulher “existe” e “pobre” daquela que não o tem – é inútil:

A mulher não é senão pelo marido.

Três coisas são inúteis: rio que não tem água; terra que não tem rei; mulher que não tem marido.

E, evidentemente, deve ser devidamente repreendida a “solteira que zomba da casada” (invejosa que é...):

Três são os que devem ser escarnecidos: o que se gaba de ser corajoso; o que luta mas não apresenta sinal de ferida; o que finge saber a lei e se diz religioso, mas é corpulento e pescoçudo; a solteira que zomba da casada; o que fala do que já está feito.

Em si, a mulher já é “desagradável”, mas:

A pior mulher é a inconveniente.

Um “objeto” que, muitas vezes, não pode ser mantido:

Três são aqueles que devem sentir pesar: o que possui cavalo gordo de maus modos; sopa rala com muito caldo e pouca carne; e o que se casa com mulher rica e bonita sem poder sustentá-la.

(Provavelmente ela irá procurar outro... Nesse mesmo sentido, com mais humor, o provérbio 1190 da mesma coleção de R. Lacaz-Ruiz: “Malandro é o sapo que casa e leva a mulher pra morar no brejo”.)

Mas, mesmo se “gostar de mulher não é defeito(34)”, faz “melhor” quem se “resguarda” (protege?):

Ainda que seja grande dever amar as mulheres e amigos e guardá-los, mais justo é preservar-se o homem a si mesmo.

O caráter doutrinal expresso no Calila e Digna visa, como vimos anteriormente, oferecer ao homem um modo pelo qual ele (munido de bom senso, prudência, bom caráter, evitando o mal, afastando-se dos pecadores...) pode sair-se bem. Entretanto (daí advém uma faceta do pessimismo), mesmo que o homem siga, fielmente, todas as práticas sugeridas, ainda assim poderá dar-se mal. Afinal, deve contar também com o acaso (o azar, o destino...):

Não há coisa neste mundo que não esteja sujeita ao fortuito acaso.

Boa inteligência, o trabalho, a herança e os engenhos deste mundo: tudo está em poder do fortuito acaso.

(Deve-se, portanto, contar com a sorte também.)

O acaso transforma o virtuoso em seu contrário:

É pelo fortuito acaso que o homem fraco anda sobre o elefante forte.

É o fortuito acaso que aplaca o ambicioso e apressa o tardo.

(É obra do acaso arrancar os defeitos.)

É o fortuito acaso que torna o pobre, rico e opulento.

(O pobre ficar rico equivale a ganhar na loteria... Foi sorte!)

É o fortuito acaso que empobrece o rico.

(Faliu... Mas foi azar!)

Grande número de provérbios (realistas e pessimistas...) trata dos dissabores que acompanham os prazeres da vida deste mundo – sendo assim...

Quem se ocupa de (conquistar) este mundo dirige sua vida contra si mesmo.

E que ninguém se deixe enganar pelo prazer fugaz a que se segue o sofrimento do qual não se escapa:

Não se deve tomar por doce o pouco deleite que traz grande amargura.

O mesmo pessimismo aparece nos provérbios:

Quando vem uma tribulação, logo virá outra.

Quando sobrevem uma grande tribulação, o mal vem de todas as partes.

(É curioso notar que o Hamlet de Shakespeare(35) emprega formulação semelhante: “When sorrows come, they come not single spies, But in battalions.”)

O sofrimento é irremediável:

Quem tem a ferida no coração ou na planta do pé não pode deixar de se machucar: por mais que evite apoiar-se sobre a parte ferida.

E o ser humano não é confiável... A desconfiança é recomendada nas seguintes formulações:

O homem sábio não deve empenhar seu amor a ninguém exceto depois de testá-lo.

Aquele que se atreve a confiar em alguém, sem tê-lo testado, coloca-se em grande perigo e ver-se-á numa situação difícil.

Desconfiar, duvidar... até do médico:

O homem sábio não deve fiar-se em tudo quanto dizem os médicos, pois, às vezes, dizem coisas muito estranhas, que ninguém pode ter senão com grande perigo.

Dentro dessa visão mais “pessimista” (que, talvez, traduza-se melhor por um realismo “seco”) da vida, surgem, no Calila, formulações semelhantes às conhecidíssimas e atuais “Leis de Murphy” (“Pão de pobre cai sempre com a manteiga para baixo”; “A fila do lado sempre anda mais rápido” etc.). Apesar do negativismo, a contraposição entre os opostos, afora a agudeza, não deixa de ter humor...

O bem amanhece estragado e o mal, fresco.

Quem leva má vida amanhece rindo; quem leva vida boa, chorando.

A justiça amanhece tropeçando e a injustiça, enaltecendo-se.

A mentira nasce cheia de frutos e a verdade, estéril.

A verdade segue tropeçando e a mentira, saltitando e cantando.

Os males amanhecem subindo ao céu e os bens, descendo aos abismos.

É extremamente curioso verificar, já à época caliliana (e, muito provavelmente, à época da compilação do Panchatantra...), a existência de certas formulações cujo sentido ou forma em si ou permaneceram até hoje ou revelaram-se universais:

A água é mole, a pedra é dura, mas tanto anda a água sobre a pedra que deixa rastro nela.

(Correspondente ao nosso provérbio: “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura”.)

Aquele que cala, consente.

A vida é breve.

(Tal como em Sêneca(36) em seu De brevitate vitae: “Ars longa, vita brevis”.)

Deixa os defeitos alheios e corrige os teus.

(A recomendação para o cuidar da própria vida e não ficar criticando os outros – ainda mais se também se possui o “defeito” criticado... – é verificada nos provérbios de número 2251 e 1975, recolhidos por Rogério Lacaz-Ruiz(37): “Quem tem telhado de vidro, não joga pedra em telhado alheio”; “Quem cuida da vida dos outros se esquece de cuidar da sua.”)

O néscio não deixa de agir mal até que lhe aconteça algum malefício, e só assim sente que tamanho mal causou a outrem.

(Correspondente ao nosso provérbio: “Pimenta nos olhos dos outros não arde...”)

Das ervas frágeis, ainda que não tenham força em si, faz-se uma soga capaz de prender um elefante.

Os fracos, quando se ajudam, podem com os fortes e com os valentes.

(Provérbios que contêm o mesmo espírito de: “A união faz a força”.)

Deus deu a cada coisa um fim que o homem deve alcançar, e aquele que o ultrapassa é semelhante ao que não a alcança.

(Semelhante a: “Nem tanto ao mar nem tanto à terra”: in medio virtus).

O tempo vai atrás em qualquer lugar.

(Igual a: “O tempo não pára”.)

A falsidade morre antes da hora.

(“A mentira tem perna curta...”)

Aquele que quiser se beneficiar prejudicando a outro injustamente, ou por mentira ou por falsidade, não escapará de mau destino: terá um mau final e receberá punição cabal por seu pecado.

(“Aqui se faz, aqui se paga”.)

O fogo arde mais, quanto mais lenha se lhe jogue.

(No sentido de que “quanto mais, melhor”.)

Para concluir, ressaltamos que, a fim de aproveitar toda a riqueza que uma obra artística como El Libro de Calila e Digna proporciona, há que se ter uma nova maneira de se enxergar a realidade, superando a distância espaço-temporal e as diferenças sócio-culturais (que, em si, não devem constituir obstáculo para que o efeito estético/ético aconteça).

A importância do Calila e Digna notadamente para a formação ética, para a Educação Moral, é fruto justamente da capacidade que as obras artísticas possuem de desvelar-nos (a partir de nosso encontro com as mesmas) o que está subjacente às diversas facetas da realidade humana, transcendendo o meramente sensível e aportando contribuições muito mais profundas. Esse empreendimento, em si, é a própria (auto-) descoberta de experiências comuns a todos os seres humanos. E, em um tempo de desorientação moral como o nosso, o suporte de uma obra como o Calila mostra-se alentador.


(1). KELLER, J. E. & LINKER, R. El Libro de Calila e Digna. Madri, Consejo Superior de Investigaciones Científicas, 1967, p. XV. Sempre que citarmos somente El Libro de Calila e Digna, teremos em vista essa edição.

(2). Cf. El Libro de Calila e Digna, p. XVIII.

(3). VARGAS, Maria Valíria A. de M. “A fábula indiana e sua expansão para o ocidente”. Revista de Estudos Árabes, São Paulo, Centro de Estudos Árabes-FFLCH/USP, no. 4, p. 38.

(4). Ibidem, p. 37.

(5). El Libro de Calila e Digna, p. XVI.

(6). El Libro de Calila e Digna, p. XVII.

(7). Ibidem, p. 37.

(8). Ibidem, p. 38.

(9). São Paulo, Editora Ática, 1990, pp. 51-52.

(10). Op. cit., p. 50.

(11). PAES, J. P. op. cit., pp. 50-51.

(12). Ibidem, p. 51.

(13). LAUAND, Luiz Jean. Provérbios e Educação Moral – A Filosofia de Tomás de Aquino e a Pedagogia Árabe do Mathal. São Paulo, Hottopos, 1997, p. 13.

(14). Lauand, Provérbios e..., p. 13.

(15). Citado por Lauand in Provérbios e Educação Moral..., p. 101.

(16). PAES, J. P. op. cit., p. 51.

(17). Ibidem, p. 52. José Paulo Paes refere-se, aqui, ao Brasil. Entretanto, suas considerações têm caráter universal. Como bem salientou Lauand: “Neste mundo, é impensável uma experiência, comum no Oriente, como a narrada por Feghali: as saborosíssimas reuniões familiares, ao pé do fogo, repassando, por horas a fio, centenas de provérbios. Um jogo em que cada participante enuncia um provérbio, cuja formulação deve se iniciar pela última letra do provérbio anterior... Hoje, a influência ocidental no Oriente não se limita à implantação do consumo de agasalhos esportivos ou tênis: a dominação cultural tem levado também a um profundo desenraizamento do povo. E causa apreensão o frio registro de Freyha, ao prefaciar os mais de quatro mil provérbios árabes que recolheu: ‘Antes que eles desapareçam, o que deve ocorrer na próxima geração’”. “Os amthal na visão religiosa oriental do mundo” in Oriente & Ocidente: Provérbios Árabes, Centro de Estudos Árabes/DLO-FFLCH/USP, s.d., p. 56

(18). Lauand, Provérbios e..., p. 12.

(19). La Moralidad Colectiva (conferencia pronunciada en Madrid el 15-4-98 en el “Instituto de España”) in Notandum 2, Mandruvá, 1998, texto eletrônico : http://www.hottopos.com/notand2/la_moralidad_colectiva.htm.

(20). Provérbios e ..., p. 122.

(21). O que é uma universidade?, São Paulo, Perspectiva, 1987, p. 64.

(22). Citado por Lauand in O que é uma universidade?, p. 63.

(23). Lauand, O que é uma universidade?, p. 63.

(24). Entrevista – Aurora Cano Ledesma, São Paulo, Mandruvá, 1998, texto eletrônico: http://www.hottopos.com/collat2/escorial.htm.

(25). Lauand, Provérbios e Educação Moral..., p. 123.

(26). Calila e Dimna, Rio de Janeiro, Associação Cultural Internacional Gibran, 1975, p. xv.

(27). Cf. Lauand, Provérbios e..., p. 129.

(28). Lauand, op. cit., p. 129.

(29). Lauand, op. cit., p. 124.

(30). Lauand, op. cit., p. 132.

(31). Op. cit., p. 132.

(32). Projeto Provérbios para Escolas de Primeiro e Segundo Graus. São Paulo, Mandruvá, 1998, texto eletrônico: http://www.usp.br/fzea/zab/indice2.htm.

(33). Op. cit., p. 133.

(34). É o provérbio de número 946 da obra já citada de R. Lacaz-Ruiz.

(35). Ato IV, cena V. Texto eletrônico: http://the-tech.mit.edu/Shakespeare.

(36). Texto eletrônico encontrado em http://user.tninet.se/~dfr732s/show-off.html.

(37) .Op. cit.